MODERNIDADE LIQUIDA

MODERNIDADE  LIQUIDA-    Zygmunt  Bauman



Sensibilidade e observação.

O autor traz consigo  contribuições consideráveis sobre a sociedade atual em meio a cultura, as memórias , as  ações e reações,  mediante o que lhes é oportunizado em suas escolhas, ou aparentemente, escolhas.
Uma leitura, um resumo da obra para que nos colocamos a pensar, refletir e sempre que necessário, fazer uma releitura e repensar nossa vida em sociedade.
O que somos, o que fomos e onde vamos  chegar,  de acordo a "nossas escolhas".

Quem quer que por ação ou omissão, participe do acobertamento ou pior ainda, da negação a natureza alterável e constringente humana e não inevitável da ordem social, notadamente do tipo de ordem responsável pela infelicidade é culpado do conceito de  imoralidade , de recusar auxílio, ajuda a uma pessoa em perigo. De ser conivente de uma situação.

Tendo por objetivo, revelar a possibilidade de viver em conjunto de modo diferente, com menos miséria ou sem miséria: essa possibilidade diariamente subtraída, subestimada ou despercebida. Não enxergar, não procurar e assim suprimir essa possibilidade é parte da miséria humana, e fator importante em sua perpetuação.
A revelação é o começo e não o fim da guerra da miséria humana e de que muitos são coniventes.
Não há escolhas de maneiras “engajadas” e “neutras” do fazer sociologia. Os sociólogos só podem negar ou esquecer os efeitos de seu trabalho sobre as ações humanas, singulares ou coletivas, ao custo de fugir à responsabilidade de escolha que todo indivíduo enfrenta diariamente. E a tarefa consiste em assegurar que essas escolhas sejam verdadeiramente livres e que assim continuem, cada vez mais, enquanto durar a humanidade.



Expressa-se concretamente na política e na cultura, afirmando novas formas de organização social e novos parâmetros de sociabilidade – contemporaneidade – tudo é fugaz, efêmero, a era dos supérfluos na matéria. Não ao sentimento profundo, ao vínculo.

O líquido, diferentemente dos sólidos,  não mantém sua forma com facilidade.                      Os fluidos não fixam espaço nem prendem o tempo, propensos a mutações, eles simplesmente: fluem, escorrem, esvaecem, respingam, transbordam, vazam, inundam, pingam...  
Quem quer uma sociedade congelada, estagnada, resistente ao tempo?

Emancipação, repúdio ao passado histórico, ao agrado, as tradições. 
Esmagamento da armadura protetora forjada de crenças e lealdades que permitiam que os sólidos resistissem a liquefação.      

E como aperfeiçoar esse sólido – moldar – tornar-se alterável?

Os tempos modernos encontram os sólidos pré-modernos em estado avançado de desintegração - E como administrar isso - Que tal começar eliminando as obrigações “irrelevantes” que impede a via de cálculo racional dos efeitos - a família -  e da densa trama das obrigações éticas. As responsabilidades mútuas, deixando toda a complexa rede de relações sociais no ar, desprotegida, impotente.

Um campo aberto  para a dominação, invasão frente a uma operação suave e contínua.  P.10

Esse derretimento levou a uma progressiva libertação da economia de seus tradicionais embaraços políticos, éticos e sociais.

Ao invés de uma sociedade dentro de um processo rígido, agora, livre de escolhas e por causa dessa liberação, dessa flexibilização, da fluidez crescente, do descontrole dos mercados financeiros, imobiliários, trabalhistas, agora desengajados, onde articulam entre si o desejo de muda, virar a mesa, arriscar, soltar as amarra. Um novo sentido em redirecionamento. P.13

Redistribuição e relação de poderes em âmbito familiar, trabalhista e social.

Os indivíduos foram libertados de sua velha gaiola para serem admoestados e censurados, seguindo regras e modos de conduta tidos como apropriados e corretos. P.13

Emancipação, individualismo, organização tempo e espaço. Aspectos entrelaçados e dificilmente distinguidos da experiência vivida pelo individuo.

Quando a distância percorrida numa unidade de tempo passou a depender da tecnologia, de meios artificiais de transporte, todos os limites, a velocidade do movimento sejam eles  existentes ou herdados, poderiam, em princípio, serem transgredidos.

A velocidade do movimento e o acesso a meios rápidos de mobilidade chegaram, nos tempos modernos, a posição de principal ferramenta do poder e da dominação.  P.17

O poder se tornou verdadeiramente extraterritorial, não mais limitado nem desacelerado pela resistência do espaço. No espaço, contudo, pode haver controle absoluto.

Fixar-se ao solo não é tão importante se o solo pode ser alcançado e abandonado à vontade, imediatamente ou em pouquíssimo tempo. Por outo lado, fixar-se muito fortemente, sobrecarregando os laços com compromissos mutuamente vinculantes, pode ser positivamente prejudicial, dadas as novas oportunidades que surgem em outros lugares. P.21


O mundo deve estar livre de cerca, barreiras, fronteiras fortificadas e qualquer rede densa de laços sociais, e em particular que estejam territorialmente enraizados, intocável, é um obstáculo a ser eliminado.  P. 22


Emancipação     I



Ao fim de três décadas gloriosas devemos nos emancipar, libertarmos dos grilhões, da sociedade, do peso, do sólido.

Onde haja a participação de todos.

Não a meta mais sem a massa.

A relutância do mundo, da sociedade em se submeter, em perceber o mundo “real”, constrangedor, limitante e desobediente. Livre para agir conforme os desejos e possibilidades, ampliando a capacidade de ação, onde as intenções passam a ser experimentadas.   P.24



Liberdade subjetiva e liberdade objetiva – até onde posso , até onde quero, até onde consigo, até onde terei livre arbítrio. Até onde preciso ir a fim de alcançar tais objetivos, até então limitados a determinados grupos, assumindo os resultados sejam eles favoráveis ou não!  P. 25



Uma mudança como que por encanto, de riscos e de coragem, de vontade. Uma liberdade “conquistada”.  A liberdade tem um preço a se pagar, querendo ou não assumir os riscos que lhe cabem, assim como as responsabilidades.

Nasce dessa emancipação o individuo que agora tem , age, estabelece e aparece. Tem autonomia e age sobre ela. Porém, abandonado aos seus próprios recursos, onde se submete à sociedade e essa submissão é a condição para sua libertação.  P. 27



Há de se considerar que a falta de limite , eficazes, torna a vida detestável, brutal e curta.

A coerção social é uma filosofia à força emancipadora. Padrões e rotinas impostas por pressões sociais condensadas, despercebidamente traçadas, poupam essa agonia, graças a monotonia e a regularidade de modos de conduta.   (levemente/discretamente/lentamente)

A rotina pode apequenar o individuo  mas, também pode proteger.

Submeter-se a sociedade e seguir suas normas e a ausência ou falta de clareza nas normas é a grande questão.

A proposta é uma vida de impulsos e momentânea, de ações de curto prazo e destituída de rotinas sustentáveis. Uma vida sem hábitos, destituídas de passado e de futuro – uma modernidade fluida – uma existência desarraigada da sociedade frente aquele que até então determinava seu comportamento e suas ações. P.29



As instituições estão dispostas a deixar a iniciativa individual, o cuidado com as definições  e identidades e os princípios universais com os quais se rebelar estão em falta, em curso, sem amarras determinantes e definidoras de identidades. E o que estão disponíveis para recomendações são: camas de motel (prostituição), divãs (psicólogos), sacos de dormir (andarilhos),a disposição das efemeridades sociais, das escolhas .  p.30

Uma sociedade que se diz livre de questionamentos e de justificativas.

