Música na Educação Infantil
Música
é a forma de arte de se combinar sons e silêncio, seguindo ou não uma pré-
organização, trabalhando a harmonia, o ritmo, a melodia entre outros aspectos.
Todas
as escolas brasileiras terão de incluir, no currículo da educação básica, o
ensino de música. A determinação consta na Lei 11.769, sancionada pelo
presidente Luiz Inácio Lula da Silva e passa a ser conteúdo obrigatório nas
escolas.
O
período de três anos serviu para que os sistemas de ensino se adaptassem às
exigências estabelecidas. Segundo o presidente da Associação Brasileira de
Educação Musical (Abem), Sérgio Luiz de Figueiredo, a música contribui para o
desenvolvimento dos alunos e traz benefícios cognitivos. "De uma forma
geral, a música faz parte das manifestações culturais. Contribui para a
formação humanística, para que as pessoas participem da interação social e
compreendam as manifestações sociais.”
Segundo
Clélia Craveiro, conselheira da Câmara de Educação Básica do CNE (Conselho
Nacional de Educação), o ano de 2011 foi data limite para que toda escola
pública e privada do Brasil tenham incluído o ensino de música em sua grade
curricular. "O objetivo não é formar músicos, mas desenvolver a
criatividade, a sensibilidade e a integração dos alunos", diz a professora.
A
função mais evidente da escola é preparar os jovens para o futuro, para a vida adulta
e suas responsabilidades, propiciando uma alegria que seja vivida no presente, dimensão
essencial da pedagogia, sempre considerando que a educação visa o
desenvolvimento pleno do educando.
Atualmente existem diversas definições
para música, mas, de um modo geral, ela é considerada ciência e arte, na medida
em que as relações entre os elementos musicais são relações matemáticas e
físicas; a arte manifesta-se pela escolha dos arranjos e combinações. Houaiss
apud Bréscia (2003, p. 25) conceitua à música como “[...] combinação harmoniosa
e expressiva de sons e como a arte de se exprimir por meio de sons, seguindo
regras variáveis conforme a época e a civilização”.
“A musica promove a sociabilidade e a
expressividade, introduz o sentido de parceria e cooperação, e auxilia o
desenvolvimento motor, pois trabalha com a sincronia de movimentos",
explica Sonia Regina Albano de Lima, diretora regional da Associação Brasileira
de Ensino Musical.
O
MEC recomenda que, além das noções básicas de música, dos cantos cívicos
nacionais e dos sons de instrumentos de orquestra, os alunos aprendam cantos,
ritmos, danças e sons de instrumentos regionais e folclóricos o que possibilita
conhecer a diversidade cultural do nosso país, além do que, permitirá aos
educadores trabalhar a coordenação
motora, o senso rítmico e melódico, a voz, o movimento corporal, a percepção, a
notação musical sob bases sensibilizadoras. É preciso enxergá-la como arte,
dando importância às sensações que diferentes autores querem aguçar nas pessoas
e fazer um comparativo dos resultados, sempre considerando que o processo de criação é intencional, no qual o professor discute e estabelece alguns temas para que sejam explorados, abrindo
espaço a novas criações e/ou composições,
pertinentes ao ambiente escolar. Um espaço ideal para criação, para que novos
valores sejam estabelecidos e que o até então desconhecido, seja apreciado.
De
acordo a Gardner e a teoria das inteligências múltiplas “Mesmo que um indivíduo
possua grande potencial biológico para determinada habilidade, ele precisa
de oportunidades para explorá-la e
desenvolvê-la, a cultura circundante desempenha um papel predominante na
determinação do grau em que o potencial intelectual de um indivíduo é
realizado” (Gardner, 1995, p, 47). A escola deve estimular as habilidades de
cada um e propiciar o contato com atividades que desenvolvam todas as inteligências.
Assim, todo ser humano possui certas capacidades essenciais em cada uma das
inteligências, mas, mesmo que um indivíduo possua grande potencial biológico
para determinada habilidade, ele precisa de oportunidades para explorar e
desenvolver. Gardner (1995)
destaca ainda que, as inteligências são parte da herança genética humana, todas
se manifestam em algum grau em todas as crianças, independente da educação ou
apoio cultural.
