MODERNIDADE LIQUIDA- Zygmunt Bauman
Sensibilidade e observação.
O autor traz consigo contribuições consideráveis sobre a sociedade atual em meio a cultura, as memórias , as ações e reações, mediante o que lhes é oportunizado em suas escolhas, ou aparentemente, escolhas.
Uma leitura, um resumo da obra para que nos colocamos a pensar, refletir e sempre que necessário, fazer uma releitura e repensar nossa vida em sociedade.
O que somos, o que fomos e onde vamos chegar, de acordo a "nossas escolhas".
Quem
quer que por ação ou omissão, participe do acobertamento ou pior ainda, da
negação a natureza alterável e constringente humana e não inevitável da ordem
social, notadamente do tipo de ordem responsável pela infelicidade é culpado do
conceito de imoralidade , de recusar
auxílio, ajuda a uma pessoa em perigo. De ser conivente de uma situação.
Tendo
por objetivo, revelar a possibilidade de viver em conjunto de modo diferente,
com menos miséria ou sem miséria: essa possibilidade diariamente subtraída,
subestimada ou despercebida. Não enxergar, não procurar e assim suprimir essa
possibilidade é parte da miséria humana, e fator importante em sua perpetuação.
A
revelação é o começo e não o fim da guerra da miséria humana e de que muitos
são coniventes.
Não
há escolhas de maneiras “engajadas” e “neutras” do fazer sociologia. Os
sociólogos só podem negar ou esquecer os efeitos de seu trabalho sobre as ações
humanas, singulares ou coletivas, ao custo de fugir à responsabilidade de
escolha que todo indivíduo enfrenta diariamente. E a tarefa consiste em assegurar que essas escolhas sejam verdadeiramente livres e
que assim continuem, cada vez mais, enquanto durar a humanidade.
Expressa-se
concretamente na política e na cultura, afirmando novas formas de organização
social e novos parâmetros de sociabilidade – contemporaneidade – tudo é fugaz,
efêmero, a era dos supérfluos na matéria. Não ao sentimento profundo, ao
vínculo.
O
líquido, diferentemente dos sólidos, não
mantém sua forma com facilidade. Os fluidos não
fixam espaço nem prendem o tempo, propensos a mutações, eles simplesmente: fluem, escorrem, esvaecem, respingam, transbordam, vazam, inundam,
pingam...
Quem quer uma sociedade
congelada, estagnada, resistente ao tempo?
Emancipação,
repúdio ao passado histórico, ao agrado, as tradições.
Esmagamento da armadura
protetora forjada de crenças e lealdades que permitiam que os sólidos
resistissem a liquefação.
E
como aperfeiçoar esse sólido – moldar – tornar-se alterável?
Os
tempos modernos encontram os sólidos pré-modernos em estado avançado de
desintegração - E como administrar isso - Que tal começar eliminando as
obrigações “irrelevantes” que impede a via de cálculo racional dos efeitos - a
família - e da densa trama das
obrigações éticas. As responsabilidades mútuas, deixando toda a complexa rede
de relações sociais no ar, desprotegida, impotente.
Um
campo aberto para a dominação, invasão
frente a uma operação suave e contínua.
P.10
Esse
derretimento levou a uma progressiva libertação da economia de seus
tradicionais embaraços políticos, éticos e sociais.
Ao
invés de uma sociedade dentro de um processo rígido, agora, livre de escolhas e
por causa dessa liberação, dessa flexibilização, da fluidez crescente, do
descontrole dos mercados financeiros, imobiliários, trabalhistas, agora desengajados,
onde articulam entre si o desejo de muda, virar a mesa, arriscar, soltar as
amarra. Um novo sentido em redirecionamento. P.13
Redistribuição
e relação de poderes em âmbito familiar, trabalhista e social.
Os
indivíduos foram libertados de sua velha gaiola para serem admoestados e
censurados, seguindo regras e modos de conduta tidos como apropriados e
corretos. P.13
Emancipação,
individualismo, organização tempo e espaço. Aspectos entrelaçados e
dificilmente distinguidos da experiência vivida pelo individuo.
Quando
a distância percorrida numa unidade de tempo passou a depender da tecnologia,
de meios artificiais de transporte, todos os limites, a velocidade do movimento
sejam eles existentes ou herdados,
poderiam, em princípio, serem transgredidos.
A
velocidade do movimento e o acesso a meios rápidos de mobilidade chegaram, nos
tempos modernos, a posição de principal ferramenta do poder e da
dominação. P.17
O
poder se tornou verdadeiramente extraterritorial, não mais limitado nem
desacelerado pela resistência do espaço. No espaço, contudo, pode haver
controle absoluto.
Fixar-se ao solo não é tão importante se o solo pode ser alcançado e
abandonado à vontade, imediatamente ou em pouquíssimo tempo. Por outo lado,
fixar-se muito fortemente, sobrecarregando os laços com compromissos mutuamente
vinculantes, pode ser positivamente prejudicial, dadas as novas oportunidades
que surgem em outros lugares. P.21
O
mundo deve estar livre de cerca, barreiras, fronteiras fortificadas e qualquer
rede densa de laços sociais, e em particular que estejam territorialmente
enraizados, intocável, é um obstáculo a ser eliminado. P. 22
Emancipação I
Ao
fim de três décadas gloriosas devemos nos emancipar, libertarmos dos grilhões,
da sociedade, do peso, do sólido.
Onde
haja a participação de todos.
Não
a meta mais sem a massa.
A
relutância do mundo, da sociedade em se submeter, em perceber o mundo “real”,
constrangedor, limitante e desobediente. Livre para agir conforme os desejos e
possibilidades, ampliando a capacidade de ação, onde as intenções passam a ser
experimentadas. P.24
Liberdade
subjetiva e liberdade objetiva – até onde posso , até onde quero, até onde
consigo, até onde terei livre arbítrio. Até onde preciso ir a fim de alcançar
tais objetivos, até então limitados a determinados grupos, assumindo os
resultados sejam eles favoráveis ou não!
P. 25
Uma
mudança como que por encanto, de riscos e de coragem, de vontade. Uma liberdade
“conquistada”. A liberdade tem um preço
a se pagar, querendo ou não assumir os riscos que lhe cabem, assim como as
responsabilidades.
Nasce
dessa emancipação o individuo que agora tem , age, estabelece e aparece. Tem
autonomia e age sobre ela. Porém, abandonado aos seus próprios recursos, onde
se submete à sociedade e essa submissão é a condição para sua libertação. P. 27
Há
de se considerar que a falta de limite , eficazes, torna a vida detestável,
brutal e curta.
A
coerção social é uma filosofia à força emancipadora. Padrões e rotinas impostas
por pressões sociais condensadas, despercebidamente traçadas, poupam essa
agonia, graças a monotonia e a regularidade de modos de conduta. (levemente/discretamente/lentamente)
A
rotina pode apequenar o individuo mas,
também pode proteger.
Submeter-se
a sociedade e seguir suas normas e a ausência ou falta de clareza nas normas é
a grande questão.
A
proposta é uma vida de impulsos e momentânea, de ações de curto prazo e
destituída de rotinas sustentáveis. Uma vida sem hábitos, destituídas de
passado e de futuro – uma modernidade fluida – uma existência desarraigada da
sociedade frente aquele que até então determinava seu comportamento e suas
ações. P.29
As
instituições estão dispostas a deixar a iniciativa individual, o cuidado com as
definições e identidades e os princípios
universais com os quais se rebelar estão em falta, em curso, sem amarras
determinantes e definidoras de identidades. E o que estão disponíveis para
recomendações são: camas de motel (prostituição), divãs (psicólogos), sacos de
dormir (andarilhos),a disposição das efemeridades sociais, das escolhas . p.30
Uma
sociedade que se diz livre de questionamentos e de justificativas.
