A Comunidade na Modernidade Líquida
Homens
e mulheres buscam grupos sociais em que tenham afinidades, que
possam fazer parte, num mundo em que tudo mais se desloca e muda. E exatamente
quando a comunidade entra em colapso, inventa-se a identidade. Buscando
valorizar as raízes, as culturas historicamente construídas, como que
resgatando a essência do indivíduo na sociedade e meio que justificando o porquê
das “escolhas”.
Determinados
grupos, determinados indivíduos influenciados pela cultura a que pertença. O
conjunto de características que distingue uma pessoa ou uma coisa, e por meio
das quais é possível individualiza-la.
Bauman nos afirma que embora
as pessoas tenham que escolher entre diferentes grupos de referência de
identidade, sua escolha implica a forte crença de que quem escolhe não tem a
opção a não ser ao grupo específico a que pertence.
Hábitos
rotinizados e expectativas costumeiras, aconchegante, imune, até então
impenetrável, de aspectos menos atraente
do pertencimento, estes são grupos familiares no porto seguro a que tanto se
estimava “aqueles que não se deixavam levar “, hoje, também estão em
decadência, em extinção, influenciados por uma emancipação, pela
transitoriedade e desequilíbrio social.
Uma
comunidade includente, que permite que “estranhos” façam parte seria um
contradição em termos, todavia incompleta, inacabada, talvez impensável, ainda que desejável, e permite, e possibilite tal ação.
O
mundo comunitário está completo porque todo o resto é irrelevante, mais
exatamente, hostil – um ermo repleto de emboscadas e conspirações e fervilhante
de inimigos que brandem o caos como sua arma
principal – A harmonia interior do mundo comunitário brilha e cintila
contra a escura e impenetrável selva que começa do outro lado da estrada.
O
desejo de endemonizar os outros se baseia nas incertezas antológicas – tais
atitudes são naturais do indivíduo
“devemos escolher a lealdade, á ética, à nossa natureza - como se tudo que o indivíduo faz fosse e sempre
será de livre escolha - A ideia de etnicidade e de homogeneidade
étnica por uma especificidade sócio cultural – religião, língua, costumes – com
base legítima da unidade e da auto afirmação ganhou com isso uma fundamentação
histórica.
Quando
há uma supressão da comunidade e ou grupo, é motivo de grande sucesso e
satisfação para aqueles que ambicionam dividir, fragmentar até que se extingua.
Contando com poderoso apoio da imposição legal e de um sistema legal unificado.
Enquanto
que o patriotismo pende para uma visão subjetiva, o nacionalismo pende para o
conhecimento e as experiências adquiridas por toda a vida do indivíduo. O
empirismo - alto grau de observação das coisas , das pessoas, das vivências,
dos resultados frente as ações. Já o patriotismo tem a ver com o pragmatismo, com as doutrinas pré
estabelecidas – ideologias .
Estamos
falando de uma nação construída.
O
patriota destaca-se por sua benevolência e ou tolerância à variedade cultural
de seu país. E como tolerar essa diversidade , um misto de pessoas de
diferentes nações , e em meio a esse processo de globalização essa troca de
convivência , é inevitável a não
alteração de seu estado nação sem alterar a essência do indivíduo, sua cultura,
suas escolhas. Chegam e trazem consigo uma bagagem social diferenciada , que promove
mudanças , desorganiza, desestrutura e nada será feito? E tudo se acomoda
passivamente, aceitavelmente? só
que não !
O
nacionalismo é hoje o patriotismo indesejado e o patriotismo é hoje o
nacionalismo indesejado – realidades desagradáveis, manipulações, adestramento
e dominação.
Hoje o patriotismo devora os estrangeiros, no
sentido de absolver e se tornar igual, idênticos, deixando de lado, perdendo
sua própria distintividade. Já o nacionalismo rejeita, repele, se fecha no seu
mundo, constrói barreiras, e na medida do possível, se opõe.
A
ideologia patriotista e nacionalista enxerga o indivíduo como eles, porém com
diferenças. Há semelhanças porém na tomada de decisões políticas considera-se
as diferenças.
O
nacionalismo tranca as portas, arranca os ferrolhos, desliga as campainhas,
declarando que apena os que estão dentro tem direitos de ai estar e se
acomodar. Já o patriotismo é mais hospitaleiro, acessível. Não os deixa muito à
vontade, porém os permite adentrar.
Com
isso a nação vai perdendo a sua
essência, todavia, isto é de certa forma benéfico, viver em conjunto significa
negociação, conciliação de interesses, coerção, opressão.
Amplia
os horizontes da comunidade, da humanidade e multiplica as oportunidades sem
debate, sem confronto, sem negociação, sem compromisso entre valores,
preferências e caminhos “escolhidos”. Uma
realização conjunta de agentes engajados na busca de auto identificação, e uma
vez que as crenças, valores e costumes foram privatizados, descontextualizados
e desmontados, agora, um indivíduo frágil, volátil e desestruturado.
Como
afirma AlanTourbine ”o fim da definição de ser humano
como ser social, definido por seu lugar na sociedade, que determina seu
comportamento ou ação”, e assim a defesa, pelos atores sociais, de sua “especificidade
cultural e psicológica”, só pode ser conduzida com “consciência de que o
princípio de sua combinação pode ser encontrada dentro do indivíduo, e não mais
em instituições sociais ou princípios universais”
Tal
definição demanda muita iniciativa individual apoiada em astúcia e
determinação.
Não
há definição que não seja autoafirmação nem identidade que não seja
construída. Tudo
se resume à força do agente em questão.
Essa
universalidade, uniformidade tende a diferir em proporção direta aos meios e
recursos em que os atores dispõe. Cada qual se resguardando a seu modo e
condição – isolados e cercados – equipados intrincados sistemas de comunicação
e câmeras - Ricos para um lado e pobres pra outro lado – e o mito, a crença da
solidariedade comunitária – um ritual de purificação – O
que distingue esse compartilhamento mítico, é que as pessoas sentem que
pertencem umas as outras. E ficam juntas.
O
sentimento de nós, que expressa o desejo da semelhança, é um modo de evitar o olhar mais
profundamente, nos olhos dos outros.
Assim
são as iniciativas do poder público – a proteção à vida – todavia, a estrutura
pertence ao indivíduo e o que não falta são os conselheiros . E em meio às
incertezas e a falta de garantias das autoridades que são os provedores da
ansiedade, o ápice da desestruturação.
De acordo a Bauman há um
verdadeiro sonho de consumo num mar de turbulências e hostilidades. Levemente,
sutilmente, subjetivamente. Seguidos de sua recusa em endossar as aspirações de
certeza, segurança e garantias de seus cidadãos. Atolados num mar de areia movediça
sem ter pra onde correr.
A
luta pela existência significa a luta pelo espaço, entre o mais rápido e o mais
lento...
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