DITOS POPULARES METAFÓRICOS ANIMALESCOS
As metáforas animais são avaliadas por Kövecses (2010) como o terceiro domínio-fonte mais produtivo das Metáforas Conceptuais presentes em nosso sistema conceptual. Nessa perspectiva, tal autor estima que, além de boa parte do comportamento humano parecer ser compreendido em termos de comportamento animal, isto é, pela Metáfora Conceptual comportamento humano é comportamentoanimal (doravante, MC comportamento humano é comportamento animal), pessoas seriam igualmente conceptualizadas em termos de animais, isto é, pela MC ser humano é animal, a exemplo de expressões em português: ‘A jararaca chegou’; ‘Não sei como ela se casou com aquele cavalo batizado’; ‘Ele é um verme’; ‘A vaca da minha chefe não veio hoje’.
Kövecses (2010) pondera ainda que, apesar de grande parte das metáforas animais parecerem mapear características negativas dos seres humanos, algumas dentre elas não o fariam, a exemplo de mulher sexy , "gatinha".
E considerando o papel social das metáforas animais, de acordo a Kövecses (2005), a metáfora é um fenômeno linguístico, conceptual, sociocultural, neural e corpóreo. Esse autor afirma ainda que foi preciso que ocorressem algumas revoluções para que os estudiosos do assunto reconhecessem essas várias facetas da metáfora. Nessa perspectiva, Rodriguez (2009) argumenta contra o caráter neutro ou, ainda, marcadamente universalista das metáforas.
E AQUI FICARÁ O REGISTRO DE ALGUNS DITOS POPULARES, QUE DIA A DIA FALAMOS E NEM PERCEBEMOS QUE ESTAMOS FAZENDO USO DE METÁFORAS ANIMALESCAS.
VOCÊ TEM OLHOS DE ÁGUIA - PESSOA QUE ENXERGA TUDO
ELE TEM ESTÔMAGO DE AVESTRUZ - COME DE TUDO
É UMA COBRA ENROLADA - TRAIÇOEIRA
GATO ESCALDADO TEM MEDO DE ÁGUA FRIA- PESSOA DESCONFIADA
NEM QUE A VACA TUSSA- NÃO VEM QUE NÃO CEDO
CAVALO DADO NÃO SE OLHA OS DENTES - ACEITA SEM FAZER COMPARATIVOS
DE GRÃO EM GRÃO A GALINHA ENCHE O PAPO - É ECONOMIZANDO QUE SE TÊM
UMA ANDORINHA SÓ NÃO FAZ VERÃO - SOZINHO NÃO SE CONSEGUE NADA
TRABALHO DE FORMIGUINHA - DEVAGAR E SEMPRE
QUEM FALA DEMAIS DÁ BOM DIA A CAVALO - TORNA-SE DESAJUIZADO
PAGUEI O MAIOR SAPO - DEI UM FORA ENORME
MÃE CORUJA- MÃE SUPER PROTETORA
SEU ANTA - SEU IDIOTA
PARECE UMA LESMA- É MUITO PESSOA MUITO DEVAGAR EM TUDO QUE FAZ
QUANDO A PORCA TORCE O RABO - QUANDO SE PASSA DO LIMITE
OLHA! BOCA DE SIRI - ISSO É UM SEGREDO
FILHO DE PEIXE, PEIXINHO É - TAL PAI , TAL FILHO - HÁ SEMELHANÇAS
SEU ABELHUDO - PESSOA CURIOSA E INDISCRETA
PARECE UMA TARTARUGA - ANDA MUITO DEVAGAR
É UM RATO - É UM LADRÃO
PARECE BARATA TONTA - PESSOA INDECISA, INQUIETA
SEU JUMENTO! SEU ESTÚPIDO
SAI FORA JACARÉ - NÃO VÉM QUE NÃO TEM
SHII , DEU ZEBRA - ALGO DEU ERRADO
LÁGRIMAS DE CROCODILO - FALSIDADE
ESSA PESSOA TEM SANGUE DE BARATA! É INQUIETA
ESCREVEU, NÃO LEU, O GATO COMEU - PERDEU A VEZ
A VACA FOIU PRO BREJO - PERDEU ALGO OU A VEZ
ESSE BRIGA FEITO CÃO E GATO - ESTÁ SEMPRE BRIGANDO
DEU COM O BURRO N'ÁGUA - PERDEU A VIAGEM
ELA TEM MEMÓRIA DE ELEFANTE - TEM BOA MEMÓRIA
EITA VIDA DE CÃO - VIDA DIFÍCIL
SEU CAVALO - SEU ESTÚPIDO
PARECE UMA MOSCA MORTA- PESSOA SEM ATITUDE
É UM GATUNO - ELE É UM LADRÃO
ELE AÉ UM GATO - ELE É LINDO
O GATO COMEU SUA LÍNGUA? - VOCÊ NÃO QUER FALAR?