Uma
análise complexa frente aos resultados dessas ações tornou-se irrelevante,
obsoleta e desnecessária. Inóspita para a crítica, que não abre espaço à
critica – um lugar aberto a todos, livre de escolhas e atitudes. P.31
Cada
indivíduo seguindo seu itinerário, sem atribuições, sem deveres, sem
questionamentos, sem satisfações, sem interferências. Sem espaço â
interferências.
Uma
profunda transformação do espaço público, agora dotado de leveza,
espontaneidade, fluido, permissivo. P.33
A
sociedade pesada da era capitalista, de Henry Ford, Karl Max, Focault - sistemática, impregnada de teorias
totalitaristas , onipresente, ameaçadora – uma verdadeira guerra santa a todas
essas anormalidades, abrindo espaço a era moderna, incluindo toda
espontaneidade e iniciativa individual, autonomia, liberdade que só a burguesia tinha, só a
elite.
O
panótipo, sobre a ótica de uma camêra as escondidas e o controle rigoroso,
atento a tudo e a todos . Lugar onde os limites da maleabilidade humana eram
testados – a palavra de ordem era desarmar e neutralizar, controlar e
direcionar. Então, surge uma teoria crítica, fluida, de auto firmação, do
direito de ser, de ter, de aparecer. P.34
A
modernidade sempre existiu, século após século, com os avanços. Porém a
modernidade fluida, compulsiva e obsessiva, inefreável e sempre incompleta é a
que estamos inseridos nos dias atuais.
A
busca constante e insaciável de uma criatividade destrutiva em nome de um novo e
aperfeiçoado projeto de desmantelar, defasar, reduzir o individuo.
O
que o homem faz o homem pode desfazer.
Estar
sempre à frente de si mesmo, ser incapaz de parar e ainda menos capaz de ficar
parado no tempo e no espaço. Uma identidade que só pode existir como projeto de
não ficar, de não realizado, incompleto, com muito ainda por fazer. P.37
É
complexo demais uma sociedade boa, sem conflitos, isso é passado ! Essa busca por equilíbrio agora é individual,
não mais social.
Astúcia,
vontade e poder são para as partes e não
para o todo. Para os fortes.
Se
espelhe em alguém , observe, seja criativo. Lute pelos seus ideais. Participe e
faça suas próprias escolhas.
No
mundo dos indivíduos há apenas outros indivíduos e meros exemplos a serem
seguidos, ou não! Assuma-se,
responsabilize-se, invista.
(celebridades são os exemplos)
p. 39
A apresentação dos membros como indivíduos é a
marca registrada da sociedade moderna. Essa apresentação, porém, não foi uma
peça de um ato: é uma atividade reencenada diariamente. A sociedade moderna
existe em sua atividade incessante de
“individualização”, assim como as atividades dos indivíduos consistem na
reformulação e negociação diárias da rede de entrelaçamentos chamada
“sociedade”.
A
sociedade dos indivíduos forma a individualidade de seus membros, e os
indivíduos formando a sociedade a partir de suas ações na vida, enquanto seguem
estratégias plausíveis, na rede socialmente tecidas de suas dependências.
A
apresentação dos membros como indivíduos é a marca registrada da sociedade
moderna, reencenada diariamente, incessantemente, reformulada e renegociada na
rede de entrelaçamento chamada “sociedade”. O indivíduo faz parte da sociedade,
portanto é preciso se inserir, tornar-se, fazer parte, agir compulsivamente.
Aderir, emancipar-se. P.40
A
individualização já não é uma escolha, é uma fatalidade. P.43
Não se engane: agora, como antes – tanto no estágio leve e
fluido da modernidade quanto no sólido e pesado -, a individualização é uma
fatalidade, não uma escolha. Na terra da liberdade individual de escolher, a
opção de escapar a individualização está decididamente fora da jogada. P.43
As
que ficam doentes foi por indecisão, por
falha.
Se
ficam de fora foi por escolha, incompetência, porque não se esforçaram o
suficiente. Colocando no indivíduo a responsabilidade, a culpa pelo fracasso.
Oportunidades,
a vida possibilita ! Basta querer ! Acredite!
O
indivíduo é corresponsável por suas escolhas e consequentemente pelos
resultados, pelos riscos enfrentados solitariamente. E manuais de instruções é
o que não faltam. Dicas de sobrevivência são repassadas pela mídia, pelos meios
de comunicação quase que diariamente, todavia, a ferramenta é você. Agora, se
vai saber usá-la, só o tempo dirá.
Na
terra da liberdade individual de escolher a opção de escapar á individualização
e de se recusar a participar desse “jogo” está decididamente fora da
jogada. Imposição, não! DIRECIONAMENTO.
Não
há espaço para uma sociedade pública, com espaços públicos, onde o coletivo
está em questão. Fragmentou-se, cada qual seguindo seu rumo.
As
únicas duas coisas úteis que se espera e se deseja do “poder público”, onde o
coletivo está em questão, são que eles observem os “direitos humanos”, isto é,
que permita que cada indivíduo siga seu próprio caminho, e que permite que todos os faça em “paz”, protegendo
a segurança de seus corpos e posses.
P.45
INDIVIDUALIDADE II
Nas
novas circunstâncias, os fins justificam
os meios. O mais provável é que a maior parte da vida humana e a maioria das
vidas humanas consuma-se na agonia quanto á escolha dos objetivos, e não na
procura dos meios para os fins , que não exijam tanta reflexão. Isso, ao
contrário de seu antecessor, um capitalismo leve, tênue, a ser obcecado por
valores. P.73
Não
é mais o caso de tentar sem ter o conhecimento completo, calcular os meios em
relação a determinados fins. E o que
está em pauta é a questão de considerar e decidir, em face de todos os riscos
conhecidos ou meramente advinhados – quais dos muitos e flutuantes fins – dada
a quantidade de meios disponíveis e levando em conta , em consideração as
ínfimas chances de sua utilidade duradoura.
P.73
Viver
num mundo cheio de oportunidades, cada uma mais apetitosa que a outra, mais
atraente, mais sedutora que a anterior. Cada uma compensando a anterior e
preparando terreno para a mudança, para a seguinte, para a próxima. Uma
experiência divertida... para que as possibilidades sejam infinitas,
inesquecíveis.
Nenhuma
deve ser capaz de petrificar-se na realidade, de parar no tempo, que seja para sempre.
Melhor
que sejam liquidas e fluidas e tenham “data de validade”, caso contrário,
poderão excluir possibilidades/oportunidades remanescentes e abortar o embrião
da próxima aventura. P. 74
AQUI
REMETE A PAULO FREIRE - UM SER INACABADO ...
“Você
não é mais livre quando chega ao final, você não é você mesmo que tenha se tornado
alguém”. Estar inacabado, incompleto e
subdeterminado são estados cheio de
riscos e ansiedade, mas seu contrário também não traz um prazer pleno, pois
fecha antecipadamente o que a liberdade precisa manter aberto.
A
consciência de que a vida continua, de que muito ainda vai acontecer e o
inventário das maravilhas que a vida pode oferecer são muito agradáveis e satisfatórios.
(...) Tudo, por assim dizer, corre agora por conta do indivíduo.
Cabe ao indivíduo descobrir o que é capaz de fazer, esticar essa capacidade ao
máximo e escolher os fins a que essa capacidade poderia melhor servir – isto é,
com a máxima satisfação concebível. Compete ao indivíduo “amansar o inesperado
para que se torne um entretenimento”.
Viver num mundo cheio de oportunidades – cada uma mais apetitosa e
atraente que a anterior, cada uma “compensando a anterior e preparando terreno
para a mudança, para a seguinte” – é uma experiência divertida. P.74
Não
surpreende que não se escrevam distopias – estados de opressão , desespero,
privações, nesse tempo liquido, fluido. No mundo de produção atual, diferente
da era Fordiana, sólida, do capitalismo pesado, onde poucos ditam as leis, onde
havia estoque, trabalho, capital, planejamento, no caso, o mundo moderno, liquido,
instável, dos indivíduos que escolhem sua liberdade e que não mais se ocupam do
sinistro grande irmão, que puniriam os que saíssem da linha. Parece não haver
mais punição, retração. Agora tudo pode tudo deve ser feito, retomando o tão exaltado
Carpe Diem. Viver intensamente o hoje!