Segundo
Lisiane Bassi , coordenadora música da Rede Municipal de Franca diz que é
preciso entender que queremos desenvolver o espírito crítico, conhecer nossas
raízes, preservar nosso patrimônio e aumentar o repertório musical nacional. A
intenção é dar ao aluno a oportunidade de questionar o que é música, refletir
sobre sua linguagem e experimentar possibilidades ao agir como compositores, ir
além da apreciação e produção musical.
É
importante considerar à seleção musical devendo esta, contemplar diversas
categorias (como música eletrônica, erudita, concreta e aleatória) e estilos
musicais (como pop, rock, jazz, funk e blues) e priorizar o que os alunos não
estão acostumados a ouvir. É uma maneira inteligente de apresentar novos
parâmetros para que eles façam releituras e selecionem ou modifiquem suas
ideias e conceitos musicais, adquirindo o senso crítico.
Segundo historiadores, o fazer musical
de uma forma ou de outra, sempre esteve presente nas sociedades, desde as mais
primitivas épocas até os dias atuais. Sem dúvida, o nível de complexidade
musical se alterou com o passar do tempo, mas não perdeu a sua característica
de reunir pessoas.
Os estudos comprovam a importância da
música ao ser humano, especialmente às crianças, em fase de desenvolvimento e
aprendizado do mundo.
Verifica-se
que os jovens se identificam por um mesmo gênero musical, o que lhes dá e
reforça a sensação de pertencerem a um grupo, de possuírem um mesmo
conhecimento.
A música ajuda a afinar a
sensibilidade dos alunos, aumenta a capacidade de concentração, desenvolve o
raciocínio lógico-matemático e a memória, além de ser forte desencadeador de
emoções. E fazer música, principalmente em grupo, no coletivo, traz a noção da
importância da ordem e da disciplina, da organização, do respeito ao outro e a
si mesmo.
Segundo a professora, membro da
Sociedade Brasileira de Musicologia, compositora e regente Miria Therezinha
Kolling “A música é uma força geradora de vida, uma energia que envolve o nosso
ser inteiro, atuando de forma poderosa sobre o nosso corpo, mente e coração.
Além de alegrar, unir e congregar mensagens e valores, disciplinar e
socializar, a música forma o caráter e favorece o desenvolvimento integral da
personalidade, o equilíbrio emocional e social”
Já
que a música comprovadamente traz benefícios para a saúde física e mental,
incluí-la no cotidiano escolar certamente trará benefícios tanto para o
educando quanto para o educador. Os educadores encontrão nela mais um recurso,
e os alunos se sentirão motivados de forma lúdica e prazerosa.
De que maneira
trabalhar a música no contexto escolar?
• Pedir aos alunos que traga um objeto
sonoro à escola. Reunir os objetos e trabalhar com pesquisa, manipulação,
exploração e classificação desses objetos.
• O educador poderá gravar sons e pedir
para que as crianças identifiquem cada um, ou produzir sons sem que elas vejam
os objetos utilizados e pedir para que elas os identifiquem, ou descubram de
que material é feito o objeto (metal, plástico, vidro, madeira) ou como o som
foi produzido (agitado, esfregado, rasgado, jogado no chão). Assim como são de
grande importância as atividades onde se busca localizar a fonte sonora e
estabelecer a distância em que o som foi produzido e posteriormente trabalhar
os atributos do som:
·
Altura: agudo,
médio, grave.
·
Intensidade:
forte, fraco.
·
Duração: longo,
curto.
·
Timbre: é a
característica de cada som, o que nos faz diferenciar as vozes e os
instrumentos.
·
Descobrir os
sons da escola, a paisagem sonora, aproveitar um passeio dentro ou fora da
escola e descobrir sons característicos de cada lugar, captando a
característica do som, sua intensidade, sua duração. Perceba que alguns alunos
com audição mais aguçada perceberão inúmeros sons enquanto que outros quase
nada identificarão. Esses exercícios os tornarão cúmplices no processo de
construir um ambiente sonoro adequado a eles e a comunidade a que estão
inseridos. Faça o registro destas atividades.
Trabalhar
os movimentos corporais e de locomoção.
·
Imitar e criar
movimentos.
·
Andar seguindo a
pulsação.
·
Andar e correr
com paradas súbitas e/ou mudando a direção.
·
Criar e realizar
pequenas coreografias.
