O Significado da Infãncia
Miguel Gonzales Arroyo
O movimento da Identidade, à consciência das identidades sócio-culturais, avançou muito, ultimamente, e nos mostrou que cada idade tem a sua identidade. Cada idade não está em função da outra idade. Cada idade, tem em si mesma, uma identidade própria, que exige, uma educação própria e uma realização própria enquanto idade, e não enquanto preparo para outra idade. Isto tem revolucionado incrivelmente à concepção de infância (...)
(...) Quando pensamos em Educação Infantil como prioridade, falamos de infância, de que infância estamos falando ? (...) Cada idade de nossa vida tem as suas especificidades. O que entendemos por infância enquanto objeto ou sujeito de um projeto educativo prioritário ? Quando tentamos formular a nossa proposta de Educação Infantil, que concepção de infância nós temos ? Será que teremos que mudá-la ? Que concepção de Educação nós temos ?
Será que a concepção de educativo que nós temos para a infância é a mais apropriada?
Essas perguntas estão norteando as nossas tentativas de fazer uma proposta de educação Infantil. Estamos aqui para socializar as nossas preocupações. Não temos uma proposta pronta. Juntos vamos construindo uma proposta, uma prática político-pedagógica que interesse , realmente à infância (...).
Infância, realidade em permanente construção.
(...) Todos nós fomos infantes, fomos criança, e todos nós temos filhos, irmãos ou crianças com os quais trabalhamos.
A infância não existe como categoria estática, como algo sempre igual. A infância é algo que está permanentemente em construção. refiro-me à própria concepção de infância , que está em permanente construção.
A concepção que seus pais tinham de vocês quando eram crianças é muito diferente da concepção que vocês possam ter agora de seus filhos.
A infância rural é muito diferente da urbana. E isto é muito importante para se definir uma proposta de Educação para a infância.
Estamos em um momento em que a concepção de infância está mudando. Por que isto acontece? (...) o movimento social vai caminhando no sentido de definir, cada vez mais, grupos sociais com seus direitos e a infância avançou como " tempo de direitos".
Durante muitos séculos a infância não foi sujeito de direitos. Ela era simplesmente algo à margem da família, considerada como um vir a ser. Só era considerado sujeito quando chegava a idade da razão.
A igreja durante muito tempo, também pensou assim.
Hoje, á criança, pelo seu momento social, já é considerada como alguém que tem sua própria identidade, seus direitos.
(...) Á construção da infância, historicamente, depende muito da construção de outros sujeitos. (...) Dependendo do papel da mulher na sociedade, vamos encontrar um papel diferente para a infância. E este é um fenômeno muito sério na sociedade brasileira.
Na medida em que os setores populares não dão conta de produzir sua assistência, que tinha como centro o trabalho masculino, a mulher, que até então, está em casa trabalhando e produzindo, sai de casa para buscar trabalho. Também porque ela deseja entrar na sociedade e não só ficar em casa. Mas os setores populares nem sempre se colocam nessa questão. Nem sempre tem condições de dizer - eu opto pelo trabalho fora porque opto pela realização - .
O trabalho feminino, seja por necessidade, seja por opção, traz como consequência a necessidade de tornar coletivo o cuidado e a educação da criança pequena.
Surge, portanto, a infância como categoria social, não mais como categoria familiar. A reprodução da infância deixa de ser uma atribuição exclusiva da mulher, no âmbito privado da família. É o estado, que , complementando à família, tem que cuidar e educar para a infância.
Durante muito tempo, a preocupação do estado com à criança, começava aos sete anos de idade. A Constituição Brasileira ainda fala nisto: A obrigação pública começa com 7 anos, indo até os 14 anos.
A década de 80 mostrou à sociedade brasileira que isto não é verdade.
À infância deixou de ser apenas objeto dos cuidados maternos familiares e hoje tem que ser objeto dos deveres públicos do Estado, da sociedade como um todo.
estes fenômenos, estes fatos sociais, são fundamentais para que o educador tenha consciência de seu papel enquanto Educador da Infância.
Infância que muda, que se constrói, que aparece não só como sujeito de direitos, mas como sujeito público de direitos, sujeito social de direitos.
A nossa preocupação com a política de Educação da Infância não é por caridade, por amor, por afetividade, não é só isso. É por consciência da obrigação pública que nós temos frente à infância, diante da infância que passou a ser sujeitos de direitos públicos e , consequentemente, gerou obrigações públicas por parte do Estado.
(.,.) Sempre falamos que à Infância é o momento da educação, de preparação. A Infância condensava o momento dos cuidados, como se à criança fosse uma sementinha tenra, de que o educador cuidava como bom jardineiro.
O Educador , então, era visto como um parceiro, um condutor de infantes, e à Pedagogia sempre foi ligada à Infância.
(...) Não é assim que pensamos hoje.
O movimento da identidade, a consciência das identidades sócio-culturais, avançou muito, ultimamente, e nos mostrou que cada idade tem a sua identidade. Cada idade não está em função da outra idade. Cada idade, tem em si mesma, uma identidade própria, que exige, uma educação própria e uma realização própria enquanto idade, e não enquanto preparo para outra idade. Isto tem revolucionado incrivelmente à concepção de infância (...)
Escola, Tempo de Vivências de Direitos
Que concepção de educação temos para esta Infância que está em fase tão acelerada de redefinição?
Se colocamos um pouco de história de educação da Infância, vamos ver que, inicialmente, à Infância não é objeto de educação. Ela é objeto apenas de cuidado.
Portanto, a nossa proposta é a Educação. Á escola enquanto serviço público, permitindo a vivência de todas as dimensões da pessoa no presente.
Não queremos uma escola para um dia ser. Queremos uma escola onde na Infância a cidadania seja uma realidade. Em nome de um dia ser não deixemos que a criança seja no presente.
A ideia fundamental da nossa proposta é que a escola de educação Infantil dê condições materiais, pedagógicas, culturais, sociais, humanas, alimentares, espaciais, para que a criança viva como sujeito de direitos. Permita ter todas as dimensões, ações, construções e vivências.
portanto, ao invés de dizer - vamos preparar à criança para ser cidadão, preferimos dizer - à criança já é cidadão -.
Consideramos à escola como espaço de vivência da cidadania. Isto implica em algo bem diferente da orientação que está sendo abordada.
Há questões muito sérias para serem discutidas quando pensamos na Infância como direitos de vivências e não apenas como preparo para a adolescência ou a fase adulta.
Queremos trazer ideias traduzidas em práticas, para redefinir e construir uma proposta politico-pedagógica para à Infância.
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