Os
lideres demandam e esperam disciplinar, pensam e agem em prol do individual e
do coletivo.
Tudo
por assim dizer, corre agora por conta do indivíduo. Compete a ele assumir,
amansar o inesperado, driblar suas escolhas, para que se torne um
entretenimento. Viver um mundo cheio de oportunidades onde poucas são as
pré-determinações e menos ainda irrevogáveis. Os fins coerentemente se
equivalem aos meios, mas os próprios fins não são escolhidos racionalmente, nem
mesmo as escolhas, se pararmos para pensar...
O
capitalismo pesado se foi, as leis que antes ditavam já não existem mais, agora
é leve, fluida, amigável, deu lugar e espaço a autoridades em numero tão grande,
em tamanha proporção que não há mais espaço a exclusividade. E quando há muito
“cacique” permanece aquele que mais convence. Aqueles com maior poder de
investimento no mercado. Os detentores de poder. P. 76
Com
toda essa mudança vieram os desmantelamentos das redes normativas e protetoras.
Perdeu-se o equilíbrio emocional, financeiro, familiar, abrindo espaço ao
consumismo desenfreado, aberrações, desejos, autonomia e liberdade de ação.
Livres para pensar e agir, sem muito envolvimento, sem vínculos. P. 77
Se
o indivíduo é livre ele assumirá as consequências pelos seus atos e escolhas. E muitos pensadores influentes advertem sobre
a possibilidade de que a “esfera privada” seja invadida, conquistada e
colonizada pela “esfera pública”. P.
82
Um
palco em que dramas privados são encenados, publicamente expostos e
publicamente assistidos. Cm chance a atenção à vida alheia, “deixe me ver onde
ele está?” ou “como ele está?” E muitas
vezes , na maioria das vezes, o alheio quer se mostrar, quer mesmo que saibam,
quer se mostrar, quer aparecer, quer ser admirado, aplaudido, quer ser
observado em suas escolhas. Um ciclo
vicioso, a constante busca pelo
diferencial . p.83
As
condições de vida em questão levam o individuo a buscar exemplos para si. O
olhar atento ao outro captando mínimas atitudes, não importa muito qual a razão
da “notoriedade” o importante é ter notoriedade, é tornar-se célebre.
Procurar
exemplos, conselhos, informações e ou orientações é um vício e quanto mais se procura, mais se
precisa, mais se sofre quando privado de novas doses da droga procurada. Como
meio de aplacar a sede, todos os vícios são autodestrutivos; destroem a
possibilidade de se chegar à satisfação. P. 85
No
mundo dos consumidores, as possibilidades são infinitas e o volume de objetivos
sedutores e à disposição, este nunca poderá ser exaurido.
As
receitas para a boa vida e os utensílios que a elas servem tem “data de
validade”, mas muitos cairão em desuso, bem antes desta data, apequenados,
desvalorizados e destituídos de fascínio, pela competição de ofertas “novas e
aperfeiçoadas”. Na corrida dos
consumidores, a linha de chegada se move mais veloz que o mais veloz dos consumidores
- então, a satisfatória consciência de permanecer na corrida que se torna o
verdadeiro vício – e não, algum prêmio que à espera dos poucos que cruzam a
linha de chegada. O desejo se torna seu
próprio propósito e o único propósito não contestado e inquestionável. P.86
Tudo
numa sociedade de consumo é uma questão de escolha – a compulsão que evolui até
se tornar um vício e assim não é mais percebida como compulsão.
A
busca ávida e sem fim por novos exemplos aperfeiçoados e por receitas de vida é
também uma variedade do ato de comprar. Seguramente nossa felicidade está
associada à nossas competências pessoais ou não competentes como deveríamos
ser, são os resultados, os fins que justificam os meios, que delimitam em que
grau de competência os indivíduos estão.
Consumo
para mostrar, para atrair olhares, para convencer, para conquistar, para me
diferenciar – fins ostensivamente infinitos – infindas e indefinidas
possibilidades.
Consumo
para adentrar no mundo irreal, fantasioso.
P.88
O
consumismo não diz respeito a necessidade, mas sim a adequação, ao desejo –
entidade volátil, efêmera, evasiva e caprichosa - Auto gerado e auto propelido – impulsividade
– insaciável – o indivíduo expressa a si mesmo através de suas posses, um
estimulante mais poderoso e acima de tudo ais volátil é o querer, necessário
para manter a demanda do consumidor no nível da oferta. O querer é o substituto
necessário, ele completa a libertação do princípio do prazer.
A
vida organizada em torno do consumo está orientada por desejos, a ideia é fazer
dos luxos de hoje as necessidades do amanhã. Despertando no indivíduo o
“querer”, o ter pra si, usufruir, vivenciar, aproveitando as oportunidades
assim ofertadas. P.90
Na
saúde, ser saudável significa , ser capaz de, ser empregável , estar apto para
fazer, trabalhar. Daí, algumas empresas promoverem momentos , períodos, espaços
para exercícios dentro dos horários de trabalho, estabelecendo mudanças de
hábitos continuamente, a fim de promover saúde para o indivíduo, em meio as
condutas de regimes e dietas.
Quando
muitas pessoas, simultaneamente, caminham na mesma direção há de se perguntar,
há de se questionar : atrás de que?
Atrás do que estão correndo? E assim se conjectura os temores do campo
perfeito. Das sensações, dos delírios, do prazer, bem estar, prometidas e ou
induzidas por determinados grupos frente a seus interesses, suas intenções
. p. 97
Vívidos
momentos de realizações.
A
identidade experimentada, vivida, só pode se manter unida com o adesivo da
fantasia. O sonhar acordado. Explorando sem compromisso, sem sofrer
consequências, sem se enraizar, sem absorver, apenas experimentar - Seja uma viagem, seja estar numa rede de
lojas, um restaurante, um hipermercado – o que interessa , a busca é por sair
da realidade, é ir além .
Todos
únicos, todos singulares, individualizados, independentes e autônomos. P.99
Essa
liberdade não funciona sem dispositivos, mecanismos e substâncias
disponibilizadas pelo mercado. A vida desejável tende a ser a vida vista nos
meios de comunicação, mediadas por imagens, sons e sensações, criando uma
ilusão de ótica, uma fantasia, um querer também. Um formidável poder que
exercem sobre a imaginação do indivíduo.
Lugares
poderosos, mais reais que a própria realidade, mediados, minimamente calculado
frente a necessidade do indivíduo quanto das coisas. Ambos perderam sua solidez
na sociedade moderna, sua definição e continuidade.
O
constante aperfeiçoamento do produto, o esforço de associá-lo ao status
social, deliberada estimulação de um
apetite insaciável , ilimitado por mudanças, pelo novo, pelo mais atualizado .
Num mundo em que as coisas deliberadamente instáveis são a matéria prima das
identidades e que são necessariamente instáveis, onde mudanças bruscas
acontecem a uma velocidade que muitas vezes se perde no tempo e no espaço. A
mudança abrupta de uma sociedade de
estilo panótico para o estilo sinóptico, onde se pode ter uma visão ampla, não
do todo, mas detalhadamente das partes que o compõem. P.101
A
obediência a padrões flexíveis, alcançados pela tentação, pela sedução e não
mais pela coerção, aparecendo sobre o disfarce do livre arbítrio, em vez de
revelar se como força externa.
O
desejo de revolução, de revelações e
revelações dos desejos dão a aparência de autenticidade mesmo quando a própria
possibilidade de autoridade está em questão.
P.101
No
mundo pós moderno todas as distinções se tornam fluidas, onde os limites se
dissolvem – o retrato da autenticidade publicamente construído/produzido pode
ser verdadeiro , convincente, num estado contínuo de construção e reconstrução
identitária. Num mundo de incertezas, numa sociedade onde muito observam
poucos. Sinóptico. E quanto maior a
sedução, maior a liberdade de escolha, maior o desejo e maior o querer. Tanto
mais irresistível se torna o desejo de se igualar, de experimentar, de
vivenciar, estar inserido nesse contexto.
