A BNCC é o documento que tem por intenção definir os direitos de aprendizagem das crianças na Educação Infantil. Ela tem impacto direto na elaboração de currículos; na formação inicial e continuada de professores; na produção e seleção de material didático; e nas práticas de avaliação e apoio pedagógicos. Conforme a LDB no 9.394/1996, a BNCC estabelece conhecimentos, competências e habilidades que se espera que as crianças desenvolvam durante o tempo de permanência na Educação Infantil, contemplando desde a etapa da creche até a pré-escola.
Fotografia de seis crianças, nas faixas etárias de 4 e 5 anos, quatro meninas e dois meninos, de costas e de mãos dadas. O grupo caminha em um gramado na direção de um arvoredo parcialmente iluminado por raios de sol .Da esquerda para a direita há uma menina de cabelos loiros e crespos, presos em um rabo de cavalo, ela veste macacão azul, camiseta preta; olha de lado para o grupo. À direita dela está um menino, de menor estatura, com os cabelos ruivos e curtos, que veste calça azul, camiseta verde. Ao lado dele está uma menina negra, de cabelos pretos, crespos e presos também em rabo de cavalo,que veste calça jeans e camistea branca listrada de vermelho. Ao lado dela está um menino de cabelos castanhos e curtos, também de menor estatura, que veste uma bermuda azul e uma camisa branca. Ao lado dele há outra menina negra, com os cabelos crespos e presos em duas chuquinhas, que veste calça jeans e camiseta branca com listras azuis. Finalizando o grupo, uma menina de cabelos lisos, loiros, também presos em um rabo de cavalo, que veste camiseta preta e saia azul florida. Todos calçam tênis.
A BNCC na etapa da Educação Infantil explicita alguns princípios e pressupostos pedagógicos, expandindo, sobretudo, um modo especial de ver as crianças e seus direitos de aprender e de se desenvolver em ambientes saudáveis, acolhedores e desafiadores, que promovam importantes avanços nas suas trajetórias de vida. Assim o faz por meio de um conjunto de características distintas, garantindo a especificidade necessária ao cuidado da primeira infância, até os 5 anos e 11 meses.
Características, princípios e fundamentos pedagógicos da Educação Infantil
A BNCC para a etapa da Educação Infantil tem origem numa história de lutas pela qualidade da educação oferecida às crianças em todo o país. O marco mais explícito é a DCNEI (2009), de onde derivam todos os principais conceitos e alinhamentos da BNCC. Há também os marcos históricos que contribuíram para consolidar as ideias fundamentais: qualidade na Educação Infantil e direitos de aprendizagem e desenvolvimento. Vale a pena recuperar essa história para que possamos compreender de onde viemos, para onde vamos e de que modo o conceito de direito de aprendizagem e desenvolvimento chega até a BNCC e a organiza.
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1980 - A Educação Infantil tem sua origem associada às demandas emergenciais de assistência a crianças carentes. A creche, por exemplo, era concebida como um direito das mães trabalhadoras, mas não um direito da criança. A construção da identidade da creche como um lugar de acolhimento e de educação de qualidade como direito das crianças é fruto de uma longa história. Nos anos de 1980, a pré-escola era um segmento informal e optativo para as famílias.
1988 - A Constituição Federal estabelece que o atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a 6 anos de idade é dever do Estado.
1996 - Com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a Educação Infantil passa a ser parte integrante da Educação Básica, situando-se no mesmo patamar do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Mas, o que fazer nessa etapa? O que define um currículo de Educação Infantil e o que caracteriza a especificidade desse trabalho?
1998 - Para responder a essas perguntas, foi produzido um conjunto de Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (RCNEI). Tratava-se de um documento orientador, mas não tinha poder de lei; portanto, seu uso não era obrigatório. Nesse documento constavam os objetivos, os conteúdos e as orientações didáticas por áreas de conhecimento que deveriam ser apropriadas pelas propostas pedagógicas nos diferentes municípios. O RCNEI teve um papel fundamental na construção da Educação Infantil como espaço de aprendizagem e de ampliação do mundo, libertando as crianças do confinamento a que eram submetidas por propostas estritamente assistencialistas. Por outro lado, a falta de formação profissional ou de um programa de implementação dos RCNEI facilitou leituras indevidas, permitindo o crescimento de uma visão escolarizante, que via na Educação Infantil um momento de preparação para o Ensino Fundamental. Ainda assim, o RCNEI foi utilizado na fundamentação de propostas pedagógicas em todo o país.
