Paulo Freire - Generosidade, Idealização e Esperança

Paulo  Freire


Paulo Freire enquanto intelectual é um referência, um novo paradigma que rompe com a estrutura até então estabelecida na Educação.

Militância profunda nos movimentos sociais e culturais em relação ao campo pedagógico.

Uma ruptura no campo sócio elitista, comprometimento, generosidade , idealização e esperança, essas são as premissas de Paulo Freire.

Estabelece oposição ao positivismo,  uma corrente de pensamento filosófico, sociológico e político em que  as superstições, religiões e demais ensinos teológicos devem ser ignorados, pois não colaboram para o desenvolvimento da humanidade, uma visão subjetiva em que  busca encontrar o "sentido da vida", onde o imaginário e a criatividade humana se sobrepõe à racionalidade. 
Não hávia  uma preocupação  com os motivos ou propósitos das coisas, mas sim como elas aconteciam; o processo, onde o grande idealizador August Comte afirma que , as ciências é que deveriam ser consideradas positivistas. 
 Paulo Freire em oposição a essa visão de mundo, que vê o conhecimento  como algo neutro, livre de valores e objetivo, contesta e traz consigo uma valorização da cultura , afirmando que as pessoas se humanizam. Uma concepção do diálogo da alteridade, assim, pode se dizer que é a capacidade de se colocar no lugar do outro na relação interpessoal (relação com grupos, família, trabalho, lazer e a relação que temos com os outros, etc...), com consideração, identificação e diálogo, produzindo  no indivíduo o desejo de liberdade,  objetivando a libertação dos oprimidos na relação entre oprimido e opressor.
Freire em uma carta direcionada aos professores afirma que "ser professor é se posicionar, construir uma prática libertária".
O primeiro movimento social Freiriano  acontece em 1960, - Movimento da Cultura Popular do Recife, com o inicio de proposta de uma educação popular.  Embora tivessem diferenças em algumas especificidades, as discussões sobre cultura popular elaboradas pelos movimentos tinham em comum tomá-la como tema central e conceituá-la como um elo entre o homem simples e dimensão política da realidade social. Ou seja, concebiam a cultura popular como a realização, prática e ideal, de um projeto político, que parte da transformação provocada pelo homem no seu meio entendo-a como cultura, de que historicamente lhe foi negado o direito a conhecer,interpretar e modificar, tanto a cultura das elites, quanto a sua cultura, costumeiramente depreciada em comparação à cultura do opressor.

“A consciência do problema do desnível cultural nas sociedades implica, necessariamente, a consciência do desnível de ordem social, econômica e política, implicando, por isso mesmo, uma tomada de posição na superação desses desníveis Cultura popular surge, portanto, como problema ideológico e assume uma posição de luta pela transformação dos padrões culturais,sociais, econômicos e políticos que asseguram aqueles desníveis” (MCP. In: FAVERO, 1983, p.77-78).

Num outro momento afirma que “Estudar seriamente um texto é estudar o estudo de quem, estudando, o escreveu. É perceber o condicionamento histórico sociológico do conhecimento. É buscar as relações entre o conteúdo em estudo e outras dimensões afins do conhecimento. É buscar as relações entre o conteúdo em estudo e outras dimensões afins do conhecimento. Estudar é uma forma de reinventar, de recriar, de reescrever – tarefa de sujeito e não de objeto. Desta maneira, não é possível a quem estudo, numa tal perspectiva, alienar-se ao texto, renunciando assim à sua atitude crítica em face dele.” (FREIRE, p. 10, 1977).

 Com isso Paulo Freire possibilita acesso, inclusão e realiza forte campanha de alfabetização no contexto politico social , afirmando que a educação popular pode e deve inspirar as políticas públicas da educação. É um movimento que surge de fora da escola e que foi posto como referência, modelo, base  e que deveria ser trabalhado dentro das escolas, democratizando a Educação Popular, para a camada popular. 

Uma visão dotada de princípios emancipatórios, ética,  onde se afirma que à  escola não ´o único espaço educativo, a cidade também educa e precisa estar equipada para que o conceito se efetive, ganhe força, partindo do pressuposto de que toda educação pressupõe um projeto de sociedade. Com isso Freire recusa a linha de pensamento fatalista, concepção de nada vai mudar.  Visão determinista, construída por grupos de interesse, construída pelo tempo, pela história.