P.104
Tanto
mais a vida sem escolhas parece insuportável para todos. Uma corrida contra o tempo , tamanha
velocidade com que tudo acontece. E com o excesso de oportunidades, pois são
muitas e variadas, se bem sucedidas sim, caso contrário, crescem as ameaças de
desestruturação, frustação, fragmentação e desarticulação.
A
tarefa da auto identificação , de se afinar e se reafirmar perante um
determinado grupo, tem efeitos colaterais destrutivos. E como a tarefa
compartilhada por todos deve ser , tem
que ser realizada por todos, por cada um, sob condições inteiramente diferenciadas
e isso divide as situações humanas, delimita, desunifica, fragmenta. Isso gera
conflitos e dispara energias mutuamente incompatíveis. P.106
Esse
controle social se dá em vários aspectos, até mesmo nas comunidades.
A
busca constante e incessante por segurança local faz com que o indivíduo corra
em busca de condições favoráveis de moradia,
segurança local, maior comodidade e conforto. Diferenciais que vão além
das necessidades, da realidade. Isso faz com que se busque espaços isolados,
afastados e mais uma vez a fragmentação acontece. Considerando que uma cidade é
um assentamento humano em que estranhos tem chance , tem oportunidades de se
encontrar, todavia, muita proximidade não é o ideal. Daí a oportunidade de na
“insegurança”, afastar, dividir, redirecionar, mais uma vez fragmentar. P.106
TEMPO
E ESPAÇO III
O
estar junto na visão política não é o ideal.
O fragmentar sim é o ideal.
O
meio urbano é civil, um espaço de troca, porém se falta hospitalidade não
possibilitará ao indivíduo ficar a vontade e faz com que sua passagem por ali,
e por muitos outros locais seja rápida, sem muita afinidade, sem a
possibilidade de criar vínculos, de se enraizar. Destituídos de poder e direitos. P. 113
Aparentemente
de todos e para todos, assim são inúmeros locais, museus, ruas, praças, órgão
públicos, hospitais, porém com autocontrole e domínio privado – fazendo com que
o indivíduo, a sociedade cuide, zele e acredite ser seu. È de todos, é pra
todos, mas tem domínio, controle. Um bem comum que não pode ser reduzido ao
agregado, passivo de propósitos individuais, compartilhado, sem ser exaurido de
iniciativas individuais.
Há
também o espaço público não civil, porém compartilhado, destinado a servir os consumidores, são eles
os teatros, áreas de esportes, salas, shoppings, pontos/locais turísticos onde
o foco é a ação, e há uma quantidade de indivíduos que passam por ali,
individualmente envolvidos. Sendo a tarefa o consumo e o consumo é um
passatempo absoluto e exclusivamente individual. Uma série de sensações que só podem ser experimentadas e vividas,
subjetivamente – agregadas, breves e superficiais – o templo do consumo bem
supervisionado, vigiado e controlado.
P.114
O
equilíbrio quase perfeito de liberdade e segurança.
O
sentimento reconfortante de pertencer, de fazer parte dessa comunidade – essa
comunidade não envolve negociações, nem esforço pela empatia, compreensão e
concessões – diferentemente de uma realidade – do que presenciamos no nosso dia
a dia, junto àqueles que fazem parte do nosso espaço, do nosso convívio - família, amigos, vizinhos, comunidade,
sociedade. P.116
De
acordo a Levi Strauss a sociedade dividi-se em antropoêmica e antropofágica, a
primeira ao aniquilamento, ao exílio, ao estar só consigo mesmo, à impedir o
diálogo, o contato físico, a interação social, alheio ao outro . Já a segunda
escolha se dá pela suspensão ou aniquilação de sua identidade, de se colocar no
lugar do outro não é por acaso que o medo do estranho, do estrangeiro cresceu,
a medida que essas pessoas ou comunidade foram se afastando “não converse com
estranhos “ ou “esteja sempre por perto”
são ditos populares fruto dessa visão, com isso perdeu-se o direito a troca, a sociedade ganhou camêras
de vigilância instaladas por toda parte
e o medo acentuou-se na sociedade, perdendo o direito a interação, deixando de
criar vínculos – de ter a capacidade de interagir com o outro – sendo isto uma
“arte” que requer estudo e exercício.
A
incapacidade de enfrentar a pluralidade de seres humanos e a ambivalência de
todas as decisões classificatórias, ao contrário, se auto perpetuam e reforçam,
quanto mais perspicazes, mais eficazes à tendência a humanidade e o esforço
para eliminarem as diferenças, tanto mais difícil sentir-se a vontade em
presença de estranhos, tanto mais ameaçadora a diferença, tanto mais interesse
a ansiedade que ela gera, tanto mais estudos, exercícios e esforços.
Tanto
mais se descobre a relação causa e efeito, tanto mais se investe.
Isolamento
– Individualismo. P.123
Como
a ideia de bem comum, socializar-se, cria vínculos com aqueles que estão a sua
volta é vista como ameaçadora, insensata, indevida, improvável. Conduzindo a
sociedade a estar confinados – espaços fechados, isolados, fora de sua
realidade. P.125
Assim
surgem dia após dia, comunidades postuladas, reivindicando seus próprios
“nichos na sociedade” e que inventam cuidadosamente suas próprias raízes, sua
cultura, sua tradição, seus hábitos.
Esforços
para manter a distância, o “outro”, o diferente, o estranho, o estrangeiro e a
decisão de evitar a necessidade de comunicação, negociação e compromisso mútuo,
não são as únicas respostas concebíveis a incerteza existencial enraizada na
nova fragmentada, fragilidade, fluidez dos laços sociais.
“Não
fale com estranhos” – outrora uma advertência de pais zelosos a seus filhos,
hoje se tornou o preceito estratégico da normalidade adulta , reafirmando como
regra de prudência a realidade de nossas vidas em que os estranhos são pessoas
com quem nos recusamos a falar. P. 127
Os
governantes impotentes para atacar as raízes da insegurança e ansiedade de seus
súditos, estão bem dispostos e felizes com a situação. Não há interação, não há
troca, não há informação, não há comoção. E o resultado é estar a frente de uma
a sociedade pura, fragmentada, cada qual com seu grupo, desengajada, livre,
fraca, solitária, fragilizada. P. 127
De
acordo a Benjamin Franklin “tempo é dinheiro”, definindo o individuo como o
animal racional que faz ferramenta , e se assim o faz, faça bom uso. P.130
O
tempo se torna dinheiro depois de ser tornado uma ferramenta, ou uma arma por
assim dizer, voltada principalmente para vencer a resistência do espaço,
encurtar as distâncias, tornar exequível a superação de obstáculos e limites à
ambição humana.
Quantas
viagens foram possibilitadas por meio dessas ferramentas? Quantas pessoas foram
atingidas por meio dessas ferramentas? Quantas mais, quantas possibilidades.
Com
o advento do vapor e do motor, uma explosão de ideias - um facilitador - a
possibilidade de chegar onde quer que queiram e rapidamente e com segurança e
conforto .
Na
era dos motores quem viajasse mais depressa podia reivindicar mais territórios,
e controla-los e mapeá-los e supervisioná-los. O tempo acomoda tudo, traz
conhecimento, promove experiências.
Pode
se considerar o começo da era moderna as várias facetas das práticas
humanas. P. 131
A
relação entre tempo e espaço emancipatório, mutável e dinâmico.
Descartes
já dizia “ penso logo existo” e Rob Shieldes “ ocupo espaço, logo existo” e de
acordo a Michel de Certeu “poder , consiste em territórios e fronteiras” já
Chesswell afirma que “as armas dos fortes são: classificação, delineamento e
divisão”.
Essa
foi a era das maquinas pesadas “quanto mais melhor, quanto maior melhor”
tamanho é poder, volume é sucesso. A conquista do espaço era o objetivo
supremo.