Uma análise complexa frente aos resultados dessas ações tornou-se irrelevante, obsoleta e desnecessária. Inóspita para a crítica, que não abre espaço à critica – um lugar aberto a todos, livre de escolhas e atitudes. P.31

Cada indivíduo seguindo seu itinerário, sem atribuições, sem deveres, sem questionamentos, sem satisfações, sem interferências. Sem espaço â interferências.

Uma profunda transformação do espaço público, agora dotado de leveza, espontaneidade, fluido, permissivo. P.33



A sociedade pesada da era capitalista, de Henry Ford,  Karl Max, Focault  - sistemática, impregnada de teorias totalitaristas , onipresente, ameaçadora – uma verdadeira guerra santa a todas essas anormalidades, abrindo espaço a era moderna, incluindo toda espontaneidade e iniciativa individual, autonomia,  liberdade que só a burguesia tinha, só a elite.



O panótipo, sobre a ótica de uma camêra as escondidas e o controle rigoroso, atento a tudo e a todos . Lugar onde os limites da maleabilidade humana eram testados – a palavra de ordem era desarmar e neutralizar, controlar e direcionar. Então, surge uma teoria crítica, fluida, de auto firmação, do direito de ser, de ter, de aparecer. P.34



A modernidade sempre existiu, século após século, com os avanços. Porém a modernidade fluida, compulsiva e obsessiva, inefreável e sempre incompleta é a que estamos inseridos nos dias atuais.

A busca constante e insaciável de uma criatividade destrutiva em nome de um novo e aperfeiçoado projeto de desmantelar, defasar, reduzir o individuo.

O que o homem faz o homem pode desfazer.

Estar sempre à frente de si mesmo, ser incapaz de parar e ainda menos capaz de ficar parado no tempo e no espaço. Uma identidade que só pode existir como projeto de não ficar, de não realizado, incompleto, com muito ainda por fazer.  P.37

É complexo demais uma sociedade boa, sem conflitos, isso é passado !  Essa busca por equilíbrio agora é individual, não mais social. 

Astúcia, vontade e poder são  para as partes e não para o todo.  Para os fortes.

Se espelhe em alguém , observe, seja criativo. Lute pelos seus ideais. Participe e faça suas próprias escolhas.

No mundo dos indivíduos há apenas outros indivíduos e meros exemplos a serem seguidos, ou não!  Assuma-se, responsabilize-se, invista.  (celebridades são os exemplos)   p. 39

 A apresentação dos membros como indivíduos é a marca registrada da sociedade moderna. Essa apresentação, porém, não foi uma peça de um ato: é uma atividade reencenada diariamente. A sociedade moderna existe  em sua atividade incessante de “individualização”, assim como as atividades dos indivíduos consistem na reformulação e negociação diárias da rede de entrelaçamentos chamada “sociedade”.

A sociedade dos indivíduos forma a individualidade de seus membros, e os indivíduos formando a sociedade a partir de suas ações na vida, enquanto seguem estratégias plausíveis, na rede socialmente tecidas de suas dependências.

A apresentação dos membros como indivíduos é a marca registrada da sociedade moderna, reencenada diariamente, incessantemente, reformulada e renegociada na rede de entrelaçamento chamada “sociedade”. O indivíduo faz parte da sociedade, portanto é preciso se inserir, tornar-se, fazer parte, agir compulsivamente. Aderir, emancipar-se.  P.40



A individualização já não é uma escolha, é uma fatalidade. P.43



Não se engane:  agora, como antes – tanto no estágio leve e fluido da modernidade quanto no sólido e pesado -, a individualização é uma fatalidade, não uma escolha. Na terra da liberdade individual de escolher, a opção de escapar a individualização está decididamente fora da jogada.   P.43



As que  ficam doentes foi por indecisão, por falha.

Se ficam de fora foi por escolha, incompetência, porque não se esforçaram o suficiente. Colocando no indivíduo a responsabilidade, a culpa pelo fracasso.

Oportunidades, a vida possibilita !  Basta querer !  Acredite!

O indivíduo é corresponsável por suas escolhas e consequentemente pelos resultados, pelos riscos enfrentados solitariamente. E manuais de instruções é o que não faltam. Dicas de sobrevivência são repassadas pela mídia, pelos meios de comunicação quase que diariamente, todavia, a ferramenta é você. Agora, se vai saber usá-la, só o tempo dirá.

Na terra da liberdade individual de escolher a opção de escapar á individualização e de se recusar a participar desse “jogo” está decididamente fora da jogada.  Imposição, não!  DIRECIONAMENTO.

Não há espaço para uma sociedade pública, com espaços públicos, onde o coletivo está em questão. Fragmentou-se, cada qual seguindo seu rumo.

As únicas duas coisas úteis que se espera e se deseja do “poder público”, onde o coletivo está em questão, são que eles observem os “direitos humanos”, isto é, que permita que cada indivíduo siga seu próprio caminho,  e que permite que todos os faça em “paz”, protegendo a segurança de seus corpos e posses.  P.45 



INDIVIDUALIDADE   II



Nas novas circunstâncias,  os fins justificam os meios. O mais provável é que a maior parte da vida humana e a maioria das vidas humanas consuma-se na agonia quanto á escolha dos objetivos, e não na procura dos meios para os fins , que não exijam tanta reflexão. Isso, ao contrário de seu antecessor, um capitalismo leve, tênue, a ser obcecado por valores.  P.73

Não é mais o caso de tentar sem ter o conhecimento completo, calcular os meios em relação a determinados fins. E o  que está em pauta é a questão de considerar e decidir, em face de todos os riscos conhecidos ou meramente advinhados – quais dos muitos e flutuantes fins – dada a quantidade de meios disponíveis e levando em conta , em consideração as ínfimas chances de sua utilidade duradoura.  P.73



Viver num mundo cheio de oportunidades, cada uma mais apetitosa que a outra, mais atraente, mais sedutora que a anterior. Cada uma compensando a anterior e preparando terreno para a mudança, para a seguinte, para a próxima. Uma experiência divertida... para que as possibilidades sejam infinitas, inesquecíveis.

Nenhuma deve ser capaz de petrificar-se na realidade, de parar no tempo, que seja  para sempre.

Melhor que sejam liquidas e fluidas e tenham “data de validade”, caso contrário, poderão excluir possibilidades/oportunidades remanescentes e abortar o embrião da próxima aventura.  P. 74



AQUI REMETE A PAULO FREIRE  -   UM SER INACABADO ...



“Você não é mais livre quando chega ao final, você não é você mesmo que tenha se tornado alguém”.  Estar inacabado, incompleto e subdeterminado são  estados cheio de riscos e ansiedade, mas seu contrário também não traz um prazer pleno, pois fecha antecipadamente o que a liberdade precisa manter aberto.

A consciência de que a vida continua, de que muito ainda vai acontecer e o inventário das maravilhas que a vida pode oferecer  são muito agradáveis e satisfatórios. 


(...) Tudo, por assim dizer, corre agora por conta do indivíduo. Cabe ao indivíduo descobrir o que é capaz de fazer, esticar essa capacidade ao máximo e escolher os fins a que essa capacidade poderia melhor servir – isto é, com a máxima satisfação concebível. Compete ao indivíduo “amansar o inesperado para que se torne um entretenimento”.

Viver num mundo cheio de oportunidades – cada uma mais apetitosa e atraente que a anterior, cada uma “compensando a anterior e preparando terreno para a mudança, para a seguinte” – é uma experiência divertida.  P.74



Não surpreende que não se escrevam distopias – estados de opressão , desespero, privações, nesse tempo liquido, fluido. No mundo de produção atual, diferente da era Fordiana, sólida, do capitalismo pesado, onde poucos ditam as leis, onde havia estoque, trabalho, capital, planejamento, no caso, o mundo moderno, liquido, instável, dos indivíduos que escolhem sua liberdade e que não mais se ocupam do sinistro grande irmão, que puniriam os que saíssem da linha. Parece não haver mais punição, retração. Agora tudo pode tudo deve ser feito, retomando o tão exaltado Carpe Diem.     Viver intensamente o hoje! 