2006 - A Educação Infantil sofreu uma importante mudança com uma alteração no texto da LDB, ampliando os anos da escolaridade básica: o acesso ao Ensino Fundamental passa a ser obrigatório aos 6 anos de idade e a Educação Infantil passa a atender a faixa etária de zero a 5 anos e 11 meses.
2009 - A Emenda Constitucional no 59/2009 define a Educação Infantil como etapa obrigatória para as crianças de 4 e 5 anos nos sistemas de ensino em todo o Brasil. Em 2009, o Conselho Nacional de Educação aprovou a Resolução no 5 de 17 de dezembro de 2009, fixando assim as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN). No mesmo ano, o Ministério da Educação, por meio do Conselho Nacional de Educação e da Câmara de Educação Básica, emite o Parecer no 20 de 17 de dezembro de 2009, em que as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI) passam a ser um documento de caráter mandatório, que define o que é currículo e o que é instituição de Educação Infantil, considerando a diversidade de modos de educar crianças indígenas, do campo, quilombolas etc. De acordo com as DCNEI, em seu Art. 4º, a criança é definida como “sujeito histórico e de direitos, que interage, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura” (BRASIL, 2009, p. 2), seres que, em suas ações e interações com os outros e com o mundo físico, constroem e se apropriam de conhecimentos
Essa foi uma conquista muito importante para a área porque assegurou uma concepção de criança que deveria, a partir de então, ser preservada em todas as construções curriculares no país.
2013 - Em consonância com a Constituição Federal, a LDB afirma a obrigatoriedade de matrícula de todas as crianças de 4 e 5 anos em instituições de Educação Infantil.
2016- A etapa da Educação Infantil é incluída no processo de construção da BNCC, devendo responder às especificidades das crianças nos diferentes momentos da vida, de bebê até 5 anos e 11 meses.
2017 - Todos esses passos jurídicos e históricos criaram as condições históricas para que, em 2017, o Conselho Nacional de Educação emitisse o Parecer CNE/CP nº 15/17 que define a Base Nacional Comum Curricular, um documento que dá as bases para as novas organizações curriculares em todo o Brasil.
Hoje, o Brasil luta pelo acesso de todas as crianças a uma instituição de Educação Infantil. Contudo, não basta o acesso a qualquer instituição, mas a uma que efetivamente tenha impactos no seu desenvolvimento e na sua aprendizagem, que ofereça educação de qualidade e que garanta os direitos básicos de toda criança brasileira.
Na base também estão presentes quatro fundamentos pedagógicos da Educação Infantil:
1. A intrínseca relação entre educar e cuidar
Embora o cuidado humano seja central na constituição da criança, sobretudo das menores porque são mais dependentes, não existe na BNCC uma definição de conteúdos ligados ao cuidado; isso porque se assumiu que cuidar e educar são ações conjuntas, em consonância, inclusive, com documentos anteriores, tal como os RCNEI, os Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil e os Critérios para o Atendimento em Creches que Respeite os Direitos das Crianças. Não se pode pensar em ações do âmbito pedagógico que não envolvam o cuidado; da mesma forma, as maneiras sociais de cuidar de si, do outro e do ambiente se constituem em ações pedagógicas no cotidiano da instituição de Educação Infantil. Não deve haver separações ou discriminação entre as duas esferas: ler uma história é tão importante quanto trocar fraldas; acompanhar o momento da alimentação é tão importante quanto avaliar os processos de apropriação das diferentes linguagens, por exemplo. Essa concepção visa também posicionar-se criticamente em relação à tradição assistencialista da Educação Infantil ao recolocar o cuidado no campo da educação e dos valores, e não do assistencialismo.
Portanto, educar e cuidar são indissociáveis no processo educativo. A Educação Infantil tem como obrigação acolher as vivências extraescolares das crianças, articulando-as com as propostas pedagógicas, e as atividades de cuidado fazem parte dessas experiências. Cabe, porém, a qualificação dessas práticas como processos pensados e articulados a princípios pedagógicos.