Riqueza
e poder de tamanho e qualidade tendem a serem lentas, resistentes e complicadas de mexer.
Exige ação a longo prazo. Crescem ocupando o lugar e protegem-se, protegendo este lugar. P. 133
A
lógica do poder e a lógica do controle estavam estritamente ligadas entre o
dentro e o fora . O tempo para o trabalho era flexível, o tempo para
colonização e fortificação do indivíduo dentro do espaço conquistado era
inflexível, rígido e uniforme – controle absoluto sobre o individuo - Um
casamento sólido entre o indivíduo , o capital e o trabalho.
Com
o advento do capitalismo, do software, da modernidade leve, de formas
organizacionais mais soltas, flexíveis, voláteis, onde o espaço é livre.
O
tempo instantâneo e sem substâncias, múltiplo, complexo e rápido – num universo
de viagem a velocidade da luz , onde o espaço pode ser atravessado literalmente
a esta velocidade, não impondo mais limites a ação e seus efeitos, com isso
perdeu seu valor estratégico. A
estratégia agora consiste não mais no domínio do tempo e espaço mas sim do
indivíduo.
A
leveza e a infinita volatilidade e flexibilidade da agência humana.
Instantaneidade, essa é a palavra chave.
P. 138
O
domínio agora está nas mãos de pessoas. Em nossa própria capacidade de escapar,
de nos desengajarmos, de estar em “outro lugar” e no direito de decidir sobre a
velocidade com que isso será feito e ao
mesmo tempo de destituir os que estão do lado dominado e de sua capacidade de
parar ou de limitar seus movimentos ou ainda , torna-los mais lentos.
A
batalha crucial é travada entre forças que impunham respectivamente as armas da
aceleração e da procrastinação. Quanto mais ágil, maior o efeito. P. 139
O
acesso diferencial , a instantaneidade é
fator crucial, preponderante, entre as versões correntes do fundamento
duradouro e indestrutível das divisões sociais em todas as suas formas ,
historicamente cambiantes. O acesso diferencial a imprevisibilidade e, portanto
a liberdade. P.139
A modernidade leve permitiu que um dos parceiros saísse da gaiola. A
modernidade “sólida” era uma era de engajamento mútuo. A modernidade “fluida” é
a época do desengajamento, da fuga fácil e da perseguição inútil. Na
modernidade “liquida” mandam os escapadiços, os que são livres para se mover de
modo imperceptível. P.140
E
assim se constituíram as modernidades , pesada, capital, trabalho e dominação.
Sólida, a era do engajamento mítico. Fluida, a era do desengajamento, da fuga
fácil, da perseguição inútil e a modernidade líquida, onde mandam os mais
escapadiços, os que são livres param se mover de modo imperceptível.
Volume
e tamanho deixaram de serem recursos e passaram a se tornarem riscos. Se a
ciência da administração centrava-se em conservar a mão-de-obra e forçá-la,
subordiná-la, hoje, a arte da administração consiste em afastá-los, manter
afastada a mão de obra humana. Forçá-los a saírem e assim serem substituídos
por máquinas, softwares, muito mais fáceis de acomodar, para coordenar, deixando de lado
a tarefa exaustiva do gerenciamento.
P.141
Encontros
breves substituem engajamentos duradouros.
Fusões
e redução de tamanho não se contrapõem. A fusão pronuncia uma corda mais longa
para o capital esguio e flutuante – o capital , ganha mais campo de manobra. A
redução de tamanho ganha espaço, maior mobilidade, propulsão e deslocamento
fácil e auto acelerado / agilidade e o medo de perder o jogo da competição fica
para os fracos, os pequenos os desafortunados, ou melhor, aqueles que não
tiveram competência para tal – o maior não se traduz pelo mais eficiente , o
melhor sim, é o mais eficiente. P. 143
Um
jogo global onde se arrisca, coloca-se
numa rede de possibilidades. Se jogar, e claro !
A
era do desapego, nada de compromisso duradouro.
A
era do individuo destemido, determinado, imediatista, intenso. Carpe Diem
Uma
viagem onde o ilimitado das sensações possíveis ocupa o lugar que era ocupado
nos sonhos, pela duração infinita. E nessa viagem os trilhos continuam a serem
desmontados e remontados a medida que a locomotiva avança e as marcas da
montagem vão sendo apagadas, sem deixar rastros, rapidamente, instantaneamente.
Na mesma rapidez , com a mesma facilidade, com a mesma velocidade com que foram
montadas. P. 144
A indiferença em relação à duração transforma a imortalidade de uma
ideia numa experiência e faz dela um objeto de consumo imediato: é o modo como
se vive o momento que faz desse momento “uma experiência imortal”. CITAÇÂO
P.144
A instantaneidade (a anulação da resistência do espaço e liquefação
da materialidade dos objetos) faz com que cada momento pareça ter capacidade
infinita; e a capacidade infinita
significa que não há limites ao que pode ser extraído de qualquer momento – por
mais breve e “fugaz” que seja.
P. 145 CITAÇÂO
A
questão agora é encurtar o espaço de tempo da durabilidade, de esquecer o longo
prazo, de focar na manipulação de transitoriedade ao invés da durabilidade, de
dispor levemente das coisas para abrir espaço para outras igualmente
transitórias e que deverão ser usadas instantaneamente, consiste no privilégio de poucos afortunados,
e que faz com que estejam sempre acima.
Manter
as coisas por longo prazo, produto, emprego, vínculo com o futuro, para além de
seu prazo de descarte e para além de seus substitutos novos e aperfeiçoados
estiverem em oferta, é ao contrário, sintoma de privação, ou seja, torna-se
inviável. P. 146
A
desvalorização da instabilidade não pode senão anunciar uma rebelião cultural.
Decisivamente o marco mais decisivo na história cultural humana. Consiste em
peneirar, sedimentar, consolidar duras sementes de perpetuidade a partir de
transitórias vidas humanas e de ações humanas fugazes, em invocar a duração a
partir da transitoriedade, a continuidade a partir da descontinuidade e assim
transcender os limites impostos pela mortalidade humana, utilizando homens e
mulheres mortais a serviço da espécie humana mortal.
A
nova instantaneidade do tempo muda radicalmente as modalidades de convívio
humano, tanto pessoal quanto coletiva. P.147
Credibilidade
é um recurso valioso.
Atribuição
da confiança é uma ferramenta, é a arma mais zelosa.
A
escolha racional na era da instantaneidade significa buscar a gratificação,
evitando as consequências e particularmente as responsabilidades que em
consequências podem implicar. Traços duráveis de gratificação de hoje hipotecam
as chances de gratidão do amanhã. A duração deixa de ser um recurso para
tornar-se um risco; o mesmo pode ser dito de tudo que é volumoso, sólido e
pesado – tudo o que impede ou restringe o movimento. P. 148
Na
visão de Gui Debord ”os homens se parecem mais com os seus tempos que com seus
pais”. O advento da instantaneidade conduz o indivíduo a um território não
mapeado e não explorado, E esse indivíduo insiste em querer esquecer o passado,
e não parece mais acreditar no futuro – mas a memória do passado e a confiança
do futuro foram os pilares em que se apoiavam as pontes culturais e morais,
entre a transitoriedade e a durabilidade, a mortalidade e a imortalidade. P.149
TRABALHO IV
A
autoconfiança moderna deu um brilho todo novo, inteiramente novo a eterna
curiosidade humana sobre o futuro.
O
futuro era visto como os demais produtos numa sociedade de produtores; profetas
e pensadores, alguma coisa a ser
pensada, projetada e acompanhada, em seu processo de produção. O futuro
era a criação do trabalho e o trabalho era a fonte de toda a criação.
Toda
sociedade hoje está conscientemente comprometida com o crescimento e
planejamento sócio político, por uma nova metodologia que promete oferecer
fundamentos mais confiáveis para alternativas e escolhas.
