Na Práxis da Educação Popular

Na Práxis da Educação Popular

Antonio Fernandes Gouveia da Silva




"(...) vivemos num mundo confuso e confusamente"

"Para se construir a humanização é preciso reconhecer a desumanização" Paulo Freire

A chamada globalização e suas mudanças no processo produtivo, desencadeia processos de desconstrução de melhorias, onde o capitalismo desapropria, tira, reduz a noção de trabalho a emprego, explorando e extraindo do indivíduo o máximo de sua condição, uma corrida pela sobrevivência, uma constante busca em prol de uma ideologia do consumo.

A revolução tecnológica resultante do desenvolvimento das forças produtivas permitiu, contraditoriamente, um controle ainda maior dos processos de trabalho por parte dos detentores e, consequentemente, aumento da alienação dos trabalhadores, Um espaço modelado onde os indivíduos se tornam robôs, capazes de consumir dócil e vorazmente. Numa mera reprodução do que vê, do que esculta e consequentemente absorve.

Daí a importância de uma Educação Libertadora, partindo da realidade concreta e das ideologias desconstruindo, desmistificando e esclarecendo, fruto da consequência de uma opção de modelo de desenvolvimento adotado desde meados de 1990. 

Um estado organizador da vida em sociedade.

Um grupo insensível, autoritário e desumano, aliado aos capitalistas.

Percebe-se que o espaço virtual possui a dimensão do que  "aqui" onde não há espaço para o distante ou o próximo, o invisível, a indiferença. O que realmente interessa é o "agora", onde também não há o antes e o depois, o passado e o futuro, o escoamento e o fluxo temporal.

Ora, as experiências de espaço e tempo são determinantes de noções como identidade e alteridade, subjetividade e objetividade, casualidade, necessidades, finalidades,acaso, liberdade, contingência, desejo, virtude e vício. E tudo isso deixa de ser operante quando nos tornamos virtuais, manipulados e conduzidos, um poder criador da realidade. 
A onipresença, promovendo desenraizamento, massificação e alienação.

Daí a necessidade de uma educação problematizadora, que faça o indivíduo refletir, questionar, desvelar, perceber e reconhecer, onde tudo ocorra numa concepção dialógica.
                                          
É esta informalidade somada ao ensino formal, técnico-científico que deverá fazer parte do cotidiano escolar. Estabelecendo relação entre educação, trabalho e vida social um espaço de compreensão da vida para além da formalidade, com objetivos e finalidades  dentro de um contexto de alteridade. Um país justo e solidário.

A revolução se constrói cotidianamente, a educação como prática social pode manter e ajudar a enfraquecer assim como fortalecer as estruturas injustas, com finalidade humanizadora. por meio do diálogo , sem deixar de lado os estudos científicos, porém ,  partindo da realidade concreta do individuo.
E de que modo os agentes sociais, governo federal, estados e municípios contribuem para que tais intervenções aconteçam!? 

Essa realidade se  dá de maneira institucional e maiormente social. Por outro lado consiste em todos esses fatos e todos esses dados e mais a percepção que deles esteja tendo a população envolvida, Uma relação dialética entre o objetivo e o subjetivo.

Problematização  -  Planejamento  -  Ação

Com a disciplina da leitura e organização do pensamento, o leitor vai aos poucos descobrindo e aprendendo sobre a trama pedagógica que transforma educador e educando em sujeitos do processo educativo. Dotados de saberes diferentes, porém , não inferiores ou superiores uns em relação aos outros.

A educação se torna libertadora quando pautada pelo diálogo, onde se escuta as falas significativas, onde os questionamentos são considerados, pois não havendo diálogo, nossa relação se dará sobre e não com o individuo. É uma relação de causa e consequência, um " efeito dominó", onde se desvenda/supera, desvenda/supera. atentando-se que a educação sozinha, sem contextualização não faz transformações, não promove mudanças.

Numa Educação Freiriana dentre os afazeres, destaca-se o momento participativo de se organizar e planejar/organizar as atividades, com critérios adotados para a seleção de conhecimentos,  metodológicos, intencionalmente significados, desencadeador de um pensamento e posicionamento crítico e prático em relação as necessidades e contradições existentes. Consciente e intencional, de maneira explícita, assumindo gradativamente uma intervenção pedagógica emancipatória na prática sociocultural e econômica, onde parte-se do conflito, tira-se da zona de conforto, contextualiza e transforma, a partir do diálogo entre saberes, rompendo com a dissociação entre o saber científico e a cidadania, até então dominante. Aqui, a apreensão do conhecimento é construída coletivamente, a partir da análise das contradições vivenciadas na realidade local. que estão comprometidos com a construção de uma prática sócio cultural crítica, justa, igualitária, superando os obstáculos ideológicos, predispondo-se a análise da realidade imediata, arquitetando fazeres transformadores.

Se fazer um levantamento da realidade local, do que é significativo naquele espaço, elaborando questões, planejando para intervir e por fim , norteando o trabalho. O levantamento é a busca de dados estatísticos; econômico; cultural; linguístico e político. Considerando a realidade local como ponto de partida, fazendo uma reconstrução articulada. 

Demanda registrar concepções de mundo e sistematizar discussões em seus diferentes momentos de análise da realidade problematizada. Sem esse registro pode-se tornar bancária, onde só se deposita ou então pragmática, onde só se determina.

Sistematizando a denúncia das relações de poder  e de interesses hegenômicos, escarnoteadas e incobertas pela ideologia arraigadas nas práticas socioculturais tradicionais.

Para Paulo Freire a conscientização não está baseada na cisão entre consciência e mundo, mas na relação entre ambos, no ato de "tomar posse da realidade", cisão nos termos em partes para que voltando-se a ele, como totalidade, melhor conhecê-lo". Há um processo sucessivo de aproximação e distanciamento, das contradições em que os indivíduos estão envolvidos.
Uma consequência da análise da realidade sempre dentro de um processo dialógico, norteando o caminho, balizando as alterações, convergindo e ´propiciando a interação entre os conhecimentos a partir da demanda , analítica das partes , fragmentadas, epistemológicas, relacionais e históricas e a realidade local. Uma rede de relações, promovendo consciência crítica participativa.

Ensinar exige rigorosidade metódica pois, " A leitura verdadeira me compromete de imediato com o texto que a se dá e a que me dou e de cuja compreensão fundamental me vou tornando também sujeito".

Pensar certo e não estar demasiadamente certo de nossas certezas. Entrar no ciclo gnosiológico, onde o ensino em que se ensina e se apreende.  Se ensina o conhecimento já existente e o que se trabalha a produção do conhecimento ainda não existente. 
Dodiscência: doscência/discência, práticas concebidas por estes momentos gnosiológicos,

Intervindo no mundo vamos conhecendo o mundo, ao ser produzido o conhecimento novo e se faz "velho" e se dispõe a ser ultrapassado por outro amanhã. Precisamos estar abertos e aptos á produção do conhecimento ainda não existente.  "Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago".

Faz parte da prática docente a indagação, a busca , a pesquisa."pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo , educo e me educo."

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