Os lideres demandam e esperam disciplinar, pensam e agem em prol do individual e do coletivo.

Tudo por assim dizer, corre agora por conta do indivíduo. Compete a ele assumir, amansar o inesperado, driblar suas escolhas, para que se torne um entretenimento. Viver um mundo cheio de oportunidades onde poucas são as pré-determinações e menos ainda irrevogáveis. Os fins coerentemente se equivalem aos meios, mas os próprios fins não são escolhidos racionalmente, nem mesmo as escolhas, se pararmos para pensar...

O capitalismo pesado se foi, as leis que antes ditavam já não existem mais, agora é leve, fluida, amigável, deu lugar e espaço a autoridades em numero tão grande, em tamanha proporção que não há mais espaço a exclusividade. E quando há muito “cacique” permanece aquele que mais convence. Aqueles com maior poder de investimento no mercado. Os detentores de poder. P. 76



Com toda essa mudança vieram os desmantelamentos das redes normativas e protetoras. Perdeu-se o equilíbrio emocional, financeiro, familiar, abrindo espaço ao consumismo desenfreado, aberrações, desejos, autonomia e liberdade de ação. Livres para pensar e agir, sem muito envolvimento, sem vínculos.  P. 77

Se o indivíduo é livre ele assumirá as consequências pelos seus atos e escolhas.  E muitos pensadores influentes advertem sobre a possibilidade de que a “esfera privada” seja invadida, conquistada e colonizada pela “esfera pública”.    P. 82

Um palco em que dramas privados são encenados, publicamente expostos e publicamente assistidos. Cm chance a atenção à vida alheia, “deixe me ver onde ele está?”  ou “como ele está?” E muitas vezes , na maioria das vezes, o alheio quer se mostrar, quer mesmo que saibam, quer se mostrar, quer aparecer, quer ser admirado, aplaudido, quer ser observado em suas escolhas.  Um ciclo vicioso,  a constante busca pelo diferencial .  p.83

As condições de vida em questão levam o individuo a buscar exemplos para si. O olhar atento ao outro captando mínimas atitudes, não importa muito qual a razão da “notoriedade” o importante é ter notoriedade, é tornar-se célebre.

Procurar exemplos, conselhos, informações e ou orientações  é um vício e quanto mais se procura, mais se precisa, mais se sofre quando privado de novas doses da droga procurada. Como meio de aplacar a sede, todos os vícios são autodestrutivos; destroem a possibilidade de se chegar à satisfação. P. 85  

No mundo dos consumidores, as possibilidades são infinitas e o volume de objetivos sedutores e à disposição, este nunca poderá ser exaurido.

As receitas para a boa vida e os utensílios que a elas servem tem “data de validade”, mas muitos cairão em desuso, bem antes desta data, apequenados, desvalorizados e destituídos de fascínio, pela competição de ofertas “novas e aperfeiçoadas”.  Na corrida dos consumidores, a linha de chegada se move mais veloz que o mais veloz dos consumidores - então, a satisfatória consciência de permanecer na corrida que se torna o verdadeiro vício – e não, algum prêmio que à espera dos poucos que cruzam a linha de chegada.  O desejo se torna seu próprio propósito e o único propósito não contestado e inquestionável.  P.86

Tudo numa sociedade de consumo é uma questão de escolha – a compulsão que evolui até se tornar um vício e assim não é mais percebida como compulsão.

A busca ávida e sem fim por novos exemplos aperfeiçoados e por receitas de vida é também uma variedade do ato de comprar. Seguramente nossa felicidade está associada à nossas competências pessoais ou não competentes como deveríamos ser, são os resultados, os fins que justificam os meios, que delimitam em que grau de competência os indivíduos estão.

Consumo para mostrar, para atrair olhares, para convencer, para conquistar, para me diferenciar – fins ostensivamente infinitos – infindas e indefinidas possibilidades.

Consumo para adentrar no mundo irreal, fantasioso.   P.88

O consumismo não diz respeito a necessidade, mas sim a adequação, ao desejo – entidade volátil, efêmera, evasiva e caprichosa -  Auto gerado e auto propelido – impulsividade – insaciável – o indivíduo expressa a si mesmo através de suas posses, um estimulante mais poderoso e acima de tudo ais volátil é o querer, necessário para manter a demanda do consumidor no nível da oferta. O querer é o substituto necessário, ele completa a libertação do princípio do prazer.

A vida organizada em torno do consumo está orientada por desejos, a ideia é fazer dos luxos de hoje as necessidades do amanhã. Despertando no indivíduo o “querer”, o ter pra si, usufruir, vivenciar, aproveitando as oportunidades assim ofertadas. P.90

Na saúde, ser saudável significa , ser capaz de, ser empregável , estar apto para fazer, trabalhar. Daí, algumas empresas promoverem momentos , períodos, espaços para exercícios dentro dos horários de trabalho, estabelecendo mudanças de hábitos continuamente, a fim de promover saúde para o indivíduo, em meio as condutas de  regimes e dietas.

Quando muitas pessoas, simultaneamente, caminham na mesma direção há de se perguntar, há de se questionar : atrás de que?   Atrás do que estão correndo? E assim se conjectura os temores do campo perfeito. Das sensações, dos delírios, do prazer, bem estar, prometidas e ou induzidas por determinados grupos frente a seus interesses, suas intenções .   p. 97

Vívidos momentos de realizações.

A identidade experimentada, vivida, só pode se manter unida com o adesivo da fantasia. O sonhar acordado. Explorando sem compromisso, sem sofrer consequências, sem se enraizar, sem absorver, apenas experimentar -  Seja uma viagem, seja estar numa rede de lojas, um restaurante, um hipermercado – o que interessa , a busca é por sair da realidade, é ir além .

Todos únicos, todos singulares, individualizados, independentes e autônomos.  P.99

Essa liberdade não funciona sem dispositivos, mecanismos e substâncias disponibilizadas pelo mercado. A vida desejável tende a ser a vida vista nos meios de comunicação, mediadas por imagens, sons e sensações, criando uma ilusão de ótica, uma fantasia, um querer também. Um formidável poder que exercem sobre a imaginação do indivíduo.

Lugares poderosos, mais reais que a própria realidade, mediados, minimamente calculado frente a necessidade do indivíduo quanto das coisas. Ambos perderam sua solidez na sociedade moderna, sua definição e continuidade.

O constante aperfeiçoamento do produto, o esforço de associá-lo ao status social,  deliberada estimulação de um apetite insaciável , ilimitado por mudanças, pelo novo, pelo mais atualizado . Num mundo em que as coisas deliberadamente instáveis são a matéria prima das identidades e que são necessariamente instáveis, onde mudanças bruscas acontecem a uma velocidade que muitas vezes se perde no tempo e no espaço. A mudança abrupta de uma sociedade  de estilo panótico para o estilo sinóptico, onde se pode ter uma visão ampla, não do todo, mas detalhadamente das partes que o compõem. P.101

A obediência a padrões flexíveis, alcançados pela tentação, pela sedução e não mais pela coerção, aparecendo sobre o disfarce do livre arbítrio, em vez de revelar se como força externa.

