A Era do Vazio


A Era do Vazio



Uma leitura que traz em si reflexões frente a aguçada visão do autor, em meio a muita sensibilidade e questionamentos sociais 
Um olhar minucioso em relação a vida, a humanidade e aos ditames sociais, aqui, lá, acolá...
O Autor , a meu ver  é maravilhoso ...


Autor -  Gilles Lipovetsky




A Pós Modernidade consagrou  a possibilidade  de viver sem sentido. De não crê na existência de um único e categórico sentido, mas de apostar na construção permanente de sentidos múltiplos, provisórios, individuais, grupais ou simplesmente fictícios.



Se caracteriza por uma tendência global  a reduzir as atitudes autoritárias e dirigistas, e ao mesmo tempo a aumentar a oportunidade de escolhas particulares, a privilegiar a diversidade e, desde já, a oferecer fórmulas e programas independentes, nos esportes, nas tecnologias psicanalíticas, no turismo, na moda casual, nas relações humanas e sexuais.



Para o filósofo Gilles Lipovetsky postula-se a intensidade do aqui e do agora,  como necessidades vitais. Um “pós tudo”, pós história, pós ideologia, pós moralismo,  um pós tudo em que tudo muda pela comunicação, pela  interação, contato, pela busca desenfreada do prazer e pela múltipla escolha.

Um tempo de comunicação...




Não mais de comunicação como conteúdo ou mensagem, no sentido moralizador, mas como forma de contato, expressão do desejo, emancipação do julgo utilitário. 

Gera medo e até horror uma época em que tudo pode ser questionado pois implica uma perda de poder pelo donos das sociedades ou um rearranjo das formas de controle: a manipulação sede lugar a sedução; a imposição deve transformar-se em conquista, cada um deve aderir a um valor, não mais ser obrigado a submeter-se a ele.

Onde alguns enxergam só ruina, pode vir a ser um campo de semeadura. 

O vazio e a era pós moralista, o fim de uma época de valorização do sacrifício e de condenação do prazer, a derrocada de uma moral rigorosa e o surgimento de uma era polissêmica de elaboração ética ou seja,  “à la carte”.

Menos carregados e mais livres, mais lúcidos e menos dependentes, mais exigentes e menos submissos, mais flexíveis e menos engessados por engrenagem de poder  em nome de verdades que se apresentam como transcendentais e universais.

A saída do “crepúsculo do dever” , a queda, elevando o efêmero a condição de atmosfera cultural propícia ao exercício de imaginários, que transbordam, fluem e refluem e não cabe mais nas medidas rígidas das religiões.  Todo se move, tudo muda, tudo é fluxo.  

O ideal moderno de subordinação do indivíduo a regras racionais  coletivas foi pulverizado, o processo de personalização promoveu  e encarnou maciçamente um valor fundamental : o do realização pessoal, do respeito, da singularidade subjetiva, da personalidade incomparável , quaisquer que sejam as novas formas de controle e de homogeneização realizadas simultaneamente .

O direito de ser absolutamente si mesmo,  de aproveitar à vida ao máximo e,  certamente, inseparável de uma sociedade que instituiu o indivíduo livre com valor principal e não é mis do que a manifestação definitiva da ideologia individualista; mas foi a transformação dos estilos de vida ligada a revolução de consumo que permitiu esse desenvolvimento dos direitos e desejos do indivíduo, essa mutação na ordem dos valores individualistas. Salto adiante da lógica individualista; o direito à liberdade: - teoricamente ilimitado, mas até então, circunscrito á economia, à política, à cultura – ganha os costumes e o cotidiano. Viver livre e sem pressões, escolher seu modo de existência são os pontos mais significantes no social e no cultural do nosso tempo, pontos da aspiração, do direito mais legítimo aos olhos dos nossos contemporâneos.

O processo de personalização não cessa de ampliar suas fronteiras, estamos destinados a consumir cada vez mais objetos e informações. Na sua extensão, até a esfera particular, até a imagem e o devir do ego conclamado a conhecer o destino da obsolescência acelerada, da mobilidade, da desestabilização.  

Consumismo da própria existência por meio da mídia multiplicada, dos lazeres, das técnicas relacionais, o processo da personalização gera o vazio colorido, a flutuação existencial na e pela abundância, sejam eles enfeitados pela conveniência, pela ecologia, pela psicologia. 

Busca pela qualidade de vida.

Paixão pela personalidade.

Sensibilidade.

Culto a participação e a expressão, reabilitação do local, do regional, de certos costumes e hábitos tradicionais. – identitários – descentrada, heteróclita, materialista, pornográfica e discreta, inovadora e retrógada, consumista e ecológica, sofisticada e espontânea,  espetacular e criativa.