ESTÓRIAS E HISTÓRIAS
A
palavra estória, comumente aceita como sendo um relato de fatos não comprovados
(ou fictícios), fora designada para tal fim no início do século XX, por um
acadêmico brasileiro, sem carácter etmológico.
O
dicionário “Aurélio”, 4ª Edição, condena o verbete estória: "Recomenda-se
apenas a grafia história, tanto no sentido de ciência histórica, quanto no de
narrativa de ficção, conto popular, e demais acepções".
Voltando
as histórias, elas trabalham com uma série de ações que redimensionam o contato
do sujeito com o conhecimento.
O
conto de tradição oral nos faz adentrar no mundo da imaginação entrelaçada a experiência
de integridade. Nesse universo imaginário, os valores, a poesia, o ouro que
brilha, as paisagens que se multiplicam, princesas e rostos cobertos por véus,
nomes sonoros e desconhecidos falam de nós mesmos e se dirigem para aquele
lugar em nós intocados pela lógica do tempo/espaço e cotidiano, onde estão as
perguntas sem respostas, onde sabemos que tudo pode ser, onde fazemos parte da
eternidade do ser humano, além do tempo e da morte, como diz Durand. Assim, a função das narrativas
tradicionais “(...) é a de alimentar a alma poética, possibilitando a educação
do poder de representação imaginativa do mundo” (MACHADO, 2004, p.190-1).
A
este narrador pode-se chamar de contador urbano, aquele que inserido em uma
comunidade de tradição escrita, é portador de um repertório de histórias
ancestrais ou literárias, memorizadas e aprendidas por meio da leitura, da
pesquisa e por vezes pela oralidade. Acrescidos de uma criação que pressupõe
uma situação de apropriação e criação pessoal, perpetuando o patrimônio
cultural, não deixando que estas histórias se percam, compreendendo assim a sua
real importância e valor social. As narrativas tradicionais tem uma substância
comum.
Sendo
assim, o trabalho com histórias tradicionais nas escolas vai além de incentivos
à leitura e ou de gerar momentos de entretenimento aos alunos. A presença de um
narrador de histórias no cotidiano escolar traz possibilidades de um
revigoramento do próprio sentido do processo de ensino e aprendizagem.
O
conceito de experiência estética amplia o campo de atuação em si, à medida que
propõe um emaranhado de histórias pessoais e coletivas, que sejam marcadas por
um profundo sentido de identidade e (re) conhecimento do outro.
[...] não expressa apenas, uma determinada
cultura ou valores do passado, o conto é também a expressão universal da
condição humana. O contador é tecelão de sonhos e artesão de palavra. Permite a
familiaridade com o desconhecido, é o porta-voz de um tesouro esculpido há
séculos pelo imaginário popular, e que basta o olhar aguçado, para perceber e
desvendá-lo (Machado, 2004).
À
medida que o indivíduo relaciona sua experiência de mundo com certa capacidade
para expressá-la, de forma significativa e compartilhada, promove o intercâmbio
das coisas vividas, dando voz a experiência humana, às raízes culturais de
determinados grupos, tecendo com eles e para eles, dialogando, trocando e
interagindo, descobrindo, construindo valores e novos valores.
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