O desejo de revolução, de revelações  e revelações dos desejos dão a aparência de autenticidade mesmo quando a própria possibilidade de autoridade está em questão.  P.101

No mundo pós moderno todas as distinções se tornam fluidas, onde os limites se dissolvem – o retrato da autenticidade publicamente construído/produzido pode ser verdadeiro , convincente, num estado contínuo de construção e reconstrução identitária. Num mundo de incertezas, numa sociedade onde muito observam poucos.  Sinóptico. E quanto maior a sedução, maior a liberdade de escolha, maior o desejo e maior o querer. Tanto mais irresistível se torna o desejo de se igualar, de experimentar, de vivenciar, estar inserido nesse contexto.  P.104

Tanto mais a vida sem escolhas parece insuportável para todos.  Uma corrida contra o tempo , tamanha velocidade com que tudo acontece. E com o excesso de oportunidades, pois são muitas e variadas, se bem sucedidas sim, caso contrário, crescem as ameaças de desestruturação, frustação, fragmentação e desarticulação.

A tarefa da auto identificação , de se afinar e se reafirmar perante um determinado grupo, tem efeitos colaterais destrutivos. E como a tarefa compartilhada por todos  deve ser , tem que ser realizada por todos, por cada um, sob condições inteiramente diferenciadas e isso divide as situações humanas, delimita, desunifica, fragmenta. Isso gera conflitos e dispara energias mutuamente incompatíveis.  P.106

Esse controle social se dá em vários aspectos, até mesmo nas comunidades.

A busca constante e incessante por segurança local faz com que o indivíduo corra em busca de condições favoráveis de moradia,  segurança local, maior comodidade e conforto. Diferenciais que vão além das necessidades, da realidade. Isso faz com que se busque espaços isolados, afastados e mais uma vez a fragmentação acontece. Considerando que uma cidade é um assentamento humano em que estranhos tem chance , tem oportunidades de se encontrar, todavia, muita proximidade não é o ideal. Daí a oportunidade de na “insegurança”, afastar, dividir, redirecionar, mais uma vez fragmentar.  P.106



TEMPO E ESPAÇO    III



O estar junto na visão política não é o ideal.  O fragmentar sim é o ideal.

O meio urbano é civil, um espaço de troca, porém se falta hospitalidade não possibilitará ao indivíduo ficar a vontade e faz com que sua passagem por ali, e por muitos outros locais seja rápida, sem muita afinidade, sem a possibilidade de criar vínculos, de se enraizar.  Destituídos de poder e direitos.  P. 113

Aparentemente de todos e para todos, assim são inúmeros locais, museus, ruas, praças, órgão públicos, hospitais, porém com autocontrole e domínio privado – fazendo com que o indivíduo, a sociedade cuide, zele e acredite ser seu. È de todos, é pra todos, mas tem domínio, controle. Um bem comum que não pode ser reduzido ao agregado, passivo de propósitos individuais, compartilhado, sem ser exaurido de iniciativas individuais.

Há também o espaço público não civil, porém compartilhado,  destinado a servir os consumidores, são eles os teatros, áreas de esportes, salas, shoppings, pontos/locais turísticos onde o foco é a ação, e há uma quantidade de indivíduos que passam por ali, individualmente envolvidos. Sendo a tarefa o consumo e o consumo é um passatempo absoluto e exclusivamente individual. Uma série de sensações  que só podem ser experimentadas e vividas, subjetivamente – agregadas, breves e superficiais – o templo do consumo bem supervisionado, vigiado e controlado.  P.114

O equilíbrio quase perfeito de liberdade e segurança.

O sentimento reconfortante de pertencer, de fazer parte dessa comunidade – essa comunidade não envolve negociações, nem esforço pela empatia, compreensão e concessões – diferentemente de uma realidade – do que presenciamos no nosso dia a dia, junto àqueles que fazem parte do nosso espaço, do nosso convívio  - família, amigos, vizinhos, comunidade, sociedade. P.116



De acordo a Levi Strauss a sociedade dividi-se em antropoêmica e antropofágica, a primeira ao aniquilamento, ao exílio, ao estar só consigo mesmo, à impedir o diálogo, o contato físico, a interação social, alheio ao outro . Já a segunda escolha se dá pela suspensão ou aniquilação de sua identidade, de se colocar no lugar do outro não é por acaso que o medo do estranho, do estrangeiro cresceu, a medida que essas pessoas ou comunidade foram se afastando “não converse com estranhos “ ou “esteja sempre por perto”  são ditos populares fruto dessa visão, com isso perdeu-se  o direito a troca, a sociedade ganhou camêras de vigilância instaladas  por toda parte e o medo acentuou-se na sociedade, perdendo o direito a interação, deixando de criar vínculos – de ter a capacidade de interagir com o outro – sendo isto uma “arte” que requer estudo e exercício.

A incapacidade de enfrentar a pluralidade de seres humanos e a ambivalência de todas as decisões classificatórias, ao contrário, se auto perpetuam e reforçam, quanto mais perspicazes, mais eficazes à tendência a humanidade e o esforço para eliminarem as diferenças, tanto mais difícil sentir-se a vontade em presença de estranhos, tanto mais ameaçadora a diferença, tanto mais interesse a ansiedade que ela gera, tanto mais estudos, exercícios e esforços.

Tanto mais se descobre a relação causa e efeito, tanto mais se investe.

Isolamento – Individualismo.  P.123

Como a ideia de bem comum, socializar-se, cria vínculos com aqueles que estão a sua volta é vista como ameaçadora, insensata, indevida, improvável. Conduzindo a sociedade a estar confinados – espaços fechados, isolados, fora de sua realidade.  P.125

Assim surgem dia após dia, comunidades postuladas, reivindicando seus próprios “nichos na sociedade” e que inventam cuidadosamente suas próprias raízes, sua cultura, sua tradição, seus hábitos.

Esforços para manter a distância, o “outro”, o diferente, o estranho, o estrangeiro e a decisão de evitar a necessidade de comunicação, negociação e compromisso mútuo, não são as únicas respostas concebíveis a incerteza existencial enraizada na nova fragmentada, fragilidade, fluidez dos laços sociais.

“Não fale com estranhos” – outrora uma advertência de pais zelosos a seus filhos, hoje se tornou o preceito estratégico da normalidade adulta , reafirmando como regra de prudência a realidade de nossas vidas em que os estranhos são pessoas com quem nos recusamos a falar.  P.  127

Os governantes impotentes para atacar as raízes da insegurança e ansiedade de seus súditos, estão bem dispostos e felizes com a situação. Não há interação, não há troca, não há informação, não há comoção. E o resultado é estar a frente de uma a sociedade pura, fragmentada, cada qual com seu grupo, desengajada, livre, fraca, solitária, fragilizada.   P. 127



De acordo a Benjamin Franklin “tempo é dinheiro”, definindo o individuo como o animal racional que faz ferramenta , e se assim o faz, faça bom uso.  P.130

O tempo se torna dinheiro depois de ser tornado uma ferramenta, ou uma arma por assim dizer, voltada principalmente para vencer a resistência do espaço, encurtar as distâncias, tornar exequível a superação de obstáculos e limites à ambição humana.

Quantas viagens foram possibilitadas por meio dessas ferramentas? Quantas pessoas foram atingidas por meio dessas ferramentas? Quantas mais, quantas possibilidades.

Com o advento do vapor e do motor, uma explosão de ideias  - um facilitador  -  a possibilidade de chegar onde quer que queiram e rapidamente e com segurança e conforto .

Na era dos motores quem viajasse mais depressa podia reivindicar mais territórios, e controla-los e mapeá-los e supervisioná-los. O tempo acomoda tudo, traz conhecimento, promove experiências.

Pode se considerar o começo da era moderna as várias facetas das práticas humanas.  P. 131

A relação entre tempo e espaço emancipatório, mutável e dinâmico.

Descartes já dizia “ penso logo existo” e Rob Shieldes “ ocupo espaço, logo existo” e de acordo a Michel de Certeu “poder , consiste em territórios e fronteiras” já Chesswell afirma que “as armas dos fortes são: classificação, delineamento e divisão”.

Essa foi a era das maquinas pesadas “quanto mais melhor, quanto maior melhor” tamanho é poder, volume é sucesso. A conquista do espaço era o objetivo supremo.