Para
dominar o futuro é preciso estar com os pés firmemente plantados no presente. O
progresso remete a autoconfiança do presente. Todavia, essa solidez num mundo
em constante transição está perdendo sua soberania, sua credibilidade e sua
confiabilidade.
O
poder de fazer as coisas, o poder de estimular as pessoas, perdeu-se no espaço
e no tempo – O centro do controle
tornou-se oculto; nunca mais será ocupado por um líder conhecido ou por uma
ideologia clara. P. 154
Estamos
na era das incertezas, inseridos numa sociedade emancipada, donas de suas
escolhas, responsáveis por elas.
O
progresso não é mais uma medida temporária, e sim uma questão transitória que
leva eventualmente, e logo, a um estado de perfeição. Mas um desafio e uma
necessidade perpétua e talvez sem fim, o verdadeiro significado de
permanecermos vivos e bem.
Agora
individualizado, mais precisamente, desregulado e privatizado. Livre
competição, disputa, porém não coletivo, individualizada. São homens e
mulheres que a suas próprias custas
deverão usar individualmente seu próprio juízo. Com otimização de recursos,
garantindo trabalho e ou empregabilidade para elevar-se a uma condição mais
satisfatória – para sua própria sobrevivência, se tornando o centro do seu
próprio planejamento pessoal e condições de vida. De fato é preciso escolher e
mudar a própria identidade pessoal e assumir os riscos de fazê-lo.
P. 156
Ancorando
um presente instável e transitório.
O
“trabalho” assim compreendido era a atividade que se supunha que a humanidade,
como um todo, estava envolvida por seu
destino e natureza, e não por escolha.
Hoje,
na modernidade liquida, os trabalhos humanos se dividem em episódios isolados
como o resto da vida humana. E, como no caso de todas as outras ações que o
indivíduo pode empreender, o objetivo de
manter um curso próximo a projetos dos atores é evasivo, talvez inatingível.
O
trabalho escorregou do universo da construção, da ordem e do controle do futuro
em direção do reino do jogo, onde atitudes de
trabalho se parecem mais com as
estratégias de um jogador que se põem
modestos objetivos de curto prazo, não antecipando mais que um ou dois
movimentos. O que conta são os efeitos imediatos de cada movimento,
direcionando as próximas ações.
O
trabalho não pode oferecer eixo seguro em torno do qual envolva e fixa auto
definição, identidades e projetos de vida.
P. 160
Privilégio
prestigio e honra em prol de si, para si, não mais do que pelas partes.
Do
coletivo para o individual. Agora cada qual pensando em si, garantido pra si.
Poucas
pessoas apenas, e mesmo assim raramente, reivindicam tais objetivos gerados
pelo trabalho que realizam.
A
pessoa é medida e avaliada pela sua capacidade de entreter e alegrar,
satisfazendo não tanto a vocação ética do produtor e criador quanto às
necessidades e desejos do consumidor que está em busca, a procura de sensações
e coleciona experiências. E a grande transformação que trouxe à vida a nova
ordem industrial, emancipatória. P. 161
Foi
a separação dos trabalhadores de suas fontes de existência, agora , fontes de
subsistências – sem vínculos, sem estabilidades, livres , desconectados – parte
da alegre sensação da libertação – autônomo, autodeterminado e livre para estabelecer
seus próprios desígnios. P. 163
A
mentalidade, em longo prazo, presumia mútuo engajamento, direto, face a face,
de capital e trabalho, uma expectativa nascida das experiências das pessoas que
compram e das pessoas que vendem. Entrelaçada, abrangendo os interesses de
todos. Uma troca aceitável, solidificada, onde senhores e serviçais se
entendiam, cada qual com seus interesses. O proletariado, o trabalho, á fim de
garantir o sustento. Os donos das grandes fábricas, a linha de produção. Às
vezes por acrimonia, indelicadeza, aspereza, confronto. Por vezes, por acordos
e concessões.
A
mentalidade em curto prazo, emancipatória, flexibilizada é o slogan, anunciando
mudanças socioculturais e o fim de um casamento solidificado pelo tempo, o
advento do trabalho por contrato duradouro, o fim da estabilidade, a
desregulação social e econômica. P. 170
A
presente visão liquefeita, fluida, dispersa, espalhada e desregulada da
modernidade pode não implicar o divórcio e ruptura final da comunicação, mas
anuncia o capitalismo leve e flutuante, marcado pelo desengajamento e
enfraquecimento dos laços que prendem o capital do trabalho.
Desse
movimento ecoa a passagem do casamento ara o “vive junto” com todas as atitudes
disso decorrentes, consequências estratégicas, incluindo a suposição de
transitoriedade, da coabitação e da possibilidade onde a associação seja
rompida, se conveniente for, a qualquer momento, e por qualquer razão, uma vez
desaparecida a necessidade e o desejo.
P. 171
Estar
livres de laços complicados, compromissos embaraçosos e dependências limitadoras
da liberdade de manobra, serão sempre as armas preferidas e eficazes da
dominação.
A
velocidade do movimento se tornou um fator relevante, talvez a principal da
extratificação social e da hierarquia da dominação – classificação das pessoas
em grupos , com base nas condições sócio econômicas comuns - , sempre
observando quem está no topo e quem faz parte da base.
Terras
habitadas por estrangeiros, na mãos daqueles que apresentam melhores condições,
os afortunados, dominando o tempo e os espaço, com melhores oportunidades que
os verdadeiros donos, tirando proveito de uma liberdade conquistada pela
condição. Capital estrangeiro.
Tendo
se livrado do entulho do maquinário volumoso e das enormes equipes de fábrica,
o capital leve, apenas com a bagagem de mão – pasta, computador e celular – e
um espaço para se comunicar. Uma grande ideia, este é o produto e o foco
consiste no consumidor, naqueles que irão gerar o capital , alimentar, se lançar, absolver, tirar proveito dessa
grande ideia , fortalecendo assim a demanda pelas ideias em oferta.
A
ferramenta é o individuo, sua criatividade, sua ideia, e é ele quem vai
torna-la fonte de consumo, desejável, vendável. Assim como é o indivíduo que
vai adquirir, possuir, comprar tal ideia.
P. 174
A
mão de obra, a matéria prima, o maquinário de fácil acesso e manipulação,
infiltrados numa sociedade de valores voláteis, despreocupada com o futuro,
egoísta, hedonista, emancipada e autônoma.
A
organização, seja ela capital, seja ela social, de hoje, apresenta um elemento
de desorganização, deliberadamente embutido, organizaçoes estas que possam ser
formadas, desmanteladas e repostas rapidamente, instantaneamente, a curto
prazo. Quanto menor solidez e maior fluidez, melhor. P. 178
Digressão,
procrastinação – desvio momentâneo do hoje, do aqui, do agora - Deixar para
depois, para outro dia . O tempo presente carece de sentido, de valor, tido
como falho, deficiente e incompleto. O
sentido do presente está adiante, uma corrida abrupta e inexplicável contra
tempo - a ânsia pelo amanhã.
Vive-se
a vida como peregrinação e obriga cada presente a servir a alguma coisa que
ainda não é – que parece vir a ser – trabalhando para a proximidade e a
imediatez dessa coisa, desse momento .
Uma
busca por algo que parece estar logo a frente, e fazendo com que o indivíduo
deixe para trás o aqui e agora, deixando para depois o que precisa ser visto,
ser vivenciado hoje . Um movimento que aproxima do objetivo, mas que não o
alcança. Cada presente é validado por alguma coisa que vem depois.
Procrastinar
e manipular as possibilidades do presente, deixando , manipulando, adiando,
inconscientemente, mantendo-o a distância, transferindo sua imediatez.