2. A crença no papel das interações e da brincadeira
3. A centralidade da experiência da criança
4. O papel da avaliação
A centralidade dos direitos das crianças na BNCC da etapa da Educação Infantil e a garantia das experiências das crianças, como afirmam as DCNEI, não ignoram o papel fundamental do professor nos processos de desenvolvimento e de aprendizagem da criança. Desse modo, qual é a importância do professor na Educação Infantil? Assista ao vídeo a seguir para saber.
Como a Base está estruturada para a etapa da Educação Infantil?
A BNCC possui diferentes camadas: direitos de aprendizagem e desenvolvimento; campos de experiências; e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento, que serão apresentadas neste módulo.
O modo como a BNCC está organizada apresenta um dispositivo para a garantia dos direitos indicados nas DCNEI. Trata-se dos princípios:
“Éticos: da autonomia, da responsabilidade, da solidariedade e do respeito ao bem comum, ao meio ambiente e às diferentes culturas, identidades e singularidades.
Políticos: dos direitos de cidadania, do exercício da criticidade e do respeito à ordem democrática.
Estéticos: da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade e da liberdade de expressão nas diferentes manifestações artísticas e culturais”.(BRASIL, 2009)
Direitos de aprendizagem e desenvolvimento
A BNCC está organizada, primeiramente, em seis grandes direitos de aprendizagem e desenvolvimento. Clique em cada um deles:
1- Conviver - com outras crianças e adultos, em pequenos e grandes grupos, utilizando diferentes linguagens, ampliando o conhecimento de si e do outro, e o respeito em relação à cultura e às diferenças entre as pessoas.
2 - Brincar - cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade e suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais.
3 - Participar - ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do planejamento da gestão da escola e das atividades propostas pelo educador quanto da realização das atividades da vida cotidiana, como a escolha das brincadeiras, dos materiais e dos ambientes, desenvolvendo diferentes linguagens e elaborando conhecimentos, decidindo e se posicionando.
4 - Explorar - movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos e elementos da natureza, na escola e fora dela, ampliando seus saberes sobre a cultura em suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia.
5 - Expressar - como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões e questionamentos por meio de diferentes linguagens.
- Conhecer-se - Conhecer e construir sua identidade pessoal, social e cultural, constituindo uma imagem positiva de si e de seus grupos de pertencimento, nas diversas experiências de cuidados, interações, brincadeiras e linguagens vivenciadas na instituição escolar e em seu contexto familiar e comunitário.
Por que são esses os direitos que aparecem na BNCC?
A BNCC organiza as aprendizagens em torno de campos de experiência. Mas você sabe porquê?
Os campos de experiência compõem-se como um arranjo ou organização curricular interdisciplinar por natureza. Têm como objetivo principal oportunizar às crianças a significação dos saberes e conhecimentos propostos na Educação Infantil, garantindo os direitos de aprendizagem e a vivência plena da infância. Essa proposta curricular permite o protagonismo da criança na construção do conhecimento ao orientar experimentações e experiências, habilidades e competências, e não conteúdos e informações.
Há quem compreenda que o campo de experiência é uma metodologia que implica criar determinados espaços com materiais específicos para as experiências que as crianças poderão viver. No entanto, essa é, ainda, uma ideia muito geral que pode ser referenciada em inúmeras outras metodologias já consagradas pelos estudos na área da Pedagogia. Seria muito estranho se assim fosse, pois requereria considerar a imposição de uma metodologia para todas as crianças, nos mais diferentes contextos da Educação Infantil no Brasil, o que seria, de fato, uma tarefa impossível e pouco efetiva. O outro erro que essa ideia evoca é a crença de que seria possível e desejável determinar a experiência dos sujeitos: as experiências são sempre elaborações complexas e singulares de sujeitos.
O campo de experiência não se resume a uma metodologia; trata-se, antes, de um conceito articulador de conteúdos em uma proposta curricular que leva em conta a centralidade do sujeito e a sua experiência.
Como são organizados os campos de experiência?
A BNCC define cinco campos de experiência:
O eu, o outro, o nós
Corpo, gestos e movimentos
Traços, sons, cores e formas
Fala, escuta, pensamento e imaginação
Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações
Como se dá a aprendizagem no campo de experiência?
Fotografia de uma folha de papel com círculos pintados e com a estampa de mãos de crianças carimbadas com tinta azul, verde e vermelha. No centro à esquerda, há a mão de uma criança, na faixa etária dos 3 anos, que está sendo carimbada com tinta verde e vermelha. No canto superior direito, há dois potes de plástico, um completo, com tinta vermelha, e outro incompleto, com tinta verde.