Riqueza e poder de tamanho e qualidade tendem a serem  lentas, resistentes e complicadas de mexer. Exige ação a longo prazo. Crescem ocupando o lugar  e protegem-se, protegendo este lugar. P. 133

A lógica do poder e a lógica do controle estavam estritamente ligadas entre o dentro e o fora . O tempo para o trabalho era flexível, o tempo para colonização e fortificação do indivíduo dentro do espaço conquistado era inflexível, rígido e uniforme – controle absoluto sobre o individuo - Um casamento sólido entre o indivíduo , o capital e o trabalho.

Com o advento do capitalismo, do software, da modernidade leve, de formas organizacionais mais soltas, flexíveis, voláteis, onde o espaço é livre.

O tempo instantâneo e sem substâncias, múltiplo, complexo e rápido – num universo de viagem a velocidade da luz , onde o espaço pode ser atravessado literalmente a esta velocidade, não impondo mais limites a ação e seus efeitos, com isso perdeu seu valor estratégico.  A estratégia agora consiste não mais no domínio do tempo e espaço mas sim do indivíduo.

A leveza e a infinita volatilidade e flexibilidade da agência humana. Instantaneidade, essa é a palavra chave.  P. 138

O domínio agora está nas mãos de pessoas. Em nossa própria capacidade de escapar, de nos desengajarmos, de estar em “outro lugar” e no direito de decidir sobre a velocidade com que isso será feito e  ao mesmo tempo de destituir os que estão do lado dominado e de sua capacidade de parar ou de limitar seus movimentos ou ainda , torna-los mais lentos.

A batalha crucial é travada entre forças que impunham respectivamente as armas da aceleração e da procrastinação. Quanto mais ágil, maior o efeito.  P. 139

O acesso  diferencial , a instantaneidade é fator crucial, preponderante, entre as versões correntes do fundamento duradouro e indestrutível das divisões sociais em todas as suas formas , historicamente cambiantes. O acesso diferencial a imprevisibilidade e, portanto a liberdade. P.139



A modernidade leve permitiu que um dos parceiros saísse da gaiola. A modernidade “sólida” era uma era de engajamento mútuo. A modernidade “fluida” é a época do desengajamento, da fuga fácil e da perseguição inútil. Na modernidade “liquida” mandam os escapadiços, os que são livres para se mover de modo imperceptível.  P.140



E assim se constituíram as modernidades , pesada, capital, trabalho e dominação. Sólida, a era do engajamento mítico. Fluida, a era do desengajamento, da fuga fácil, da perseguição inútil e a modernidade líquida, onde mandam os mais escapadiços, os que são livres param se mover de modo imperceptível.

Volume e tamanho deixaram de serem recursos e passaram a se tornarem riscos. Se a ciência da administração centrava-se em conservar a mão-de-obra e forçá-la, subordiná-la, hoje, a arte da administração consiste em afastá-los, manter afastada a mão de obra humana. Forçá-los a saírem e assim serem substituídos por máquinas, softwares, muito mais fáceis  de acomodar, para coordenar, deixando de lado a tarefa exaustiva do gerenciamento.  P.141

Encontros breves substituem engajamentos duradouros.

Fusões e redução de tamanho não se contrapõem. A fusão pronuncia uma corda mais longa para o capital esguio e flutuante – o capital , ganha mais campo de manobra. A redução de tamanho ganha espaço, maior mobilidade, propulsão e deslocamento fácil e auto acelerado / agilidade e o medo de perder o jogo da competição fica para os fracos, os pequenos os desafortunados, ou melhor, aqueles que não tiveram competência para tal – o maior não se traduz pelo mais eficiente , o melhor sim, é o mais eficiente.  P. 143

Um jogo global onde se  arrisca, coloca-se numa rede de possibilidades. Se jogar, e claro !

A era do desapego, nada de compromisso duradouro.

A era do individuo destemido, determinado, imediatista, intenso.    Carpe Diem

Uma viagem onde o ilimitado das sensações possíveis ocupa o lugar que era ocupado nos sonhos, pela duração infinita. E nessa viagem os trilhos continuam a serem desmontados e remontados a medida que a locomotiva avança e as marcas da montagem vão sendo apagadas, sem deixar rastros, rapidamente, instantaneamente. Na mesma rapidez , com a mesma facilidade, com a mesma velocidade com que foram montadas.  P. 144



A indiferença em relação à duração transforma a imortalidade de uma ideia numa experiência e faz dela um objeto de consumo imediato: é o modo como se vive o momento que faz desse momento “uma experiência imortal”.  CITAÇÂO   P.144



A instantaneidade (a anulação da resistência do espaço e liquefação da materialidade dos objetos) faz com que cada momento pareça ter capacidade infinita;  e a capacidade infinita significa que não há limites ao que pode ser extraído de qualquer momento – por mais breve e “fugaz” que seja. 

P. 145  CITAÇÂO





A questão agora é encurtar o espaço de tempo da durabilidade, de esquecer o longo prazo, de focar na manipulação de transitoriedade ao invés da durabilidade, de dispor levemente das coisas para abrir espaço para outras igualmente transitórias e que deverão ser usadas instantaneamente,  consiste no privilégio de poucos afortunados, e que faz com que estejam sempre acima.

Manter as coisas por longo prazo, produto, emprego, vínculo com o futuro, para além de seu prazo de descarte e para além de seus substitutos novos e aperfeiçoados estiverem em oferta, é ao contrário, sintoma de privação, ou seja, torna-se inviável.   P. 146

A desvalorização da instabilidade não pode senão anunciar uma rebelião cultural. Decisivamente o marco mais decisivo na história cultural humana. Consiste em peneirar, sedimentar, consolidar duras sementes de perpetuidade a partir de transitórias vidas humanas e de ações humanas fugazes, em invocar a duração a partir da transitoriedade, a continuidade a partir da descontinuidade e assim transcender os limites impostos pela mortalidade humana, utilizando homens e mulheres mortais a serviço da espécie humana mortal. 

A nova instantaneidade do tempo muda radicalmente as modalidades de convívio humano, tanto pessoal quanto coletiva.   P.147

Credibilidade é um recurso valioso.

Atribuição da confiança é uma ferramenta, é a arma mais zelosa.



A escolha racional na era da instantaneidade significa buscar a gratificação, evitando as consequências e particularmente as responsabilidades que em consequências podem implicar. Traços duráveis de gratificação de hoje hipotecam as chances de gratidão do amanhã.  A  duração deixa de ser um recurso para tornar-se um risco; o mesmo pode ser dito de tudo que é volumoso, sólido e pesado – tudo o que impede ou restringe o movimento.   P. 148

Na visão de Gui Debord ”os homens se parecem mais com os seus tempos que com seus pais”. O advento da instantaneidade conduz o indivíduo a um território não mapeado e não explorado, E esse indivíduo insiste em querer esquecer o passado, e não parece mais acreditar no futuro – mas a memória do passado e a confiança do futuro foram os pilares em que se apoiavam as pontes culturais e morais, entre a transitoriedade e a durabilidade, a mortalidade e a imortalidade.  P.149



TRABALHO   IV



A autoconfiança moderna deu um brilho todo novo, inteiramente novo a eterna curiosidade humana sobre o futuro.

O futuro era visto como os demais produtos numa sociedade de produtores; profetas e pensadores, alguma coisa a ser  pensada, projetada e acompanhada, em seu processo de produção. O futuro era a criação do trabalho e o trabalho era a fonte de toda a criação.

Toda sociedade hoje está conscientemente comprometida com o crescimento e planejamento sócio político, por uma nova metodologia que promete oferecer fundamentos mais confiáveis para alternativas e escolhas.