·
Experimente
combinar sons e imagens, associando a imagem de determinado personagem ao
som. O gordo som grave, o magro som
agudo; o movimento pesado som grave, o movimento leve, som agudo; o personagem
grande, som grave, o personagem pequeno som agudo. Ou mesmo numa brincadeira de
Morto Vivo, o vivo/som grave, o morto/som agudo. São inúmeras as
possibilidades.
·
Pode-se
trabalhar também, dependendo da faixa-etária a leitura da música “Orquestra Dos
Bichos” de Chico Roque e Carlos Colla e/ou a leitura do livro “Coral dos
Bichos” de Tatiana Belink que servirão de suporte ao trabalho além de que
possibilitará conhecer diferentes animais, suas características e também alguns
instrumentos musicais e que integrada às aulas de artes pode-se estudar e criar
diferentes atividades e até mesmo fazer a reprodução desses instrumentos. Ainda
pode-se acrescentar a leitura e apreciação da música “A Orquestra Dos Bichos” com
a participação do grupo musical Trem da Alegria, fazendo uma releitura e/ou
reprodução musical.
Outra dica de leitura está no Livro Música de Raquel Coelho, maravilhoso!
A autora fez uma minuciosa pesquisa de campo e nos trouxe um apanhado de textos informativos e diferentes instrumentos musicais, os primeiros instrumentos, os mais atuais, os mais conhecidos, enfim,isso sem contar o encanto das imagens, enriquecendo ainda mais a leitura.
Também pode ser oferecido aos alunos a leitura do Livro Tambores, Clarineta... de Svjetlan Junakovic, graciosissímo. Os alunos vão amar, pois em meio aos inúmeros ,instrumentos apresentados o autor trabalhou as características e formas de alguns animais, instigando a curiosidade e maior atenção dos alunos.
Tudo dependerá da faixa etária e do objetivo
em questão.
A proposta não é criar artistas, mas
sim a exploração da musicalidade, promovendo uma reflexão crítica sobre as
relações entre música, sociedade e indivíduo, assegurando uma educação
significativa e relevante, reconhecendo que, seguindo as palavras de Piaget
“[...] o quanto antes for estimulado, o quanto antes através do estímulo, se
possibilitará o aprendizado”.
Se
considerarmos as propriedades terapêuticas da música, veremos que as
atividades, assim relacionadas, servem de estímulo aos alunos com dificuldade
de aprendizagem e contribuem, para a inclusão. O educando fica envolvido numa
atividade cujo objetivo é ele mesmo, sua ação, sua participação está sendo
valorizada.
Estudos
indicam que crianças mentalmente deficientes e autistas geralmente reagem à
música quando todas as possibilidades se esgotaram, pois a música ativa a
tensão emocional, superando dificuldades de fala e de linguagem.Também os
estudiosos atestam que a terapia musical é amplamente utilizada em casos em que
existe distúrbio de fala.
Caberá
à escola e a comunidade incentivar, aprimorar e participar de forma ativa,
consciente dá importância de se trabalhar á música em seus diferentes aspetos,
gostos e gêneros, possibilitando prazer em aprender, assegurando igualdade de
chances, conhecimento, numa manifestação permanente e harmoniosa da vida.
Quanto as metodologias e estratégias a serem utilizadas, integrada as aulas de
artes, a ideia é trabalhar com uma equipe multidisciplinar e nela ter entre os
profissionais, o professor de música e, cada escola de forma autônoma decidirá
a inclusão desse conteúdo de acordo ao seu projeto político-pedagógico.
É
importante ressaltar que dependendo da carga de emoção direcionada a
determinado conteúdo, se obterá os resultados. Além do atrativo há também a
carga emocional, o estímulo, a maneira como se vai trabalhar esse conteúdo e
que de acordo a Wallom “[...]o professor de ensino específico quer que o aluno
assimile determinado conteúdo, mas esquece que é preciso desenvolver
habilidades de concentração, interesse, capacidade de assimilação, atenção ao
conteúdo”.
Ao
criar as estratégias precisamos selecionar com objetividade o repertório que
iremos apresentar aos alunos. Com isso a escolha dos diferentes gêneros
musicais é muito significativa, pois estaremos desenvolvendo em nossas crianças
a sensibilidade, a criatividade e o potencial artístico de maneira, ao mesmo
tempo, útil e agradável.
Rúbia Nery
Esse artigo foi publicado na revista Educador, edição de janeiro de 2012.