O
sentido do presente está a frente, na forma de adiantamento da situação . Arar
e semear acima de colher e ingerir o produto, um dito popular “o cavalo na frente dos bois”, o investimento acima do lucro, a poupança, a
reserva acima do gasto. Primeiro eu consumo e depois eu vejo como vou vou
pagar. A auto contenção acima da auto indulgência, o trabalho acima do
consumo. P. 181
Agora
não mais o sacrifício, o planejamento , mas sim a procrastinação frente a essa
contenção. Abolição do adiamento em questão, isso em meio a muitos conflitos,
desestrutura , desequilíbrio e sujeição mercadológica. Submissão aos interesses
da classe dominante. Uma mudança de valores culturalmente construída. P. 182
Os
laços humanos no mundo fluido – precariedade, vulnerabilidade e instabilidade
são as características mais profundas, mais definidas das condições de vida da
sociedade contemporânea. Um fato novo e sem precedentes, uma sociedade
liquefeita de atitudes rápidas, sem planejamento, sem envolvimento, sem
responsabilidades, sem cobranças. P.184
Quão
frágeis e incertas se tornam as vidas, sobrevivendo ao caos.
Condições
econômicas e sociais precárias, tornam o indivíduo ou o faz aprender por
caminhos mais difíceis. Num mundo em que o futuro, é na melhor das hipóteses,
sombrio e nebuloso, colocar-se a objetivos distantes, abandonar o interesse privado
para aumentar o poder do grupo e sacrificar o presente em nome de um futuro não
parece ser uma proposição atraente ou mesmo razoável.
Qualquer
oportunidade que não for aproveitada aqui e agora é uma oportunidade perdida.
“Agora”, é a palavra chave da estratégia da vida – num
mundo inseguro e imprevisível, o viajante esperto fará o possível para imitar
os felizes e globais que viajam leve – sem peso – e não derramarão muitas
lágrimas ao se livrar de qualquer coisa que atrapalhe os movimentos. P. 187
Laços
e parcerias tendem a ser vistos e tratados como coisas destinadas a serem
consumidas e não produzidas. Compromissos do tipo “até que a morte nos separe”
serão transformados em contratos do tipo “enquanto durar a satisfação”,
temporais e transitórios, por definição por projeto ou por contrato pragmático
– livres, em busca de melhores oportunidades – Não há qualquer razão para se
ficar com um indivíduo ou um produto que seja inferior, envelhecido.
Transitoriedade.
Pequenos
problemas podem causar grandes rupturas. Desacordos triviais tornam conflitos
amargos. São tomados como sinal de incompatibilidade, essencial e irreparável.
Uma ação leva a outras ações. P. 188
A
negociação de laços duradouros já não faz parte dos dias atuais. Tudo a curto
prazo e sempre que possível sozinho. P.
189
A
auto perpetuação da falta de confiança frente ao desenvolvimento compulsivo e
obsessivo em questão.
É
muito difícil construir a confiança em organizações que estão sendo ao mesmo
tempo desmanteladas, reduzidas e sofrendo impactos e mudanças complexas e
ininterruptas.
Projeções
futuras são para quem tem firmeza no
presente.
O
capital é cada vez mais global, enquanto que o indivíduo permanece local e se
move, não com a mesma velocidade global, mas com a velocidade que “pode” se
mover, a sua condição, P.190
Por
esta razão estão expostos, desarmados aos indescritíveis caprichos de
misteriosos “investidores” e “acionistas” e das ainda mais desconcertantes
“forças de mercado”, “termos de troca” e “demandas de competição” e o que quer
que ganhe hoje pode lhes ser tirado amanhã. Sempre uma condição de risco e sem
aviso prévio. P. 191
O
fato é que o contexto da vida, o ambiente social em que o indivíduo vive, sendo
suas escolhas ou não, conduzem a afazeres da vida, onde quanto mais divertido,
mais fácil. Mais dominado, mais cercado por ideologias discretamente inseridas
e discretamente induzidas, além do que
levemente absorvidas, quase que imperceptivelmente.
Comunidade - O sujeito, o indivíduo não erraria seu
trajeto, seu caminho, suas escolhas a menos que condicionado, empurrado,
encurralado, atraído pra fora da reta, do caminho , da trilha iluminada pela
razão. P.193
Escolhas
diferentes são os sedimentos de trapaça da história – inconsolidada – costumes
e atitudes inconsolidados – passíveis de inferências e alterações – de
influência e de domínio.
Em
termos sociológicos o comunitarismo é uma reação esperável à acelerável
liquefação da vida moderna, onde cossequências penosas, conflitos e crescente
desequilibrio entre a liberdade e a garantia individual e
coletiva, por causa da fragilidade dos laços humanos. Uma corrente quebrada em
vários elos. P 195
Obstáculos
formidáveis para perseguir eficazmente determinados indivíduos, tendo como
principal apelo, a procura da chegada a um porto seguro, em meio as constantes
mudanças, a imprevisibilidade e as tempestades em meio ao caminho percorrido.
Homens
e mulheres buscam grupos sociais em que tenham afinidades, que
possam fazer parte, num mundo em que tudo mais se desloca e muda. E exatamente
quando a comunidade entra em colapso, inventa-se a identidade. Buscando
valorizar as raízes, as culturas historicamente construídas, como que
resgatando a essência do indivíduo na sociedade e meio que justificando o porquê
das “escolhas”. P. 196
Determinados
grupos, determinados indivíduos influenciados pela cultura a que pertença. O
conjunto de características que distingue uma pessoa ou uma coisa, e por meio
das quais é possível individualiza-la.
Embora
as pessoas tenham que escolher entre diferentes grupos de referência de
identidade, sua escolha implica a forte crença de que quem escolhe não tem a
opção a não ser ao grupo específico a que pertence.
Hábitos
rotinizados e expectativas costumeiras, aconchegante, imune, até então
impenetrável, de aspectos menos atraente
do pertencimento, estes são grupos familiares no porto seguro a que tanto se
estimava “aqueles que não se deixavam levar “, hoje, também estão em
decadência, em extinção, influenciados por uma emancipação, pela
transitoriedade e desequilíbrio social.
Uma
comunidade includente, que permite que “estranhos” façam parte seria um
contradição em termos, todavia incompleta, inacabada, talvez impensável, ainda que desejável, e permite, e possibilite tal ação. P.
198
O
mundo comunitário está completo porque todo o resto é irrelevante, mais
exatamente, hostil – um ermo repleto de emboscadas e conspirações e fervilhante
de inimigos que brandem o caos como sua arma
principal – A harmonia interior do mundo comunitário brilha e cintila
contra a escura e impenetrável selva que começa do outro lado da estrada.
O
desejo de endemonizar os outros se baseia nas incertezas antológicas – tais
atitudes são naturais do indivíduo
“devemos escolher a lealdade, á ética, à nossa natureza - como se tudo que o indivíduo faz fosse e sempre
será de livre escolha - A ideia de etnicidade e de homogeneidade
étnica por uma especificidade sócio cultural – religião, língua, costumes – com
base legítima da unidade e da auto afirmação ganhou com isso uma fundamentação
histórica. P.198
Quando
há uma supressão da comunidade e ou grupo, é motivo de grande sucesso e
satisfação para aqueles que ambicionam dividir, fragmentar até que se extingua.
Contando com poderoso apoio da imposição legal e de um sistema legal unificado.
Enquanto
que o patriotismo pende para uma visão subjetiva, o nacionalismo pende para o
conhecimento e as experiências adquiridas por toda a vida do indivíduo. O
empirismo - alto grau de observação das coisas , das pessoas, das vivências,
dos resultados frente as ações. Já o patriotismo tem a ver com o pragmatismo, com as doutrinas pré
estabelecidas – ideologias –
Estamos
falando de uma nação construída.
O
patriota destaca-se por sua benevolência e ou tolerância à variedade cultural
de seu país. E como tolerar essa diversidade , um misto de pessoas de
diferentes nações , e em meio a esse processo de globalização essa troca de
convivência , é inevitável a não
alteração de seu estado nação sem alterar a essência do indivíduo, sua cultura,
suas escolhas. Chegam e trazem consigo uma bagagem social diferenciada , que promove
mudanças , desorganiza, desestrutura e nada será feito? E tudo se acomoda
passivamente, aceitavelmente? só
que não !