Para dominar o futuro é preciso estar com os pés firmemente plantados no presente. O progresso remete a autoconfiança do presente. Todavia, essa solidez num mundo em constante transição está perdendo sua soberania, sua credibilidade e sua confiabilidade.

O poder de fazer as coisas, o poder de estimular as pessoas, perdeu-se no espaço e no tempo –  O centro do controle tornou-se oculto; nunca mais será ocupado por um líder conhecido ou por uma ideologia clara.   P. 154

Estamos na era das incertezas, inseridos numa sociedade emancipada, donas de suas escolhas, responsáveis por elas.

O progresso não é mais uma medida temporária, e sim uma questão transitória que leva eventualmente, e logo, a um estado de perfeição. Mas um desafio e uma necessidade perpétua e talvez sem fim, o verdadeiro significado de permanecermos vivos e bem.

Agora individualizado, mais precisamente, desregulado e privatizado. Livre competição, disputa, porém não coletivo, individualizada. São homens e mulheres  que a suas próprias custas deverão usar individualmente seu próprio juízo. Com otimização de recursos, garantindo trabalho e ou empregabilidade para elevar-se a uma condição mais satisfatória – para sua própria sobrevivência, se tornando o centro do seu próprio planejamento pessoal e condições de vida. De fato é preciso escolher e mudar a própria identidade pessoal e assumir os riscos de  fazê-lo.     P. 156

Ancorando um presente instável e transitório.

O “trabalho” assim compreendido era a atividade que se supunha que a humanidade, como um  todo, estava envolvida por seu destino e natureza, e não por escolha.

Hoje, na modernidade liquida, os trabalhos humanos se dividem em episódios isolados como o resto da vida humana. E, como no caso de todas as outras ações que o indivíduo  pode empreender, o objetivo de manter um curso próximo a projetos dos atores é evasivo, talvez inatingível.

O trabalho escorregou do universo da construção, da ordem e do controle do futuro em direção do reino do jogo, onde atitudes de  trabalho  se parecem mais com as estratégias de um jogador que se  põem modestos objetivos de curto prazo, não antecipando mais que um ou dois movimentos. O que conta são os efeitos imediatos de cada movimento, direcionando as próximas ações.

O trabalho não pode oferecer eixo seguro em torno do qual envolva e fixa auto definição, identidades e projetos de vida.  P. 160

Privilégio prestigio e honra em prol de si, para si, não mais do que pelas partes.

Do coletivo para o individual. Agora cada qual pensando em si, garantido pra si.

Poucas pessoas apenas, e mesmo assim raramente, reivindicam tais objetivos gerados pelo trabalho que realizam.

A pessoa é medida e avaliada pela sua capacidade de entreter e alegrar, satisfazendo não tanto a vocação ética do produtor e criador quanto às necessidades e desejos do consumidor que está em busca, a procura de sensações e coleciona experiências. E a grande transformação que trouxe à vida a nova ordem industrial, emancipatória.   P. 161

Foi a separação dos trabalhadores de suas fontes de existência, agora , fontes de subsistências – sem vínculos, sem estabilidades, livres , desconectados – parte da alegre sensação da libertação – autônomo, autodeterminado e livre para estabelecer seus próprios desígnios.  P. 163

A mentalidade, em longo prazo, presumia mútuo engajamento, direto, face a face, de capital e trabalho, uma expectativa nascida das experiências das pessoas que compram e das pessoas que vendem. Entrelaçada, abrangendo os interesses de todos. Uma troca aceitável, solidificada, onde senhores e serviçais se entendiam, cada qual com seus interesses. O proletariado, o trabalho, á fim de garantir o sustento. Os donos das grandes fábricas, a linha de produção. Às vezes por acrimonia, indelicadeza, aspereza, confronto. Por vezes, por acordos e concessões.

A mentalidade em curto prazo, emancipatória, flexibilizada é o slogan, anunciando mudanças socioculturais e o fim de um casamento solidificado pelo tempo, o advento do trabalho por contrato duradouro, o fim da estabilidade, a desregulação social e econômica.  P. 170

A presente visão liquefeita, fluida, dispersa, espalhada e desregulada da modernidade pode não implicar o divórcio e ruptura final da comunicação, mas anuncia o capitalismo leve e flutuante, marcado pelo desengajamento e enfraquecimento dos laços que prendem o capital do trabalho.

Desse movimento ecoa a passagem do casamento ara o “vive junto” com todas as atitudes disso decorrentes, consequências estratégicas, incluindo a suposição de transitoriedade, da coabitação e da possibilidade onde a associação seja rompida, se conveniente for, a qualquer momento, e por qualquer razão, uma vez desaparecida a necessidade e o desejo.   P. 171

Estar livres de laços complicados, compromissos embaraçosos e dependências limitadoras da liberdade de manobra, serão sempre as armas preferidas e eficazes da dominação.

A velocidade do movimento se tornou um fator relevante, talvez a principal da extratificação social e da hierarquia da dominação – classificação das pessoas em grupos , com base nas condições sócio econômicas comuns - , sempre observando quem está no topo e quem faz parte da base.

Terras habitadas por estrangeiros, na mãos daqueles que apresentam melhores condições, os afortunados, dominando o tempo e os espaço, com melhores oportunidades que os verdadeiros donos, tirando proveito de uma liberdade conquistada pela condição.  Capital estrangeiro.

Tendo se livrado do entulho do maquinário volumoso e das enormes equipes de fábrica, o capital leve, apenas com a bagagem de mão – pasta, computador e celular – e um espaço para se comunicar. Uma grande ideia, este é o produto e o foco consiste no consumidor, naqueles que irão gerar o capital , alimentar,  se lançar, absolver, tirar proveito dessa grande ideia , fortalecendo assim a demanda pelas ideias em oferta.

A ferramenta é o individuo, sua criatividade, sua ideia, e é ele quem vai torna-la fonte de consumo, desejável, vendável. Assim como é o indivíduo que vai adquirir, possuir, comprar tal ideia.    P. 174

A mão de obra, a matéria prima, o maquinário de fácil acesso e manipulação, infiltrados numa sociedade de valores voláteis, despreocupada com o futuro, egoísta, hedonista, emancipada e autônoma.

A organização, seja ela capital, seja ela social, de hoje, apresenta um elemento de desorganização, deliberadamente embutido, organizaçoes estas que possam ser formadas, desmanteladas e repostas rapidamente, instantaneamente, a curto prazo. Quanto menor solidez e maior fluidez, melhor.   P. 178



Digressão, procrastinação – desvio momentâneo do hoje, do aqui, do agora - Deixar para depois, para outro dia . O tempo presente carece de sentido, de valor, tido como falho, deficiente e incompleto.  O sentido do presente está adiante, uma corrida abrupta e inexplicável contra tempo  - a ânsia pelo amanhã.

Vive-se a vida como peregrinação e obriga cada presente a servir a alguma coisa que ainda não é – que parece vir a ser – trabalhando para a proximidade e a imediatez dessa coisa, desse momento .

Uma busca por algo que parece estar logo a frente, e fazendo com que o indivíduo deixe para trás o aqui e agora, deixando para depois o que precisa ser visto, ser vivenciado hoje . Um movimento que aproxima do objetivo, mas que não o alcança. Cada presente é validado por alguma coisa que vem depois.

Procrastinar e manipular as possibilidades do presente, deixando , manipulando, adiando, inconscientemente, mantendo-o a distância, transferindo sua imediatez.

