Pedagogia do Oprimido - Paulo Freire

Pedagogia  do  Oprimido 

Paulo Freire 


Soraya M Marques contribuiu para análise da obra de Paulo Freire e afirma que A pedagogia do oprimido, como pedagogia humanista e libertadora, terá dois momentos. Distintos.
O primeiro, em que os oprimidos vão desvelando o mundo da opressão e vão se comprometendo, na práxis, com a sua transformação.

O segundo, em que, transformada a realidade opressora, esta pedagogia deixa de ser do oprimido e passa a ser a pedagogia dos homens em processo de permanente libertação.




O homem deve conhecer todo o mundo em sua volta, assim a antropologia deveria fazer parte integrante do contexto da educação de jovens e adultos.


De acordo a Soraya, alfabetizar é conscientizar, o educando deve refletir suas próprias palavras desta forma cria-se a cultura. “Não teme enfrentar, não teme ouvir, não teme o desnivelamento do mundo. Não teme o dialogo com ele, de que resulta o crescente saber de ambos”.  O “medo da liberdade”, não significa que o poder do dialogo possa trazer desordem, o que o homem tem medo é de enfrentar novas situações, transformações, isso faz com que o mesmo se acomode.

A justificativa da “Pedagogia do oprimido” mostra a busca e o empenho dos homens por uma libertação. Essa luta só tem sentido quando os oprimidos buscarem recuperar sua humildade e libertar-se dos opressores. Em um primeiro momento do descobrimento os oprimidos tendem a ser opressores, o que dificulta uma práxis libertadora, por terem uma visão individualista.
A liberdade é uma busca permanente .é uma conquista que exige força, responsabilidade e espirito de luta. Libertar-se de sua força exige, a imersão dela, a volta sobre ela. .É essencial que a práxis seja autentica para que exista a ação e reflexão sobre o mundo para transforma-lo.
Para que haja o oprimido é necessário que exista o opressor. E os opressores, por sua vez,  tem uma ânsia de posse, onde o poder de compra transforma tudo em sua volta, possuem uma concepção materialista de existência.
Os oprimidos são considerados como coisas, não possuindo direitos apenas deveres. sua libertação, passem a ter novos opressores. São considerados como coisas, não possuindo direitos apenas deveres. Dificilmente lutam , aceitam tudo o que lhe é imposto, são dependentes emocionais.
Ninguém se liberta , ninguém se liberta sozinho, os homens se libertam em comunhão.
Quando os oprimidos descobrem o opressor só então se engajam na luta por sua libertação, superando seus limites.
É necessário que a ação política junto aos oprimidos se faça por meio da  reflexão . E para que haja uma transformação faz-se necessário que o indivíduo (oprimido) tenha em mente sua responsabilidade só assim será liberto para criar, construir.
A relação professor-aluno é baseada nos falsos valores de que um sabe tudo e o outro nada sabe, cultivando-se assim o silencio e tolhendo-se a criatividade, estimulando assim o interesse dos opressores.
Segundo Soraya, a conscientização problematizadora e libertadora da “educação” e seus pressupostos esta principalmente no educador e educando para que haja relação de companheirismo entre ambos. E a  mudança, a reflexão, a ação, a transformação  só pode acontecer através da Educação Libertadora. Educação refaz-se na prática, onde a problematização é uma constante, onde o alunos passam a estar interagindo no processo educacional, para seu verdadeiro crescimento intelectual e cognitivo. E a  dialogicidade – essência da educação como pratica da liberdade. A essência do dialogo é a palavra. Mas, ao encontrarmos a palavra, na análise do dialogo, como algo mais que um meio para que ele se faça, se nos impõe buscar, também, seus elementos construtivos.
Esta busca nos leva a surpreender, nela duas dimensões : ação e reflexão, de tal forma solidaria, em uma interação tão radical que, sacrificada, ainda que em parte, uma delas, se ressente, imediatamente a outra. Não há palavra verdadeira que não seja práxis. 
A palavra inautêntica por outro lado, com que não se pode transformar a realidade, resulta da dicotomia alienada e alienante, pois não há denúncia verdadeira sem compromisso de transformação. Se é dizendo a palavra com que, “pronunciando” o mundo, os homens o transformam, o dialogo se impõe como caminho pelo qual os homens ganham significação enquanto homens. O dialogo é a exigência existencial que se solidarizam o refletir e o agir de sujeitos endereçados ao mundo a ser transformado e humanizado.
Não há dialogo se não há amor, não há dialogo se não há humildade, não há dialogo se não há uma intensa fé, não existe diálogo sem esperança ,finalmente não há dialogo verdadeiro se não há nos seus sujeitos um pensar verdadeiro, um pensar crítico. Sem ele não há comunicação e sem esta não há verdadeira educação.  Começa na busca do conteúdo programático em uma concepção como prática da liberdade, a sua dialogicidade comece, não quando o educador-educando se encontra em situações pedagógicas, mas antes, quando aquele se pergunta em torno do que vai dialogar com estes.