Neste sentido, pode-se dizer que a conscientização nasceu e desenvolveu-se entre os movimentos de cultura popular como uma proposta de formação educativa coletiva com ênfase nas apropriações das pessoas envolvidas – enquanto sujeitos concretos – sobre os problemas constitutivos de sua realidade social. Identificando estas apropriações, fazia-se possível problematizá-las a fim de o grupo conseguisse coletivamente chegar às causas históricas desses problemas e elaborar soluções que envolvessem os mesmos.

Sua perspectiva pedagógica não se volta exclusivamente ao manejo das ferramentas didáticas, nem se localiza entre as teorias que discutem a educação unicamente desde princípios universais norteadores, mas circunscreve entre as leituras de realidades sociais vistas como campo de mediação de relações pedagógicas, em que a dimensão educativa é criada na comunicação entre sujeitos a respeito de sua experimentação e socialização no/com o mundo.

Neste sentido, Freire enfatizava que  na educação havia um papel central e revolucionário, cujo momento histórico oferecia uma oportunidade ímpar, com as mudanças sociais em curso que diretamente afetavam a educação, com mobilização do pelo direito de estudar que as próprias campanhas alfabetizadoras encampavam e que punha em questão as dissintonias e conflitos de visão de mundo entre as elites, tradicionais gestores do expediente educativo, e a população que reivindicava acesso à educação. Freire ressalta aí a fundamental importância da participação popular na elaboração do projeto educacional do país. 

Para Paulo Freire  as mudanças, as transformações tem por base à ética, a democratização, garantindo a participação, o acesso, a permanência, com qualidade, a politicidade do ato político e o respeito a dialogicidade do ato educativo. Calcado nas palavras geradoras: investigação; tematização e problematização.
Na investigação, pesquisa sociológica, coletiva, conjunta, dotada de significados para o aluno, sua essência, o que faz parte do seu mundo, do seu modo de vida, o  que realmente o interessa, o cativa, o desperta.
Na tematizaçao, na tomada de consciência do mundo, após investigação, despertando no aluno , fazendo com ele se depare com o que acredita, perceba, e a partir disto faça uma investigação critica.
Na problematização, após tematização, mostrar ao aluo que existe a possibilidade de transformação, que se dá a partir da tomada de consciência, dá superação da visão ingênua, partindo para uma visão crítica. 

Não é ensinar a ler palavras, mas ler para compreender   realidade, o que está inserido, contextualizando aquela palavra que até então parece simples e que de uma  palava se pode ir muito além. Essa consciência ingênua tem caráter saudosista pois ninguém tem que aceitar tudo passivamente. 

É preciso superação da vida ingênua.

Aquele individuo que não se satisfaz com as aparências, com a superficialidade, que acredita que a realidade é imutável, pode ser  socialmente alterado já que é uma construção histórica. É a relação causa e efeito. 

A educação para a consciência crítica  faz o possível para livrar-se dos preceitos sejam eles de raça, etnia, religião, gênero, repele toda transferência de autoridade , ela não foge aos problemas e é indagadora. Busca soluções, busca alternativas, assumindo uma postura política, sem opressão, e não pode mais ser privilégio de grupos elitistas, sempre dentro de uma perspectiva de ação e reação. Denúncia de uma sociedade existente e a vontade de uma sociedade futura melhor, a partir de uma tomada de consciência.

A crítica política anunciada por Freire em sua primeira obra é acentuada em Educação como prática de liberdade (1975), onde o aspecto pedagógico dessa crítica se alia à experimentação didática e metodológica dos seus trabalhos de alfabetização. Assim, é importante destacar a conceituação que Freire faz do homem como “ser de relações e não só de contatos, que não apenas está no mundo, mas com o mundo”  e que, na mediação de intencionalidade com a natureza realizada pela ação, recria o mundo como terreno da cultura, em que as mudanças provocadas sobre a natureza ganham significado e realizam a humanidade do homem. 

Ler a palavra para ler o mundo.

O homem é um ser histórico e portanto inacabado. Inacabado porque pode tornar-se, vir a ser, transformar e transformar infinitamente... E tudo acontece através da politicidade, por meio do diálogo, da troca, do processo de simbiose, do que se tem e do que se pode vir  ter.