O sentido do presente está a frente, na forma de adiantamento da situação . Arar e semear acima de colher e ingerir o produto, um dito popular  “o cavalo na frente dos bois”,  o investimento acima do lucro, a poupança, a reserva acima do gasto. Primeiro eu consumo e depois eu vejo como vou vou pagar. A auto contenção acima da auto indulgência, o trabalho acima do consumo.  P. 181



Agora não mais o sacrifício, o planejamento , mas sim a procrastinação frente a essa contenção. Abolição do adiamento em questão, isso em meio a muitos conflitos, desestrutura , desequilíbrio e sujeição mercadológica. Submissão aos interesses da classe dominante. Uma mudança de valores culturalmente construída.  P. 182

Os laços humanos no mundo fluido – precariedade, vulnerabilidade e instabilidade são as características mais profundas, mais definidas das condições de vida da sociedade contemporânea. Um fato novo e sem precedentes, uma sociedade liquefeita de atitudes rápidas, sem planejamento, sem envolvimento, sem responsabilidades, sem cobranças.  P.184

Quão frágeis e incertas se tornam as vidas, sobrevivendo ao caos.

Condições econômicas e sociais precárias, tornam o indivíduo ou o faz aprender por caminhos mais difíceis. Num mundo em que o futuro, é na melhor das hipóteses, sombrio e nebuloso, colocar-se a objetivos distantes, abandonar o interesse privado para aumentar o poder do grupo e sacrificar o presente em nome de um futuro não parece ser uma proposição atraente ou mesmo razoável.

Qualquer oportunidade que não for aproveitada aqui e agora é uma oportunidade perdida.

“Agora”,  é a palavra chave da estratégia da vida – num mundo inseguro e imprevisível, o viajante esperto fará o possível para imitar os felizes e globais que viajam leve – sem peso – e não derramarão muitas lágrimas ao se livrar de qualquer coisa que atrapalhe os movimentos.  P. 187

Laços e parcerias tendem a ser vistos e tratados como coisas destinadas a serem consumidas e não produzidas. Compromissos do tipo “até que a morte nos separe” serão transformados em contratos do tipo “enquanto durar a satisfação”, temporais e transitórios, por definição por projeto ou por contrato pragmático – livres, em busca de melhores oportunidades – Não há qualquer razão para se ficar com um indivíduo ou um produto que seja inferior, envelhecido. Transitoriedade.

Pequenos problemas podem causar grandes rupturas. Desacordos triviais tornam conflitos amargos. São tomados como sinal de incompatibilidade, essencial e irreparável. Uma ação leva a outras ações.   P. 188

A negociação de laços duradouros já não faz parte dos dias atuais. Tudo a curto prazo e sempre que possível sozinho.  P. 189

A auto perpetuação da falta de confiança frente ao desenvolvimento compulsivo e obsessivo em questão.

É muito difícil construir a confiança em organizações que estão sendo ao mesmo tempo desmanteladas, reduzidas e sofrendo impactos e mudanças complexas e ininterruptas.

Projeções futuras são  para quem tem firmeza no presente.

O capital é cada vez mais global, enquanto que o indivíduo permanece local e se move, não com a mesma velocidade global, mas com a velocidade que “pode” se mover, a sua condição,   P.190

Por esta razão estão expostos, desarmados aos indescritíveis caprichos de misteriosos “investidores” e “acionistas” e das ainda mais desconcertantes “forças de mercado”, “termos de troca” e “demandas de competição” e o que quer que ganhe hoje pode lhes ser tirado amanhã. Sempre uma condição de risco e sem aviso prévio.   P. 191

O fato é que o contexto da vida, o ambiente social em que o indivíduo vive, sendo suas escolhas ou não, conduzem a afazeres da vida, onde quanto mais divertido, mais fácil. Mais dominado, mais cercado por ideologias discretamente inseridas e discretamente induzidas, além do que  levemente absorvidas, quase que imperceptivelmente.



Comunidade  - O sujeito, o indivíduo não erraria seu trajeto, seu caminho, suas escolhas a menos que condicionado, empurrado, encurralado, atraído pra fora da reta, do caminho , da trilha iluminada pela razão.  P.193

Escolhas diferentes são os sedimentos de trapaça da história – inconsolidada – costumes e atitudes inconsolidados – passíveis de inferências e alterações – de influência e de domínio.

Em termos sociológicos o comunitarismo é uma reação esperável à acelerável liquefação da vida moderna, onde cossequências penosas, conflitos e crescente desequilibrio  entre  a liberdade e a garantia individual e coletiva, por causa da fragilidade dos laços humanos. Uma corrente quebrada em vários elos. P 195

Obstáculos formidáveis para perseguir eficazmente determinados indivíduos, tendo como principal apelo, a procura da chegada a um porto seguro, em meio as constantes mudanças, a imprevisibilidade e as tempestades em meio ao caminho percorrido.

Homens e mulheres  buscam  grupos sociais em que tenham afinidades, que possam fazer parte, num mundo em que tudo mais se desloca e muda. E exatamente quando a comunidade entra em colapso, inventa-se a identidade. Buscando valorizar as raízes, as culturas historicamente construídas, como que resgatando a essência do indivíduo na sociedade e meio que justificando o porquê das “escolhas”.   P. 196

Determinados grupos, determinados indivíduos influenciados pela cultura a que pertença. O conjunto de características que distingue uma pessoa ou uma coisa, e por meio das quais é possível individualiza-la.

Embora as pessoas tenham que escolher entre diferentes grupos de referência de identidade, sua escolha implica a forte crença de que quem escolhe não tem a opção a não ser ao grupo específico a que pertence.

Hábitos rotinizados e expectativas costumeiras, aconchegante, imune, até então impenetrável,  de aspectos menos atraente do pertencimento, estes são grupos familiares no porto seguro a que tanto se estimava “aqueles que não se deixavam levar “, hoje, também estão em decadência, em extinção, influenciados por uma emancipação, pela transitoriedade e desequilíbrio social.

Uma comunidade includente, que permite que “estranhos” façam parte seria um contradição em termos, todavia incompleta, inacabada, talvez impensável,  ainda que desejável, e  permite, e possibilite tal ação.      P. 198

O mundo comunitário está completo porque todo o resto é irrelevante, mais exatamente, hostil – um ermo repleto de emboscadas e conspirações e fervilhante de inimigos que brandem o caos como sua arma  principal – A harmonia interior do mundo comunitário brilha e cintila contra a escura e impenetrável selva que começa do outro lado da estrada.

O desejo de endemonizar os outros se baseia nas incertezas antológicas – tais atitudes são naturais  do indivíduo “devemos escolher a lealdade, á ética, à nossa natureza -  como se tudo que o indivíduo faz fosse e sempre será  de livre escolha -  A ideia de etnicidade e de homogeneidade étnica por uma especificidade sócio cultural – religião, língua, costumes – com base legítima da unidade e da auto afirmação ganhou com isso uma fundamentação histórica.  P.198

Quando há uma supressão da comunidade e ou grupo, é motivo de grande sucesso e satisfação para aqueles que ambicionam dividir, fragmentar até que se extingua. Contando com poderoso apoio da imposição legal e de um sistema legal unificado.

Enquanto que o patriotismo pende para uma visão subjetiva, o nacionalismo pende para o conhecimento e as experiências adquiridas por toda a vida do indivíduo. O empirismo - alto grau de observação das coisas , das pessoas, das vivências, dos resultados frente as ações. Já o patriotismo tem a  ver com o pragmatismo, com as doutrinas pré estabelecidas – ideologias –

Estamos falando de uma nação construída.

O patriota destaca-se por sua benevolência e ou tolerância à variedade cultural de seu país. E como tolerar essa diversidade , um misto de pessoas de diferentes nações , e em meio a esse processo de globalização essa troca de convivência , é inevitável a não  alteração de seu estado nação sem alterar a essência do indivíduo, sua cultura, suas escolhas. Chegam e  trazem  consigo uma bagagem social diferenciada , que promove mudanças , desorganiza, desestrutura e nada será feito? E tudo se acomoda passivamente, aceitavelmente?  só que  não !