SEU BALEIA - SEU GORDO
FALA QUE NEM UM PAPAGAIO - FALA DEMAIS
SEU ASNO - SEU IMBECIL
CADA MACACO NO SEU GALHO - CADA UM NA SUA. SEM INVADIR O ESPAÇO ALHEIO
TOCO DE AMARRAR JEGUE - PESSOA PEQUENA, BAIXA
QUE BURRICE - NÃO SABE NADA
ELA EMPACOU - ELA NÃO SAI DO LUGAR
NEM QUE A VACA TUSSA - NEM ADIANTA QUE NÃO VOU CEDER
PARECE UM GALO DE BRIGA- ENCRENQUEIRO E BRIGUENTO
TÔ COM UMA FOME DE LEÃO - COM MUITA FOME
DEIXE DE MACAQUICE- PARE DE PULAR
Por outro lado, de acordo com Gibbs (1994), a linguagem figurada ou ainda as metáforas verbais são dominantes na comunicação cotidiana, sobretudo porque, além de elas se constituírem em principal recurso para expressão verbal humana, permitiriam que os usuários elaborassem suas ideias da maneira mais eficiente, compacta e nítida, facilitando, assim, as interações verbais nas quais se encontrariam engajados. Além disso, segundo Rodriguez (2009), as metáforas animais teriam forte influência na compreensão e construção de identidades sociais e de gênero, a exemplo das metáforas animais relativas à conceptualização da mulher e de sua condição social nas línguas de tradição inglesa e espanhola.
Este texto acima foi retirado do artigo intitulado " As Metáforas animais e suas implicações interacionais, por Fernanda Cavalcanti e Ana Cristina Pelosi e a contribuição na busca e interpretação de alguns ditos populares que fazem parte do contexto cultural do povo brasileiro.
2016_art_fccavalcantiacpsmacedo.pdf (ufc.br)
Ao defender que as metáforas sofrem influências de componentes comportamentais e ideológicos, Rodriguez (2009) advoga que as metáforas animais seriam exemplos de metáforas que projetam experiências relativas à construção de identidades sociais e de gêneros. Assinala, assim, que muitas dessas metáforas formulam e motivam conceitos a respeito da condição feminina, a exemplo da conceptualização de mulher como gata, pomba, franga ou cadela nas línguas inglesa e espanhola.
Com efeito, Rodriguez (2009) ressalta o caráter negativo das conceptualizações de mulher em termos de animal, ao considerar que tais metáforas seriam motivadas por crenças e valores de determinado grupo de indivíduos, representado pelo macho branco e heterossexual, que, ao se constituir em cânone social, estabelece determinados grupos de indivíduos, a exemplo das mulheres, como marginais. Em outras palavras, Rodriguez (2009) considera que as metáforas pessoas são animais seriam recursos cognitivos que projetariam conceitos depreciativos a respeito das mulheres e demais grupos de indivíduos, como os dos imigrantes, que contrariam a ordem canônica representada por grupo de indivíduo representado pelo macho branco heterossexual.