Freire fala do conceito de alteridade e afirma a importância de se respeitar aquele que se difere, reconhecendo no outro que há uma troca, que se constrói com o outro, enfatizando a importância da valorização do outro, do que ele traz consigo, da interação, da troca, da contribuição cultural que se estabelece para a construção da identidade. Uma relação próxima, dentro de uma perspectiva de igualdade, ombreada, coletiva.






Pedagogia da Autonomia - Paulo Freire

Pedagogia da Autonomia



'Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo'. (Paulo Freire)


Uma obra que visa orientar os saberes necessários à pratica educativa, em que procura apresentar uma reflexão sobre a relação entre educadores e educandos, elaborando propostas de práticas pedagógicas, orientadas por uma ética universal, que visam a desenvolver a autonomia, a capacidade crítica e a valorização da cultura e conhecimentos empíricos de uns e outros. Criando os fundamentos para a implementação e consolidação desse diálogo político-pedagógico e sintetizando diferentes questões para a formação dos educadores e para uma prática educativo-progressiva, Paulo Freire estabelece relações e condições para a tarefa da educação.
No capítulo I o autor discorre sobre o ato de ensinar ...

Não há docência sem discência. Se não há diálogo, nada acontece, nada muda, nada se acrescenta, se transforma, se fortalece. Quem ensina, aprende ao ensinar. E quem aprende, ensina ao aprender. Portanto , o ato de ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para sua produção, sua construção.

Faz-se necessário, ao educador, em seu processo de ensino aprendizagem estabelecer uma rigorosidade metódica, apresentando em seus conteúdos, previamente selecionados, atitudes críticas, questionamentos frente as teorias, reconhecendo que o professor não tem o monopólio do saber , a verdade absoluta, não tem que ser aceito pelo fala, pelo que afirma, pelo que repassa ao educando, mas que , ao ensinar o aluno a pensar, a refletir, a questionar sobre a aula, sobre o que ouve, passe a questionar, a debater, , a contestar. Ensinar seu aluno a pensar sobre, a pensar certo. Essa é a base da obra de Paulo freire. "Ação - reflexão - ação ".

Partindo do pressuposto de que conhecimento é história , ele se modifica, evolui  em estudos, caminha, avança .

Considerando que todos nós professores somos pesquisadores, há a necessidade de uma formação contínua, processual, e que este conceito precisa ser repassado ao educando, é preciso incentivar a pesquisa, a busca . Não há ensino sem pesquisa afirma Paulo Freire. A fim de tornar o aluno crítico , com embasamento teórico, com um leitura mais complexa, saindo da zona de conforto, da ingenuidade, agregando saberes. colocando em prática o que se fala, educando pelo exemplo.

Na educação não pode haver espaço para descriminação, para preconceitos, para não aceitação do outro em sua essência, ele precisa e deve assumir-se como um ser social, histórico, pensante, comunicativo, instigador, transformador.

No capítulo  II  Paulo Freire discorre sobre o respeito a autonomia do Educando.

Afirma que ensinar exige  bom senso. 
Ensinar nada mais é do que interagir com o outro, um processo de troca de saberes, de reconhecimento do outro, de aceitação, construção e transformação. parte-se do princípio da história de que há um continuo processo de construção, de transformação, fruto da história, da sua história, que se condicionado, assim sempre será. Todavia, apesar dos condicionamentos, pode haver transformação, pois todo sujeito é também responsável pelo decorrer da história, faz parte da história, portanto tem participação e , de acordo ao que é estabelecido, questiona, infere, agrega e transforma.

É preciso consideração tolerância, respeito, pressupondo a dialogicidade e preservando o bom senso.
O diálogo ganha importância ao permitir a liberdade de expressão, ao conceder aos participantes do processo de ensino e aprendizagem o controle da ação. Dialogar para refletir, dizer para construir seu entendimento. Não há como questionar sem diálogo, pois monólogo significa imposição do conhecimento. Dialogar significa expor-se em público, combater a imposição de conteúdos e ajustar coletivamente a compreensão dialética do conhecimento problematizado, por novas vias de esclarecimento.                                                                    
 Assim sendo, assumir posturas de mobilização em prol de mudanças relevantes e necessárias. Passando aos educandos responsabilidade, participação e a convicção de que pode e poderá haver mudanças. 

