“ ... que sabemos dos lugares é
coincidirmos com eles durante um
certo tempo no espaço que são. O lugar
estava ali, a pessoa apareceu,
depois a pessoa partiu, o lugar continuou,
o lugar tinha feito a pessoa,
a pessoa havia transformado o lugar. ...”
A vivência na cidade, por si só, constitui-se em um espaço cultural de aprendizagem permanente e espontâneo. Elas nos falam, às vezes gritam, chamam nossa atenção ao proclamar seus feitos, sua história.
Precisamos parar para escutá-las e nesse sentindo, elas também nos educam.
Precisamos parar para escutá-las e nesse sentindo, elas também nos educam.
Mas a cidade pode ser intencionalmente educadora? Pode ser considerada como uma cidade que educa quando, além de suas funções tradicionais (econômica, social, política e de prestação de serviços), ela exerce uma nova função, cujo objetivo é a formação para a e pela cidadania.
Para uma cidade ser considerada educadora, ela precisa promover e desenvolver o protagonismo de todos e de todas – crianças, jovens, adultos, idosos – na construção do direito à cidade de educadora.
De acordo a Moacir Gadotti, a resposta a essa pergunta depende da reposta a outra pergunta: o que é cidadania? Pode-se dizer que cidadania é essencialmente consciência de direitos e deveres, bem como exercício da democracia: direitos civis, como segurança e locomoção; direitos sociais, como trabalho, salário justo, saúde, educação e habitação; direitos políticos, como liberdade de expressão, de voto, de participação em partidos políticos e sindicatos. Não há cidadania sem democracia.
O conceito de cidadania, contudo, é ambíguo. Em 1789, a Declaração dos Direitos do homem e do Cidadão estabelecia as primeiras normas para assegurar a liberdade individual e a propriedade. Nascia a cidadania como conquista liberal. Hoje, tal conceito é mais complexo e, com a ampliação dos direitos, nasce também uma concepção mais ampla de cidadania. De um lado, existe uma concepção consumista de cidadania – o direito de defesa do consumidor, por exemplo- e, de outro, uma concepção plena, que se manifesta na mobilização da sociedade para a conquista de novos direitos e na participação direta da população na gestão da vida pública, através, por exemplo, da discussão democrática do orçamento da cidade. Esta tem sido uma prática, sobretudo no nível do poder local, que tem ajudado na construção de uma democracia participativa, superando os estreitos limites da democracia puramente representativa.
A cidadania precisa controlar o Estado e o mercado, perseguindo a utopia das cidades justas, produtivas, democráticas e sustentáveis, as quais, conseguem romper com o controle político das elites e de suas burocracias, estabelecendo uma nova esfera pública de decisão não-estatal, como o orçamento participativo e a constituinte escolar, que já se tornaram emblemáticos nas gestões populares. Já saímos, nesse campo, do puro terreno das propostas, e novas experiências vêm surgindo em diferentes partes do país, sendo realizadas por diferentes partidos políticos, que criam novas relações, novas formas de gestão, novos espaços de negociação e estimulam a reapropriação das cidades por seus cidadãos.
Um compromisso de todos!
Homens, mulheres, crianças e idosos, numa mesma linha de raciocínio, buscando interesses comum a todos, comprometidos com a educação presente e futura, baseando-se no passado, nas causas e consequências, na relação causa e efeito , dotados de conceitos e propostos que venha ao encontro de toda sociedade, para que esta seja justa e igualitária em direitos e deveres, em ações que visa um bem maior onde as responsabilidades são dividas, a atenção seja redobrada e o resultado seja satisfatório e comum a todos. Ações individuais e ações conjuntas na busca e conquista de valores globais, tendo como resultado a certeza de participação a responsabilidade sócio política e econômica , atento a todos e a tudo que esta acontecendo, aqui, ali e lá, mesmo que tão distante...
O papel da escola (cidadã), nesse contexto, é contribuir para criar as condições que viabilizem a cidadania, através da socialização da informação, da discussão, da transparência, gerando uma nova mentalidade, uma nova cultura em relação ao caráter público do espaço da cidade. Em uma perspectiva transformadora, a escola educa para ouvir e respeitar as diferenças, a diversidade, que compõe a cidade e que se constitui em sua grande riqueza. Para que a escola seja espaço de vida e não de morte, ela precisa estar aberta à diversidade cultural, étnica, de gênero e às diferentes opções sexuais. As diferenças exigem uma nova escola. E não basta respeitar os diferentes; é preciso valorizar as diferenças como uma grande riqueza.
A escola integra e articula os novos espaços de formação criados pela sociedade da informação. Ela deixa de ser “lecionadora” para ser cada vez mais “gestora” da informação generalizada, construtora e reconstrutora de saberes e conhecimentos socialmente significativos. Portanto, ela tem um papel mais articulador da cultura, um papel mais dirigente e agregador de pessoas, movimentos, organizações e instituições. Na sociedade da informação, o papel social da escola foi consideravelmente ampliado. Ela está presente na cidade e cria novos conhecimentos, sem abrir mão do conhecimento historicamente produzido pela humanidade, constituindo-se em uma escola científica e transformadora.
Gadotti afirma que a cidade violenta e insustentável deixa-nos em um clima de medo e falta de esperança. Nossa força como educadores e educadoras é limitada. Nossas escolas são também produto da sociedade. Contudo, a esperança, para o professor e para a professora, não é algo vazio, de quem espera acontecer. Ao contrário, a esperança, para os professores, encontra sentido na sua própria missão, a de transformar pessoas, dar nova forma às pessoas e alimentar, por sua vez, a esperança delas para que consigam construir uma realidade diferente, um mundo novo. Uma educação sem esperança não é educação.
Finalmente, educar para a cidadania é educar para um outro mundo possível. Educar para um outro mundo possível é fazer da educação, tanto formal, quanto não-formal, um espaço de formação crítica, e não apenas de formação de mão-de-obra para o mercado; é inventar novos espaços de formação alternativos ao sistema formal da educação; é educar para mudar radicalmente nossa maneira de reproduzir nossa existência no planeta. Não se pode mudar o mundo sem mudar as pessoas, já que estes são processos interligados.
Mudar o mundo depende de todos nós: é preciso que cada um tome consciência disso e organize-se. “Outro mundo é necessário. Educar para um outro mundo possível é educar para superar a lógica desumanizadora do capital, que tem no individualismo e no lucro seus fundamentos, ações conjuntas transformando radicalmente o modelo econômico e político atual.
Moacir Gadotti, é Doutor em Ciências da Educação, Professor Titular da Universidade de São Paulo e Diretor do Instituto Paulo Freire.