Na trajetória de vida das crianças na Educação Infantil, os conhecimentos por vezes se atraem, por vezes se repetem, provocando saudáveis tensões entre as expressões espontâneas das crianças, o modo próprio como elas entendem o mundo e os conhecimentos já sistematizados pela cultura.
Para pensar a Educação Infantil não se pode opor experiência e sentido, nem teoria e prática. Devemos privilegiar e fomentar o saber da experiência: o experimentar, o ensaiar, o tentar e o transformar, entre outras ações relacionadas ao fazer. O conhecimento tido como teórico deve ser aliado à experiência, e as crianças devem ser formadas para dar significado a essas ações, refletindo de maneira crítica sobre elas. Um bom exemplo dessa introdução é imaginar a presença de uma formiga no chão do pátio: as crianças vão mexer, apertar, pisar e interagir, mas a educação só se efetiva quando elas são chamadas a refletir sobre suas ações pela mediação do professor, o qual as instrui a respeitar o animal que ali está.
Assim ocorre, por exemplo, com a criança que observa os fenômenos da natureza e procura compreendê-los.
Uma criança observa o prenúncio de um temporal e logo aprende que aquele efeito do movimento da copa das árvores não se deve à própria árvore, mas sim ao vento.
Entre seu saber espontâneo, sua curiosidade e suas ideias e o saber organizado da física, há um campo de experiência que a criança vive na tentativa de aproximar o que ela sabe aos mistérios do mundo que os adultos parecem dominar.
Fotografia de silhueta de uma criança, na faixa etária dos 4 anos. A criança está de costas, com o braço direito para cima e na mão segura um aviãozinho de papel. Ela está em um campo onde há amplo horizonte com luminosidade em tons de de azul, branco e suave rosa e nuvens no nascer do sol.
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Um outro exemplo seria o da criança que aprende a escrever: o contato da criança com a escrita nas práticas sociais que ela observa em seu entorno, entre adultos que escrevem na sua presença ou nos livros e demais materiais portadores de escrita, é uma condição para que ela pense sobre como se escreve. Logo, ela passa a diferenciar letras de outros sinais gráficos e aprende que, para escrever, é preciso usar certos sinais, diferentes dos utilizados, por exemplo, para desenhar.
Veja dois exemplos de como os campos de experiência se manifestam no processo de aprendizagem da escrita.
Imagem de rabiscos de criança que aprende a escrever. O traçado é linear, na direção da esquerda para a direita e está segmentado em três linhas, uma abaixo da outra.
Há aqui um saber válido: de fato, a escrita exige outros sinais, mas esses são insuficientes. Embora a criança tenha uma sensação de realização, essa experiência é tensionada no contato com a leitura do adulto. Essa tensão entre o que a criança sabe e o saber convencional, isto é, o que ela precisa dominar para se fazer entender, é o que a provoca a seguir observando esse estranho objeto nas práticas sociais da sua cultura. Logo, ela descobre as letras e passa a combiná-las, agregando-as numa série não determinada previamente, revelando novos saberes.
Imagem de escrita de criança. Traçado linear, na direção da esquerda para a direita, que remete à grafia das letras F, M e A. Imagem de escrita de criança. Traçado linear na direção da esquerda para a direita, com grafia das letras do alfabeto A, D, L. As letras estão agrupadas em duas linhas uma abaixo da outra. Na primeira linha há 6 letras A e na segunda linha, três letras A, uma D, uma A e uma L.
Mais uma vez, o sentimento de realização toma a criança. E, mais uma vez, esse conhecimento é tensionado pelo saber convencional: não são essas as letras necessárias, nem nessa ordem, nem nessa quantidade. Mas, então, qual será o segredo?, se pergunta a criança. Essa tensão entre o saber da criança e o conhecimento formalizado, novamente cria condições subjetivas para que ela possa seguir investigando, aproximando-se do conhecimento convencional, até que possa dominá-lo por inteiro. Daí em diante, ao longo da vida, novas tensões vão se impondo na trajetória escritora de cada um: ser claro na exposição sem, contudo, desprezar os conhecimentos prévios de seu interlocutor; escolher as melhores palavras para dizer o que, muitas vezes, não sabe as palavras, entre tantas outras situações que se impõe nos fazeres da vida.