O nacionalismo é hoje o patriotismo indesejado e o patriotismo é hoje o nacionalismo indesejado – realidades desagradáveis, manipulações, adestramento e dominação.    P.200

 Hoje o patriotismo devora os estrangeiros, no sentido de absolver e se tornar igual, idênticos, deixando de lado, perdendo sua própria distintividade. Já o nacionalismo rejeita, repele, se fecha no seu mundo, constrói barreiras, e na medida do possível,  se opõe.   P. 202

A ideologia patriotista e nacionalista enxerga o indivíduo como eles, porém com diferenças. Há semelhanças porém na tomada de decisões políticas considera-se as diferenças.

O nacionalismo tranca as portas, arranca os ferrolhos, desliga as campainhas, declarando que apena os que estão dentro tem direitos de ai estar e se acomodar. Já s patriotismo é mais hospitaleiro, acessível. Não os deixa muito à vontade, porém os permite adentrar.

Com isso  a nação vai perdendo a sua essência, todavia, isto é de certa forma benéfico, viver em conjunto significa negociação, conciliação de interesses, coerção, opressão.   P. 203

Amplia os horizontes da comunidade, da humanidade e multiplica as oportunidades sem debate, sem confronto, sem negociação, sem compromisso entre valores, preferências e caminhos “escolhidos”.  Uma realização conjunta de agentes engajados na busca de auto identificação, e uma vez que as crenças, valores e costumes foram privatizados, descontextualizados e desmontados, agora, um indivíduo frágil, volátil e desestruturado.



Como afirma AlanTourbine  ”o fim da definição de ser humano como ser social, definido por seu lugar na sociedade, que determina seu comportamento ou ação”, e assim a defesa, pelos atores sociais, de sua “especificidade cultural e psicológica”, só pode ser conduzida com “consciência de que o princípio de sua combinação pode ser encontrada dentro do indivíduo, e não mais em instituições sociais ou princípios universais”      p. 204



Tal definição demanda muita iniciativa individual apoiada em astúcia e determinação.    P.205

Não há definição que não seja autoafirmação nem identidade que não seja construída.   P.205

Tudo se resume à força do agente em questão.

Essa universalidade, uniformidade tende a diferir em proporção direta aos meios e recursos em que os atores dispõe. Cada qual se resguardando a seu modo e condição – isolados e cercados – equipados intrincados sistemas de comunicação e câmeras - Ricos para um lado e pobres pra outro lado – e o mito, a crença da solidariedade comunitária – um ritual de purificação –

O que distingue esse compartilhamento mítico, é que as pessoas sentem que pertencem umas as outras. E ficam juntas.

O sentimento de nós, que expressa o desejo da semelhança,  é um modo de evitar o olhar mais profundamente, nos olhos dos outros.   

Assim são as iniciativas do poder público – a proteção à vida – todavia, a estrutura pertence ao indivíduo e o que não falta são os conselheiros . E em meio às incertezas e a falta de garantias das autoridades que são os provedores da ansiedade, o ápice da desestruturação.  P.207

Um verdadeiro sonho de consumo num mar de turbulências e hostilidades. Levemente, sutilmente, subjetivamente. Seguidos de sua recusa em endossar as aspirações de certeza, segurança e garantias de seus cidadãos. Atolados num mar de areia movediça sem ter pra onde correr.  P. 211

A luta pela existência significa a luta pelo espaço, entre o mais rápido e o mais lento. P. 215

O poderio da elite global consiste em escapar aos compromissos globais, e a globalização se destina a evitar tais necessidades, tarefas e funções , descentralizando. De modo a ocupar as autoridades locais somente como papéis de guardiões  da lei e da ordem.  Por conta da exaustiva quantidade e busca por soluções , as resoluções aparecem gradativamente, parcialmente, incompleta, deixando um gostinho de dependência, algo ainda  por fazer.

Carência, sujeição, ansiedade e espera.

Desestabilizados, vulneráveis, desestruturados , controlados e subordinados  aos interesses políticos.   P. 217

A globalização parece ter mais sucesso em aumentar o vigor da inimizade e da luta intercomunal  do que promover a coexistência pacífica das comunidades. Distanciamento,

Qual o resultado que se espera de uma guerra, seja ela qual for?  Desestabilizar o grupo.

Desestabilizar a comunidade, a raça, o local, o individuo, e há de se considerar, como ficará o vazio , a ferida aberta, depois de tudo , depois que a raízes da viabilidade estado nação foram cortadas.

As forças globais do mercado, jubilosos, com a perspectiva de não mais serem detidos ou obstruídos, provavelmente se instalarão no local, mas não querer, nem conseguir, se assim o quiserem representar as autoridades políticas ausentes ou enfraquecidas. “terra de ninguém”

E não será apenas a tarefa da reconstrução material, mas também acalmar os ãnimos dos agitados e inflamados chauvinistas, ou seja, os militares, revigorados pelo êxito, pela glória, pelo poder exercido, pela conquista  - donos de toda a força e poder   e de uma frieza desmedida, escomunal – Nem tão pouco se dará essa oportunidade de reconstrução aos refugiados, lembrando que a mútua acomodação e a amigável coexistência de línguas, culturas e religiões, traz em si desajustes, desequilíbrio e conflito, prato cheio para as autoridades em relação a sociedade moderna liquida.

Como a globalização da economia procede aos saltos e os governos cada vez mais dependentes, fracos, submissos frente as negociações e interesses, torna-se cada  vez mais dificultoso separar os atores e seus objetos passivos, o governo e a sociedade, pois os governos competem entre si a fim de seduzir, buscar para si, em seu benefício o advento da globalização.    P . 220

Se o princípio da soberania estado-nação está desacreditado, quebrado, desvalido de ações, em estado terminal,  haverá um sistema global de freios e contrapesos para limitar e controlar as forças econômicas globais, pois o descontrole gera perda de poder, descompensação, negociação e renegociação.

“Território flutuante” em que “indivíduos frágeis” encontram uma realidade “porosa” a esse território só se adaptam coisas ou pessoas fluidas, ambíguas, num estado permanente de transformação, aberto, num estado constante de autotransgressão.

O enraizamento, se existir, só pode ser dinâmico, reafirmado e reconstruído diariamente.

Indivíduos frágeis anseiam por segurança, e pra ser alcançada, adquirida, correm contra o tempo, a fim de conseguir o que tanto buscam. Seja ela material ou de cunho emocional, ela tem um preço a se pagar e exige um tempo de que muitos não se dispõem.

A velocidade,  porém não é propicia ao pensamento a longo prazo, e estando entre corredores rápidos, diminuir a velocidade significa ser deixado pra trás. Portanto, a velocidade sobe pra o topo dos valores da sobrevivência.  P.238

A sociedade autônoma e a liberdade de seus membros se condicionam mutualmente. P. 243

Obediência e conformidade humana fazem parte da modernidade sólida,

Promoção da autonomia e da liberdade faz parte da modernidade liquida, pautada pela descentralização – onde as responsabilidades pelas próprias ações não são, não precisam ser assumidas – há o repasse .

Egoísmo da sociedade sólida, individualismo da sociedade líquida.  

E os indivíduos afetados estão agora “ocupados” criando pequenos grupos para seu próprio desfrute e deixando a sociedade “maior” de lado – essa fragmentação, esse viver em meio a uma multidão de valores, normas, condutas e estilos de vida, todos competindo pelo espaço, pelo tempo, uma corrida que não garante chegarmos vitoriosos ao final, pois a confiança de estarmos agindo corretamente, de estarmos certos nessa jogada, nesse abismo de incertezas, é perigoso e cobra um alto preço psicológico – fugir da escolha responsável, planejada, pautada por valores comum a todos, ganha força, espaço e forma e  tem como consequências catastróficas, desajustes,  desordens materiais, pessoais e ou emocionais. P. 244


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