As relações homens-mundo, os temas geradores e o conteúdo programático será a partir da situação presente, existencial, concreta, refletindo o conjunto de aspirações do povo, que podemos organizar o conteúdo programática da educação ou de ação política. Nunca apenas dissertar sobre ela e jamais doar-lhe conteúdos que pouco ou nada tenham haver com seus anseios, com suas duvidas, com suas esperanças, com seus temores. Não é falar ao povo sobre a nossa visão do mundo, ou tentar impô-la a ele ,mas dialogar com ele sobre a sua e a nossa.
E na realidade mediatizadora, na consciência que dela tenhamos, educadores e povo, que iremos buscar o conteúdo programático da educação, neste momento se faz necessária a investigação que chamamos de conjunto de temas geradores que proporcione a tomada de consciência dos indivíduos em torno dos mesmos.
A investigação dos temas geradores e sua metodologia tem como objetivo propor aos indivíduos dimensões significativas de sua realidade, cuja analise crítica lhes possibilite reconhecer a interação de suas partes, neste sentido é que a investigação do tema gerador, que se encontra contido no “universo temático mínimo”, se realiza por meio de uma metodologia conscientizadora, além de nos possibilitar sua apreensão, insere ou começa a inserir os homens numa forma crítica de pensarem seu mundo.
Os temas em verdade, existem nos homens, em suas relações com o mundo, referidos a fatos concretos.
A significação conscientizadora da investigação dos temas geradoras e os vários momentos da investigação tem que se tornar um processo de busca, de conhecimento, de compreensão da totalidade que deve estar presente a preocupação pela problematização dos próprios temas . A investigação da temática envolve a investigação do próprio pensar do povo, assim toda investigação temática de caráter conscientizador se faz pedagógica e toda autêntica educação se faz investigação do pensar. A coleta de dados da investigação apresentará um marco no qual se encontrará uma temática de percepção crítica da realidade, a investigação temática se vai expressando como um que fazer educativo, como ação cultural. Após esta primeira investigação os investigadores estarão capacitados para organizar o conteúdo programático da ação educativa.
Segunda fase da investigação começa precisamente quando os investigadores, com os dados que recolheram chegam à apreensão daquele conjunto de contradições. A partir deste momento, sempre em equipe, escolherão algumas desta contradições, com que serão elaboradas as codificações que vão servir à investigação temática. As codificações consistem entre o “contexto concreto ou real”, em que se dão os fatos, e o “contexto teórico”.
Os indivíduos imersos na realidade, com a pura sensibilidade de suas necessidades, emergem dela e , assim, ganham a razão das necessidades.
Terceira fase da investigação são nos “círculos de investigação temática”
Do ponto de vista metodológico, a investigação que desde seu inicio, se baseia na relação simpática até sua fase final, a da analise da temática encontrada, que se prolonga na organização do conteúdo programático da ação educativa, como ação cultural.
Além do investigador, assistirão mais dois especialistas, um psicólogo e um sociólogo, cuja tarefa é registar as reações mais significativas ou aparentemente pouco significativas dos sujeitos descodificados. E os participantes,  pela força catártica da metodologia, uma série de sentimentos, de opiniões, de si , do mundo e dos outros.
A sua ultima etapa se inicia quando os investigadores, terminadas as descodificações nos círculos, dão começo ao estudo sistemático e interdisciplinar de seus achados. Feita a delimitação temática, caberá a cada especialista, dentro de seu campo, apresentar à equipe interdisciplinar o projeto de “redução” de seu tema. Com o mínimo de conhecimento da realidade, podem os educadores escolher alguns temas básicos que funcionariam como codificações de investigação.
Na sociedade em que vivemos com certeza fica bem claro quem são os opressores e os oprimidos, o que Paulo Freire cita é que estamos em tempo de mudar esta situação se cada indivíduo se libertar, buscando a superação de seus problemas com criatividade; E quando se trata de trabalhar com jovens e adultos ambos tem que ter a consciência de que .é possível mudar, deixando de ser oprimidos e passando a ser agentes transformadores.
Na educação “bancaria” o que se pode perceber .é a manipulação de pensamentos com um único objetivo oprimir. Em uma de suas citações ele deixa uma mensagem : “Ninguém educa ninguém, ninguém se educa sozinho(…) pois os indivíduos não são uma caixinha onde se deposita conhecimentos, mas sim um ser recriado do mundo.
Ter a consciência de si próprio é ter consciência do mundo. E isso pode acontecer através do dialogo , pois não há palavra verdadeira que não seja práxis.
Pedagogia do Oprimido  e currículo.