Diante da diversidade e das particularidades das crianças na Educação Infantil, como trabalhar as práticas pedagógicas favorecendo os campos de experiência e os direitos de aprendizagem e desenvolvimento? Assista ao vídeo a seguir com alguns exemplos de práticas pedagógicas.
Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento
Imersas nos campos de experiência, as crianças podem desenvolver-se a partir de progressivas aprendizagens. Um planejamento comprometido com esse desafio pode tomar como ponto de partida os objetivos da BNCC, procurando construir as condições para a experiência das crianças de determinado grupo etário ao longo do tempo e promovendo as progressões das aprendizagens das crianças.
Em outras palavras, a BNCC traz este mesmo conceito:
" Na Educação Infantil, as aprendizagens essenciais compreendem tanto comportamentos, habilidades e conhecimentos quanto vivências que promovem aprendizagem e desenvolvimento nos diversos campos de experiências, sempre tomando as interações e a brincadeira como eixos estruturantes. Essas aprendizagens, portanto, constituem-se como objetivos de aprendizagem e desenvolvimento (BNCC, p. 42). "
Os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento devem refletir diferentes momentos dessa construção passando pela exploração, pela experimentação, pela apropriação e pela recriação dos objetos culturais, conhecimentos e ações.
Progressão das aprendizagens ao longo das faixas etárias
No campo “O eu, o outro, o nós”, vemos uma progressiva construção da criança a respeito da sua própria identidade e das relações sociais, que se inicia pela consciência de si e da exploração de suas ações sobre os outros. Mais adiante, a criança experimenta procedimentos e atitudes de cuidado aprendidos pelo modelo dos adultos, tanto dos pais, em casa, quanto das professoras, na creche. Essa observação e essa experimentação das crianças levam-nas a demonstrar igualmente atitudes de cuidado e solidariedade nas suas interações com os outros. Apropriando-se desses saberes, ela é capaz de construir o sentimento e as atitudes de empatia, respeitando as diferenças entre as pessoas. Essa progressão é assim expressa, por exemplo, nos seguintes objetivos:
Bebês (zero a 1 ano e 6 meses) Crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses) Crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses)
(EI01EO01)
Perceber que suas ações têm efeitos nas outras crianças e nos adultos. (EI02EO01)
Demonstrar atitudes de cuidado e solidariedade na interação com crianças e adultos. (EI03EO01)
Demonstrar empatia pelos outros, percebendo que as pessoas têm diferentes sentimentos, necessidades e maneiras de pensar e agir.
Bebês (zero a 1 ano e 6 meses) Crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses) Crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses)
O mesmo ocorre, por exemplo, nas experiências ligadas ao “Corpo, gestos e movimentos”. O desafio corporal do bebê é expressar-se segundo seus desejos, aprendendo a controlar seus movimentos em função dessa necessidade. É assim que um bebê explora, desde cedo, os gestos e sons que podem chamar a atenção da mãe e, mais tarde, da professora, que também compartilha dos cuidados na primeira infância. O domínio do próprio corpo, dos gestos e dos movimentos abre para a criança bem pequena a possibilidade de experimentar formas culturais de movimentar-se, apropriando-se de gestos típicos de sua cultura, muitos deles presentes nas brincadeiras, nos jogos, nas danças e nas formas de interação social. Muitos desses gestos são apropriados na experiência, em grande parte na imitação dos adultos que habitam seu entorno. Na creche ou na pré-escola, as crianças podem ampliar significativamente a consciência do próprio corpo e , a expressão de seus gestos e movimentos, interagindo com elementos da sua cultura, presentes nas brincadeiras, dança, teatro e música. Esse percurso de aprendizagem pode ser desenvolvido pela progressão dos seguintes objetivos:
Bebês (zero a 1 ano e 6 meses) Crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses) Crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses)
(EI01CG01)
Movimentar as partes do corpo para exprimir corporalmente emoções, necessidades e desejos. (EI02CG01)
Apropriar-se de gestos e movimentos de sua cultura no cuidado de si e nos jogos e brincadeiras. (EI03CG01)
Criar com o corpo formas diversificadas de expressão de sentimentos, sensações e emoções, tanto nas situações do cotidiano quanto em brincadeiras, dança, teatro e música.