O capítulo III  trata a questão  da tomada consciente de decisões.

Ensinar é uma especificidade humana, e ser professor é lidar com o individuo. Ser professor é estar a favor da decência contra o despudor, a favor da liberdade contra o autoritarismo, da autoridade contra a licenciosidade, da democracia . A favor da luta constante contra qualquer forma de discriminação,contra a dominação econômica dos indivíduos ou das classes sociais.

Daí a necessidade do afeto, respeito, comprometimento, competência, posicionamento, carisma, intervenção e estímulo.
A constante busca pelo processo de interação, de troca, de reflexão sobre a  ação e da ação sobre a reflexão.

Portanto, o primeiro  momento é aquele em que o educador se inteira daquilo que o aluno conhece, não apenas para poder avançar no ensino de conteúdos mas principalmente para trazer a cultura do educando para dentro da sala de aula. O segundo momento é o de exploração das questões relativas aos temas em discussão - o que permite que o aluno construa o caminho do senso comum para uma visão crítica da realidade. Finalmente, volta-se do abstrato para o concreto, na chamada etapa de problematização: o conteúdo em questão apresenta-se "dissecado", o que deve sugerir ações para superar impasses. Para Paulo Freire, esse procedimento serve ao objetivo final do ensino, que é a conscientização do aluno. 

O autor afirma que só há liberdade onde há autoridade. E que diferente de autoritarismo é necessário rigor, comprometimento, competência, na certeza de que é decidindo que se aprende a decidir, questionando que se aprende a questionar, debatendo que se aprende a debater, e que todo ato promove consequências. 

Sendo assim, a tomada consciente de decisões, o discurso em si não pode ser neutro, mas deve estar impregnado de fatores que levam a reflexões e por fim a ações, construindo junto aos educados opiniões , estabelecendo junto aos educandos a tomada consciente de decisões. De maneira afetuosa, solidária, emancipatória.

No conjunto do pensamento de Paulo Freire encontra-se a ideia de que tudo está em permanente transformação e interação. Por isso, não há futuro a priori, como ele gostava de repetir no fim da vida, como crítica aos intelectuais de esquerda que consideravam a emancipação das classes desfavorecidas como uma inevitabilidade histórica. Esse ponto de vista implica a concepção do ser humano como "histórico e inacabado" e consequentemente sempre pronto a aprender. No caso particular dos professores, isso se reflete na necessidade de formação rigorosa e permanente. Freire dizia, numa frase famosa, que "o mundo não é, o mundo está sendo".




                                                                                                          

Pedagogia do Oprimido - Paulo Freire

Pedagogia  do  Oprimido 

Paulo Freire 


Soraya M Marques contribuiu para análise da obra de Paulo Freire e afirma que A pedagogia do oprimido, como pedagogia humanista e libertadora, terá dois momentos. Distintos.
O primeiro, em que os oprimidos vão desvelando o mundo da opressão e vão se comprometendo, na práxis, com a sua transformação.

O segundo, em que, transformada a realidade opressora, esta pedagogia deixa de ser do oprimido e passa a ser a pedagogia dos homens em processo de permanente libertação.




O homem deve conhecer todo o mundo em sua volta, assim a antropologia deveria fazer parte integrante do contexto da educação de jovens e adultos.


De acordo a Soraya, alfabetizar é conscientizar, o educando deve refletir suas próprias palavras desta forma cria-se a cultura. “Não teme enfrentar, não teme ouvir, não teme o desnivelamento do mundo. Não teme o dialogo com ele, de que resulta o crescente saber de ambos”.  O “medo da liberdade”, não significa que o poder do dialogo possa trazer desordem, o que o homem tem medo é de enfrentar novas situações, transformações, isso faz com que o mesmo se acomode.