As palavras educação, currículo, e reforma têm uma história que parece andar de mãos dadas. Durante as últimas décadas, educadores e investigadores vêm trabalhando no sentido de desenvolver meios efetivos para resolver os problemas de nossa sociedade por meio da educação. Hoje, mais do que nunca, o currículo está sendo discutido em torno de assuntos emergentes relacionados ao movimento da pedagogia crítica e neo-marxista e vem se estruturando no que se caracteriza como a educação multicultural.
Nesta perspectiva, assume-se que o currículo deveria ser organizado em torno de aspectos multiculturais que incluem raça, gênero, diferenças individuais, classe social, problemas sociais, e justiça social. Este tom curricular ainda está sob as premissas de educação baseado em princípios inspirados por Freire determinadas como uma teoria crítica de currículo,o livro Pedagogia do Oprimido publicado por ele em 1970 foi a mola propulsora dessa teoria que enfatiza a libertação do indíviduo por meio do estudo crítico da realidade social, política e econômica, no sentido de conscientizar as diferentes classes e estruturas sociais para promoção da justiça social.
Neste sentido, a transformação da realidade seria inevitável, que por sua vez, levaria a humanização da sociedade em sua totalidade. Para tanto, novos currículos se faziam necessários já que o currículo tradicional, desconectado da realidade, “não pode jamais desenvolver a consciência crítica do educando“. Isto elevou atenção para perspectivas diferentes de compreender o currículo, como por exemplo, currículo como uma arena política, currículo para diversidade cultural, currículo para eqüidade de grupos desprivilegiados, e currículo para grupos estigmatizados baseado na pobreza.
Paulo Freire estabelece uma comparação entre o desenvolvimento e a prática do currículo tradicional e do currículo crítico emancipatório. Ele discute que o currículo tradicional conduz a alienação considerando que uma orientação crítica conduz à libertação ou emancipação do indivíduo.
O projeto curricular tradicional tende a ser estático e unilateral considerando que o plano curricular crítico é dinâmico e democrático. A concepção tradicional de currículo é “antidialógica” e opressiva, enquanto que a concepção crítica de currículo é dialógica e emancipatória. Nesta perspectiva, o modo opressivo de currículo demanda a alienação e a manutenção do status quo que, por sua vez, conduz à desumanização da sociedade.  Já uma perspectiva emancipatória do currículo desenvolve consciência crítica e transformação, e desta forma, leva a humanização da sociedade. Isto que Freire propôs (e experimentou) é um modelo de currículo a ser constituído como um projeto coletivo no qual a comunidade escolar inteira é envolvida, inclusive professores, estudantes, pais, administradores, e outros atores sociais da comunidade. Neste sentido, Freire expressa que:“Uma reforma de currículo nunca poderia ser algo feito, elaborado, e pensado por uma dúzia de experts cujo resultado final se transforma em pacotes curriculares que vêm de cima para baixo, e que por sua vez, devem ser executados igualmente de acordo com instruções e diretrizes elaboradas por estes iluminados. Reforma de currículo deve ser sempre um processo político-pedagógico e, substancialmente democrático.” Proposto uma estrutura curricular voltada às diferenças e interesses individuais e/ou grupais de cada contexto no sentido de promover justiça social e solução para os problemas reais do cotidiano, percebeu-se que isso atenderia ao que hoje se deseja por pais e professores, e até por vezes, numa atitude politicamente correta na retórica política e econômica; ou seja, educação numa perspectiva multicultural.
Neste sentido, uma proposta curricular com tais características provocaria uma ruptura com o paradigma curricular dominante ainda vigente nos bancos escolares, e o professor (claramente, o professor, indivíduo responsável pela implementação do currículo, é uma figura central no currículo defendido por Paulo Freire, pois trabalha no real mundo da escola, e como tal, entende o contexto no qual o currículo alternativo será implementado), então, passaria a desenvolver um papel crucial desde o início da constituição do currículo, bem como, membros da comunidade mais ampla.
Numa percepção das escolas como uma agência libertadora ou emancipatória, partindo da compreensão que a educação, é por ela mesma, um fenômeno emancipador, devemos pautar nossa prática pedagógica, em busca dessa perspectiva do oprimido, desse olhar que vê o mundo, epistemológica e politicamente, como espaço do mais-ser. Porque a “superioridade” da ciência, da arte, da religião e das demais formas de representação do oprimido está, exatamente, na sua admissão da mudança, na compreensão e aspiração da transformação social. Somente o oprimido tem o potencial que permite à humanidade avançar no sentido da mudança social, e  a Pedagogia do Oprimido é que permitirá e ou possibilitará a construção da Civilização do até então Oprimido.



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