Bebês (zero a 1 ano e 6 meses) Crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses) Crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses)
Vale notar que os objetivos foram pensados a partir das experiências, e não de conteúdos das áreas de conhecimento; por isso, eles apontam para as aprendizagens e, ao mesmo tempo, para as atividades que envolvem os processos de subjetivação. Em todos os casos, não ocorrem de forma natural e espontânea, mas exigem profissionais qualificados e especializados em prover bons ambientes de aprendizagem, organizados com materiais criteriosamente selecionados e rotinas equilibradas. Essas aprendizagens e atividades exigem professores que planejem seu trabalho e ampliem o universo cultural das crianças oferecendo, na creche ou pré-escola, aquilo que só poderia ser conhecido ali, na companhia de parceiros de mesma idade e de adultos que se apresentam como representantes da cultura.
A transição para o Ensino Fundamental
A criança da Educação Infantil passa por momentos distintos de transições que são: transição da casa para a escola, transição no interior da instituição e transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental (BRASIL, 2009). É necessário que esses momentos sejam pensados, planejados e muito bem organizados para que a criança se sinta segura e acolhida nesse processo.
A BNCC se opõe à ideia tradicional de Educação Infantil como etapa preparatória para a escola. Ao contrário, na Base, a Educação Infantil tem finalidade e sentido em si mesma e guarda especificidades que precisam ser atendidas visando ao pleno desenvolvimento das crianças. Então, como podemos pensar essa continuidade?
" Da experiência da Educação Infantil à etapa do Ensino Fundamental, espera que a criança possa realizar a síntese das aprendizagens, que será sua bagagem para prosseguir no percurso do primeiro ano. "
A continuidade da Educação Infantil para o Ensino Fundamental não se dá do ponto de vista do conteúdo, mas sim da experiência subjetiva. Espera-se que as crianças ampliem suas experiências para que, no Ensino Fundamental, possam aprofundar suas ideias, hipóteses e explicações sobre o mundo e seus fenômenos, se aproximando, progressivamente, dos procedimentos, conceitos e instrumentos já formalizados culturalmente.
A passagem da Educação Infantil para o Ensino Fundamental marca uma etapa importante do desenvolvimento da criança. Essa passagem representa a conquista de outro lugar social: a criança deixa de ser vista apenas como criança e passa a ser tratada também e, sobretudo, como estudante. A construção simbólica desse lugar depende em grande parte da diferenciação que será capaz de estabelecer no ritmo da vida escolar, nos diferentes momentos da rotina e nas expectativas que passam a ser esperadas.
Da experiência da Educação Infantil à etapa do Ensino Fundamental, espera que a criança possa realizar a síntese das aprendizagens, que será sua bagagem para prosseguir no percurso do primeiro ano.
O que é essa síntese? Segundo a BNCC,
" Essa síntese deve ser compreendida como elemento balizador e indicativo de objetivos a ser explorados em todo o segmento da Educação Infantil, e que serão ampliados e aprofundados no Ensino Fundamental, e não como condição ou pré-requisito para o acesso ao Ensino Fundamental. (BNCC, p. 51 ) "
Fica claro nessa proposição que a síntese é o conjunto das elaborações das crianças em toda a passagem pela Educação Infantil, desde bebê até os 5 anos e 11 meses, o que, de certa forma, contradiz, por princípio, a ideia tradicional do pré-primário, que se resumia a um ano preparatório para o primeiro ano. A síntese não é feita apenas aos 5 anos, tampouco é proposta como currículo pelo professor ou pela instituição educativa. Trata-se, antes, de assegurar em toda a passagem pela Educação Infantil as condições para que as próprias crianças organizem suas sínteses na própria experiência. Quanto mais experientes forem as crianças, mais oportunidades terão de refletir, de fazer entrelaçamentos, de organizar suas explicações sobre o mundo, sobre si mesmas e sobre os outros, e sobre o conhecimento.
Portanto, é evidente a necessidade do trabalho conjunto entre as etapas para que haja um equilíbrio no momento da transição, de forma que a etapa seguinte considere o que os educandos sabem e são capazes de fazer, garantindo a continuidade do trabalho pedagógico. Desse motivo decorre a importância do acesso aos relatórios, aos portfólios ou a qualquer outro tipo de registro de acompanhamento da criança em sua trajetória na Educação Infantil.
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