A justificativa da “Pedagogia do oprimido” mostra a busca e o empenho dos homens por uma libertação. Essa luta só tem sentido quando os oprimidos buscarem recuperar sua humildade e libertar-se dos opressores. Em um primeiro momento do descobrimento os oprimidos tendem a ser opressores, o que dificulta uma práxis libertadora, por terem uma visão individualista.
A liberdade é uma busca permanente .é uma conquista que exige força, responsabilidade e espirito de luta. Libertar-se de sua força exige, a imersão dela, a volta sobre ela. .É essencial que a práxis seja autentica para que exista a ação e reflexão sobre o mundo para transforma-lo.
Para que haja o oprimido é necessário que exista o opressor. E os opressores, por sua vez,  tem uma ânsia de posse, onde o poder de compra transforma tudo em sua volta, possuem uma concepção materialista de existência.
Os oprimidos são considerados como coisas, não possuindo direitos apenas deveres. sua libertação, passem a ter novos opressores. São considerados como coisas, não possuindo direitos apenas deveres. Dificilmente lutam , aceitam tudo o que lhe é imposto, são dependentes emocionais.
Ninguém se liberta , ninguém se liberta sozinho, os homens se libertam em comunhão.
Quando os oprimidos descobrem o opressor só então se engajam na luta por sua libertação, superando seus limites.
É necessário que a ação política junto aos oprimidos se faça por meio da  reflexão . E para que haja uma transformação faz-se necessário que o indivíduo (oprimido) tenha em mente sua responsabilidade só assim será liberto para criar, construir.
A relação professor-aluno é baseada nos falsos valores de que um sabe tudo e o outro nada sabe, cultivando-se assim o silencio e tolhendo-se a criatividade, estimulando assim o interesse dos opressores.
Segundo Soraya, a conscientização problematizadora e libertadora da “educação” e seus pressupostos esta principalmente no educador e educando para que haja relação de companheirismo entre ambos. E a  mudança, a reflexão, a ação, a transformação  só pode acontecer através da Educação Libertadora. Educação refaz-se na prática, onde a problematização é uma constante, onde o alunos passam a estar interagindo no processo educacional, para seu verdadeiro crescimento intelectual e cognitivo. E a  dialogicidade – essência da educação como pratica da liberdade. A essência do dialogo é a palavra. Mas, ao encontrarmos a palavra, na análise do dialogo, como algo mais que um meio para que ele se faça, se nos impõe buscar, também, seus elementos construtivos.
Esta busca nos leva a surpreender, nela duas dimensões : ação e reflexão, de tal forma solidaria, em uma interação tão radical que, sacrificada, ainda que em parte, uma delas, se ressente, imediatamente a outra. Não há palavra verdadeira que não seja práxis. 
A palavra inautêntica por outro lado, com que não se pode transformar a realidade, resulta da dicotomia alienada e alienante, pois não há denúncia verdadeira sem compromisso de transformação. Se é dizendo a palavra com que, “pronunciando” o mundo, os homens o transformam, o dialogo se impõe como caminho pelo qual os homens ganham significação enquanto homens. O dialogo é a exigência existencial que se solidarizam o refletir e o agir de sujeitos endereçados ao mundo a ser transformado e humanizado.
Não há dialogo se não há amor, não há dialogo se não há humildade, não há dialogo se não há uma intensa fé, não existe diálogo sem esperança ,finalmente não há dialogo verdadeiro se não há nos seus sujeitos um pensar verdadeiro, um pensar crítico. Sem ele não há comunicação e sem esta não há verdadeira educação.  Começa na busca do conteúdo programático em uma concepção como prática da liberdade, a sua dialogicidade comece, não quando o educador-educando se encontra em situações pedagógicas, mas antes, quando aquele se pergunta em torno do que vai dialogar com estes.
As relações homens-mundo, os temas geradores e o conteúdo programático será a partir da situação presente, existencial, concreta, refletindo o conjunto de aspirações do povo, que podemos organizar o conteúdo programática da educação ou de ação política. Nunca apenas dissertar sobre ela e jamais doar-lhe conteúdos que pouco ou nada tenham haver com seus anseios, com suas duvidas, com suas esperanças, com seus temores. Não é falar ao povo sobre a nossa visão do mundo, ou tentar impô-la a ele ,mas dialogar com ele sobre a sua e a nossa.
E na realidade mediatizadora, na consciência que dela tenhamos, educadores e povo, que iremos buscar o conteúdo programático da educação, neste momento se faz necessária a investigação que chamamos de conjunto de temas geradores que proporcione a tomada de consciência dos indivíduos em torno dos mesmos.
