Paulo Freire
Paulo Freire enquanto intelectual é um referência, um novo paradigma que rompe com a estrutura até então estabelecida na Educação.
Militância profunda nos movimentos sociais e culturais em relação ao campo pedagógico.
Militância profunda nos movimentos sociais e culturais em relação ao campo pedagógico.
Uma ruptura no campo sócio elitista, comprometimento, generosidade , idealização e esperança, essas são as premissas de Paulo Freire.
Estabelece oposição ao positivismo, uma corrente de pensamento filosófico, sociológico e político em que as superstições, religiões e demais ensinos teológicos devem ser ignorados, pois não colaboram para o desenvolvimento da humanidade, uma visão subjetiva em que busca encontrar o "sentido da vida", onde o imaginário e a criatividade humana se sobrepõe à racionalidade.
Não hávia uma preocupação com os motivos ou propósitos das coisas, mas sim como elas aconteciam; o processo, onde o grande idealizador August Comte afirma que , as ciências é que deveriam ser consideradas positivistas.
Paulo Freire em oposição a essa visão de mundo, que vê o conhecimento como algo neutro, livre de valores e objetivo, contesta e traz consigo uma valorização da cultura , afirmando que as pessoas se humanizam. Uma concepção do diálogo da alteridade, assim, pode se dizer que é a capacidade de se colocar no lugar do outro na relação interpessoal (relação com grupos, família, trabalho, lazer e a relação que temos com os outros, etc...), com consideração, identificação e diálogo, produzindo no indivíduo o desejo de liberdade, objetivando a libertação dos oprimidos na relação entre oprimido e opressor.
Freire em uma carta direcionada aos professores afirma que "ser professor é se posicionar, construir uma prática libertária".
O primeiro movimento social Freiriano acontece em 1960, - Movimento da Cultura Popular do Recife, com o inicio de proposta de uma educação popular. Embora tivessem diferenças em algumas especificidades, as discussões sobre cultura popular elaboradas pelos movimentos tinham em comum tomá-la como tema central e conceituá-la como um elo entre o homem simples e dimensão política da realidade social. Ou seja, concebiam a cultura popular como a realização, prática e ideal, de um projeto político, que parte da transformação provocada pelo homem no seu meio entendo-a como cultura, de que historicamente lhe foi negado o direito a conhecer,interpretar e modificar, tanto a cultura das elites, quanto a sua cultura, costumeiramente depreciada em comparação à cultura do opressor.
“A consciência do problema do desnível cultural nas sociedades implica, necessariamente, a consciência do desnível de ordem social, econômica e política, implicando, por isso mesmo, uma tomada de posição na superação desses desníveis Cultura popular surge, portanto, como problema ideológico e assume uma posição de luta pela transformação dos padrões culturais,sociais, econômicos e políticos que asseguram aqueles desníveis” (MCP. In: FAVERO, 1983, p.77-78).
Num outro momento afirma que “Estudar seriamente um texto é estudar o estudo de quem, estudando, o escreveu. É perceber o condicionamento histórico sociológico do conhecimento. É buscar as relações entre o conteúdo em estudo e outras dimensões afins do conhecimento. É buscar as relações entre o conteúdo em estudo e outras dimensões afins do conhecimento. Estudar é uma forma de reinventar, de recriar, de reescrever – tarefa de sujeito e não de objeto. Desta maneira, não é possível a quem estudo, numa tal perspectiva, alienar-se ao texto, renunciando assim à sua atitude crítica em face dele.” (FREIRE, p. 10, 1977).
Com isso Paulo Freire possibilita acesso, inclusão e realiza forte campanha de alfabetização no contexto politico social , afirmando que a educação popular pode e deve inspirar as políticas públicas da educação. É um movimento que surge de fora da escola e que foi posto como referência, modelo, base e que deveria ser trabalhado dentro das escolas, democratizando a Educação Popular, para a camada popular.
Uma visão dotada de princípios emancipatórios, ética, onde se afirma que à escola não ´o único espaço educativo, a cidade também educa e precisa estar equipada para que o conceito se efetive, ganhe força, partindo do pressuposto de que toda educação pressupõe um projeto de sociedade. Com isso Freire recusa a linha de pensamento fatalista, concepção de nada vai mudar. Visão determinista, construída por grupos de interesse, construída pelo tempo, pela história.