O
nacionalismo é hoje o patriotismo indesejado e o patriotismo é hoje o
nacionalismo indesejado – realidades desagradáveis, manipulações, adestramento
e dominação. P.200
Hoje o patriotismo devora os estrangeiros, no
sentido de absolver e se tornar igual, idênticos, deixando de lado, perdendo
sua própria distintividade. Já o nacionalismo rejeita, repele, se fecha no seu
mundo, constrói barreiras, e na medida do possível, se opõe.
P. 202
A
ideologia patriotista e nacionalista enxerga o indivíduo como eles, porém com
diferenças. Há semelhanças porém na tomada de decisões políticas considera-se
as diferenças.
O
nacionalismo tranca as portas, arranca os ferrolhos, desliga as campainhas,
declarando que apena os que estão dentro tem direitos de ai estar e se
acomodar. Já s patriotismo é mais hospitaleiro, acessível. Não os deixa muito à
vontade, porém os permite adentrar.
Com
isso a nação vai perdendo a sua
essência, todavia, isto é de certa forma benéfico, viver em conjunto significa
negociação, conciliação de interesses, coerção, opressão. P. 203
Amplia
os horizontes da comunidade, da humanidade e multiplica as oportunidades sem
debate, sem confronto, sem negociação, sem compromisso entre valores,
preferências e caminhos “escolhidos”. Uma
realização conjunta de agentes engajados na busca de auto identificação, e uma
vez que as crenças, valores e costumes foram privatizados, descontextualizados
e desmontados, agora, um indivíduo frágil, volátil e desestruturado.
Como
afirma AlanTourbine ”o fim da definição de ser humano
como ser social, definido por seu lugar na sociedade, que determina seu
comportamento ou ação”, e assim a defesa, pelos atores sociais, de sua “especificidade
cultural e psicológica”, só pode ser conduzida com “consciência de que o
princípio de sua combinação pode ser encontrada dentro do indivíduo, e não mais
em instituições sociais ou princípios universais” p. 204
Tal
definição demanda muita iniciativa individual apoiada em astúcia e
determinação. P.205
Não
há definição que não seja autoafirmação nem identidade que não seja
construída. P.205
Tudo
se resume à força do agente em questão.
Essa
universalidade, uniformidade tende a diferir em proporção direta aos meios e
recursos em que os atores dispõe. Cada qual se resguardando a seu modo e
condição – isolados e cercados – equipados intrincados sistemas de comunicação
e câmeras - Ricos para um lado e pobres pra outro lado – e o mito, a crença da
solidariedade comunitária – um ritual de purificação –
O
que distingue esse compartilhamento mítico, é que as pessoas sentem que
pertencem umas as outras. E ficam juntas.
O
sentimento de nós, que expressa o desejo da semelhança, é um modo de evitar o olhar mais
profundamente, nos olhos dos outros.
Assim
são as iniciativas do poder público – a proteção à vida – todavia, a estrutura
pertence ao indivíduo e o que não falta são os conselheiros . E em meio às
incertezas e a falta de garantias das autoridades que são os provedores da
ansiedade, o ápice da desestruturação.
P.207
Um
verdadeiro sonho de consumo num mar de turbulências e hostilidades. Levemente,
sutilmente, subjetivamente. Seguidos de sua recusa em endossar as aspirações de
certeza, segurança e garantias de seus cidadãos. Atolados num mar de areia movediça
sem ter pra onde correr. P. 211
A
luta pela existência significa a luta pelo espaço, entre o mais rápido e o mais
lento. P. 215
O
poderio da elite global consiste em escapar aos compromissos globais, e a
globalização se destina a evitar tais necessidades, tarefas e funções ,
descentralizando. De modo a ocupar as autoridades locais somente como papéis de
guardiões da lei e da ordem. Por conta da exaustiva quantidade e busca por
soluções , as resoluções aparecem gradativamente, parcialmente, incompleta,
deixando um gostinho de dependência, algo ainda
por fazer.
Carência,
sujeição, ansiedade e espera.
Desestabilizados,
vulneráveis, desestruturados , controlados e subordinados aos interesses políticos. P. 217
A
globalização parece ter mais sucesso em aumentar o vigor da inimizade e da luta
intercomunal do que promover a
coexistência pacífica das comunidades. Distanciamento,
Qual
o resultado que se espera de uma guerra, seja ela qual for? Desestabilizar o grupo.
Desestabilizar
a comunidade, a raça, o local, o individuo, e há de se considerar, como ficará
o vazio , a ferida aberta, depois de tudo , depois que a raízes da viabilidade
estado nação foram cortadas.
As
forças globais do mercado, jubilosos, com a perspectiva de não mais serem
detidos ou obstruídos, provavelmente se instalarão no local, mas não querer,
nem conseguir, se assim o quiserem representar as autoridades políticas
ausentes ou enfraquecidas. “terra de ninguém”
E
não será apenas a tarefa da reconstrução material, mas também acalmar os ãnimos
dos agitados e inflamados chauvinistas, ou seja, os militares, revigorados pelo
êxito, pela glória, pelo poder exercido, pela conquista - donos de toda a força e poder e de uma frieza desmedida, escomunal – Nem tão
pouco se dará essa oportunidade de reconstrução aos refugiados, lembrando que a
mútua acomodação e a amigável coexistência de línguas, culturas e religiões,
traz em si desajustes, desequilíbrio e conflito, prato cheio para as
autoridades em relação a sociedade moderna liquida.
Como
a globalização da economia procede aos saltos e os governos cada vez mais
dependentes, fracos, submissos frente as negociações e interesses, torna-se
cada vez mais dificultoso separar os
atores e seus objetos passivos, o governo e a sociedade, pois os governos
competem entre si a fim de seduzir, buscar para si, em seu benefício o advento
da globalização. P . 220
Se
o princípio da soberania estado-nação está desacreditado, quebrado, desvalido
de ações, em estado terminal, haverá um
sistema global de freios e contrapesos para limitar e controlar as forças
econômicas globais, pois o descontrole gera perda de poder, descompensação,
negociação e renegociação.
“Território
flutuante” em que “indivíduos frágeis” encontram uma realidade “porosa” a esse
território só se adaptam coisas ou pessoas fluidas, ambíguas, num estado
permanente de transformação, aberto, num estado constante de autotransgressão.
O
enraizamento, se existir, só pode ser dinâmico, reafirmado e reconstruído
diariamente.
Indivíduos
frágeis anseiam por segurança, e pra ser alcançada, adquirida, correm contra o
tempo, a fim de conseguir o que tanto buscam. Seja ela material ou de cunho
emocional, ela tem um preço a se pagar e exige um tempo de que muitos não se
dispõem.
A
velocidade, porém não é propicia ao
pensamento a longo prazo, e estando entre corredores rápidos, diminuir a
velocidade significa ser deixado pra trás. Portanto, a velocidade sobe pra o
topo dos valores da sobrevivência. P.238
A
sociedade autônoma e a liberdade de seus membros se condicionam mutualmente. P.
243
Obediência
e conformidade humana fazem parte da modernidade sólida,
Promoção
da autonomia e da liberdade faz parte da modernidade liquida, pautada pela
descentralização – onde as responsabilidades pelas próprias ações não são, não
precisam ser assumidas – há o repasse .
Egoísmo
da sociedade sólida, individualismo da sociedade líquida.
E os indivíduos afetados estão agora
“ocupados” criando pequenos grupos para seu próprio desfrute e deixando a
sociedade “maior” de lado – essa fragmentação, esse viver em meio a uma
multidão de valores, normas, condutas e estilos de vida, todos competindo pelo
espaço, pelo tempo, uma corrida que não garante chegarmos vitoriosos ao final,
pois a confiança de estarmos agindo corretamente, de estarmos certos nessa
jogada, nesse abismo de incertezas, é perigoso e cobra um alto preço
psicológico – fugir da escolha responsável, planejada, pautada por valores
comum a todos, ganha força, espaço e forma e
tem como consequências catastróficas, desajustes, desordens materiais, pessoais e ou
emocionais. P. 244