A investigação dos temas geradores e sua metodologia tem como objetivo propor aos indivíduos dimensões significativas de sua realidade, cuja analise crítica lhes possibilite reconhecer a interação de suas partes, neste sentido é que a investigação do tema gerador, que se encontra contido no “universo temático mínimo”, se realiza por meio de uma metodologia conscientizadora, além de nos possibilitar sua apreensão, insere ou começa a inserir os homens numa forma crítica de pensarem seu mundo.
Os temas em verdade, existem nos homens, em suas relações com o mundo, referidos a fatos concretos.
A significação conscientizadora da investigação dos temas geradoras e os vários momentos da investigação tem que se tornar um processo de busca, de conhecimento, de compreensão da totalidade que deve estar presente a preocupação pela problematização dos próprios temas . A investigação da temática envolve a investigação do próprio pensar do povo, assim toda investigação temática de caráter conscientizador se faz pedagógica e toda autêntica educação se faz investigação do pensar. A coleta de dados da investigação apresentará um marco no qual se encontrará uma temática de percepção crítica da realidade, a investigação temática se vai expressando como um que fazer educativo, como ação cultural. Após esta primeira investigação os investigadores estarão capacitados para organizar o conteúdo programático da ação educativa.
Segunda fase da investigação começa precisamente quando os investigadores, com os dados que recolheram chegam à apreensão daquele conjunto de contradições. A partir deste momento, sempre em equipe, escolherão algumas desta contradições, com que serão elaboradas as codificações que vão servir à investigação temática. As codificações consistem entre o “contexto concreto ou real”, em que se dão os fatos, e o “contexto teórico”.
Os indivíduos imersos na realidade, com a pura sensibilidade de suas necessidades, emergem dela e , assim, ganham a razão das necessidades.
Terceira fase da investigação são nos “círculos de investigação temática”
Do ponto de vista metodológico, a investigação que desde seu inicio, se baseia na relação simpática até sua fase final, a da analise da temática encontrada, que se prolonga na organização do conteúdo programático da ação educativa, como ação cultural.
Além do investigador, assistirão mais dois especialistas, um psicólogo e um sociólogo, cuja tarefa é registar as reações mais significativas ou aparentemente pouco significativas dos sujeitos descodificados. E os participantes,  pela força catártica da metodologia, uma série de sentimentos, de opiniões, de si , do mundo e dos outros.
A sua ultima etapa se inicia quando os investigadores, terminadas as descodificações nos círculos, dão começo ao estudo sistemático e interdisciplinar de seus achados. Feita a delimitação temática, caberá a cada especialista, dentro de seu campo, apresentar à equipe interdisciplinar o projeto de “redução” de seu tema. Com o mínimo de conhecimento da realidade, podem os educadores escolher alguns temas básicos que funcionariam como codificações de investigação.
Na sociedade em que vivemos com certeza fica bem claro quem são os opressores e os oprimidos, o que Paulo Freire cita é que estamos em tempo de mudar esta situação se cada indivíduo se libertar, buscando a superação de seus problemas com criatividade; E quando se trata de trabalhar com jovens e adultos ambos tem que ter a consciência de que .é possível mudar, deixando de ser oprimidos e passando a ser agentes transformadores.
Na educação “bancaria” o que se pode perceber .é a manipulação de pensamentos com um único objetivo oprimir. Em uma de suas citações ele deixa uma mensagem : “Ninguém educa ninguém, ninguém se educa sozinho(…) pois os indivíduos não são uma caixinha onde se deposita conhecimentos, mas sim um ser recriado do mundo.
Ter a consciência de si próprio é ter consciência do mundo. E isso pode acontecer através do dialogo , pois não há palavra verdadeira que não seja práxis.
Pedagogia do Oprimido  e currículo.
As palavras educação, currículo, e reforma têm uma história que parece andar de mãos dadas. Durante as últimas décadas, educadores e investigadores vêm trabalhando no sentido de desenvolver meios efetivos para resolver os problemas de nossa sociedade por meio da educação. Hoje, mais do que nunca, o currículo está sendo discutido em torno de assuntos emergentes relacionados ao movimento da pedagogia crítica e neo-marxista e vem se estruturando no que se caracteriza como a educação multicultural.
