Lúcia-Já-Vou-Indo

Lúcia-Já-Vou-Indo

Maria Heloísa Penteado


Essa história é uma graça! Entretanto o que mais me chamou a atenção é o fato de uma amiga de trabalho achar que esta simpática e graciosa lesma, se parece, e muito, comigo. Vejam só!!
É lógico que o comentário me deixou curiosa. Logo pensei, o que será que tem nesta história que remete a minha pessoa. como se não bastasse tal comentário, outra professora, ouvindo, confirmou, afirmando que , realmente, eu tenho certa semelhança com a personagem. Mas, deixa prá lá! O que interessa é que a história é uma graça! 
A personagem é encantadora e , consequentemente, também sou!

Lúcia Já Vou Indo não conseguia andar depressa.
De maneira nenhuma. Andava devagar, falava devagar, chorava e ria devagarinho e pensava mais devagar ainda.
Muito natural, pois ela era uma lesma.
Um dia Lúcia-Já-Vou-Indo recebeu um convite para uma festa. Levou o dia inteirinho para ler o bilhete que dizia assim:  “Chispa-Foguinho, a libélula, convida você para uma festa dançante, embaixo do Pé de Maracujá, às oito horas da noite do dia 30 de janeiro. Comes e bebes, muita música, muita alegria, tudo do bom, do melhor e de graça”.
Mal acabou de ler, Lúcia já  foi se preparando para a festa.
Queria se pôr a caminho imediatamente, embora faltasse ainda uma semana.
-Juro que vou chegar na hora!- Disse para si mesma. E começou a lembrar  as muitas festas que havia perdido por chegar sempre atrasada. Ao aniversário da Maroquinha Cocinela, que era sua vizinha, chegou um dia depois da festa. Ao casamento do grilo João das Pintas com Sarapintada, chegou tão tarde que foi encontrar um casal já com um filhinho.
Nesse instante, o relógio da sala bateu três horas da tarde e Lúcia Já Vou Indo teve um sobressalto.

(...)

Chegou o dia da festa e ela ainda estava andando. Pelo caminho encontrou muita gente que também ia pra lá. Viu dona Içá, com a cinturinha apertada num cinto de fivela de ouro, de braço dado com o marido,  de camisa listada e boné. Viu Lili Taturana, toda besuntada de brilhantina para que seus pelinhos não ficassem arrepiados. Viu Zé Caramujo de cachecol xadrez enrolado no pescoço. Viu às formiguinhas Quem-Quem numa longa fila, comportadas e quietinhas como meninas de orfanato a passeio num domingo. Viu abelhas, besouros, pernilongos, vespas e mil outros bichinhos. Todos passavam por ela e sumiam ao longe.
-Depressa , assim você não chega! – Diziam de passagem.
E ela dizia devagarinho mastigando um brotinho de alface:
-Já Vou Indo... Já Vou Indo... – E se esforçava, pensando que estava andando um bocadinho mais depressa.
Que engano! Quase não saía do lugar.

Enfim, ela começou a ouvir a orquestra das cigarras. Estou pertinho, pensou, mais algumas horas e estou lá.
E o seu entusiasmo era tamanho que até conseguia de fato, andar um pouquinho mais depressa.
-Olha a pedra no caminho! – Gritou nesse instante João-Barata do Mato, que também estava indo pra festa.
Aviso inútil, porque Lúcia-Já-Vou-Indo a viu muito bem.

(...)

Mas Lúcia não achou graça nenhuma. Chorou muito, o seu chorinho vagaroso de lesma: uma lágrima por hora, um soluço a cada meia hora.
Chorou, chorou, mas seu choro manso não conseguiu acordar a libélula Chispa-Foguinho que dormia cansada da festa. Ela só escutou o chorinho da lesma no outro dia quando acordou.
- O que será isso? – a libélula disse e foi espiar. Viu a pobre Lúcia chorando, compreendeu tudo e ficou morrendo de pena.
Foi buscar uns docinhos que sobraram da festa e ofereceu-os à Lúcia. Conversou bastante com ela para ver se a consolava, e nada. 

(...)

Pela primeira vez na vida, Lúcia-Já-vou-Indo assistiu a uma festa inteirinha, do começo ao fim.



E , MESMO QUE O TEXTO E AS IMAGENS NÃO ESTEJAM NA ÍNTEGRA, POR CAUSA DOS DIREITOS AUTORAIS, VALE MUITO A PENA CONFERIR!

Nenhum comentário:

Postar um comentário