Neste sentido, pode-se dizer que a conscientização nasceu e desenvolveu-se entre os movimentos de cultura popular como uma proposta de formação educativa coletiva com ênfase nas apropriações das pessoas envolvidas – enquanto sujeitos concretos – sobre os problemas constitutivos de sua realidade social. Identificando estas apropriações, fazia-se possível problematizá-las a fim de o grupo conseguisse coletivamente chegar às causas históricas desses problemas e elaborar soluções que envolvessem os mesmos.
Sua perspectiva pedagógica não se volta exclusivamente ao manejo das ferramentas didáticas, nem se localiza entre as teorias que discutem a educação unicamente desde princípios universais norteadores, mas circunscreve entre as leituras de realidades sociais vistas como campo de mediação de relações pedagógicas, em que a dimensão educativa é criada na comunicação entre sujeitos a respeito de sua experimentação e socialização no/com o mundo.
Neste sentido, Freire enfatizava que na educação havia um papel central e revolucionário, cujo momento histórico oferecia uma oportunidade ímpar, com as mudanças sociais em curso que diretamente afetavam a educação, com mobilização do pelo direito de estudar que as próprias campanhas alfabetizadoras encampavam e que punha em questão as dissintonias e conflitos de visão de mundo entre as elites, tradicionais gestores do expediente educativo, e a população que reivindicava acesso à educação. Freire ressalta aí a fundamental importância da participação popular na elaboração do projeto educacional do país.
Para Paulo Freire as mudanças, as transformações tem por base à ética, a democratização, garantindo a participação, o acesso, a permanência, com qualidade, a politicidade do ato político e o respeito a dialogicidade do ato educativo. Calcado nas palavras geradoras: investigação; tematização e problematização.
Na investigação, pesquisa sociológica, coletiva, conjunta, dotada de significados para o aluno, sua essência, o que faz parte do seu mundo, do seu modo de vida, o que realmente o interessa, o cativa, o desperta.
Na tematizaçao, na tomada de consciência do mundo, após investigação, despertando no aluno , fazendo com ele se depare com o que acredita, perceba, e a partir disto faça uma investigação critica.
Na problematização, após tematização, mostrar ao aluo que existe a possibilidade de transformação, que se dá a partir da tomada de consciência, dá superação da visão ingênua, partindo para uma visão crítica.
Não é ensinar a ler palavras, mas ler para compreender realidade, o que está inserido, contextualizando aquela palavra que até então parece simples e que de uma palava se pode ir muito além. Essa consciência ingênua tem caráter saudosista pois ninguém tem que aceitar tudo passivamente.
É preciso superação da vida ingênua.
Aquele individuo que não se satisfaz com as aparências, com a superficialidade, que acredita que a realidade é imutável, pode ser socialmente alterado já que é uma construção histórica. É a relação causa e efeito.
A educação para a consciência crítica faz o possível para livrar-se dos preceitos sejam eles de raça, etnia, religião, gênero, repele toda transferência de autoridade , ela não foge aos problemas e é indagadora. Busca soluções, busca alternativas, assumindo uma postura política, sem opressão, e não pode mais ser privilégio de grupos elitistas, sempre dentro de uma perspectiva de ação e reação. Denúncia de uma sociedade existente e a vontade de uma sociedade futura melhor, a partir de uma tomada de consciência.
A crítica política anunciada por Freire em sua primeira obra é acentuada em Educação como prática de liberdade (1975), onde o aspecto pedagógico dessa crítica se alia à experimentação didática e metodológica dos seus trabalhos de alfabetização. Assim, é importante destacar a conceituação que Freire faz do homem como “ser de relações e não só de contatos, que não apenas está no mundo, mas com o mundo” e que, na mediação de intencionalidade com a natureza realizada pela ação, recria o mundo como terreno da cultura, em que as mudanças provocadas sobre a natureza ganham significado e realizam a humanidade do homem.
Ler a palavra para ler o mundo.
O homem é um ser histórico e portanto inacabado. Inacabado porque pode tornar-se, vir a ser, transformar e transformar infinitamente... E tudo acontece através da politicidade, por meio do diálogo, da troca, do processo de simbiose, do que se tem e do que se pode vir ter.
Freire fala do conceito de alteridade e afirma a importância de se respeitar aquele que se difere, reconhecendo no outro que há uma troca, que se constrói com o outro, enfatizando a importância da valorização do outro, do que ele traz consigo, da interação, da troca, da contribuição cultural que se estabelece para a construção da identidade. Uma relação próxima, dentro de uma perspectiva de igualdade, ombreada, coletiva.