Nesta perspectiva, assume-se que o currículo deveria ser organizado em torno de aspectos multiculturais que incluem raça, gênero, diferenças individuais, classe social, problemas sociais, e justiça social. Este tom curricular ainda está sob as premissas de educação baseado em princípios inspirados por Freire determinadas como uma teoria crítica de currículo,o livro Pedagogia do Oprimido publicado por ele em 1970 foi a mola propulsora dessa teoria que enfatiza a libertação do indíviduo por meio do estudo crítico da realidade social, política e econômica, no sentido de conscientizar as diferentes classes e estruturas sociais para promoção da justiça social.
Neste sentido, a transformação da realidade seria inevitável, que por sua vez, levaria a humanização da sociedade em sua totalidade. Para tanto, novos currículos se faziam necessários já que o currículo tradicional, desconectado da realidade, “não pode jamais desenvolver a consciência crítica do educando“. Isto elevou atenção para perspectivas diferentes de compreender o currículo, como por exemplo, currículo como uma arena política, currículo para diversidade cultural, currículo para eqüidade de grupos desprivilegiados, e currículo para grupos estigmatizados baseado na pobreza.
Paulo Freire estabelece uma comparação entre o desenvolvimento e a prática do currículo tradicional e do currículo crítico emancipatório. Ele discute que o currículo tradicional conduz a alienação considerando que uma orientação crítica conduz à libertação ou emancipação do indivíduo.
O projeto curricular tradicional tende a ser estático e unilateral considerando que o plano curricular crítico é dinâmico e democrático. A concepção tradicional de currículo é “antidialógica” e opressiva, enquanto que a concepção crítica de currículo é dialógica e emancipatória. Nesta perspectiva, o modo opressivo de currículo demanda a alienação e a manutenção do status quo que, por sua vez, conduz à desumanização da sociedade.  Já uma perspectiva emancipatória do currículo desenvolve consciência crítica e transformação, e desta forma, leva a humanização da sociedade. Isto que Freire propôs (e experimentou) é um modelo de currículo a ser constituído como um projeto coletivo no qual a comunidade escolar inteira é envolvida, inclusive professores, estudantes, pais, administradores, e outros atores sociais da comunidade. Neste sentido, Freire expressa que:“Uma reforma de currículo nunca poderia ser algo feito, elaborado, e pensado por uma dúzia de experts cujo resultado final se transforma em pacotes curriculares que vêm de cima para baixo, e que por sua vez, devem ser executados igualmente de acordo com instruções e diretrizes elaboradas por estes iluminados. Reforma de currículo deve ser sempre um processo político-pedagógico e, substancialmente democrático.” Proposto uma estrutura curricular voltada às diferenças e interesses individuais e/ou grupais de cada contexto no sentido de promover justiça social e solução para os problemas reais do cotidiano, percebeu-se que isso atenderia ao que hoje se deseja por pais e professores, e até por vezes, numa atitude politicamente correta na retórica política e econômica; ou seja, educação numa perspectiva multicultural.
Neste sentido, uma proposta curricular com tais características provocaria uma ruptura com o paradigma curricular dominante ainda vigente nos bancos escolares, e o professor (claramente, o professor, indivíduo responsável pela implementação do currículo, é uma figura central no currículo defendido por Paulo Freire, pois trabalha no real mundo da escola, e como tal, entende o contexto no qual o currículo alternativo será implementado), então, passaria a desenvolver um papel crucial desde o início da constituição do currículo, bem como, membros da comunidade mais ampla.
Numa percepção das escolas como uma agência libertadora ou emancipatória, partindo da compreensão que a educação, é por ela mesma, um fenômeno emancipador, devemos pautar nossa prática pedagógica, em busca dessa perspectiva do oprimido, desse olhar que vê o mundo, epistemológica e politicamente, como espaço do mais-ser. Porque a “superioridade” da ciência, da arte, da religião e das demais formas de representação do oprimido está, exatamente, na sua admissão da mudança, na compreensão e aspiração da transformação social. Somente o oprimido tem o potencial que permite à humanidade avançar no sentido da mudança social, e  a Pedagogia do Oprimido é que permitirá e ou possibilitará a construção da Civilização do até então Oprimido.