Modernidade Líquida
Autor- Zygmund Bauman
A era fluida , transformadora e livre de escolhas...
A vida vista sobre um outro ângulo , como que vista da janela, de longe, de cima, do alto, fora desse contexto social...
Talvez como espectador e ou expectador, como um grande observador. Atento a mínimos detalhes da essência, da nata social, rica, média ou pobre. É assim que vejo Zygmund Bauman, simplesmente maravilhoso!
Essa leitura é um convite a reflexão sobre o que nos cerca .
Os ideais, as oportunidades e as escolhas ou pelo menos que parecem ser escolhas. Uma sociedade demarcada por estratégias sócio-adaptativas, resultante de um processo histórico-evolutivo, criado através das interações entre fatores biológicos e culturais em meio a crescente complexidade da vida em grupo.
Na visão do autor, o sociólogo Zigmund Bauman a modernidade expressa-se concretamente na política e na cultura, afirmando novas formas de organização social e novos parâmetros de sociabilidade – contemporaneidade – tudo é fugaz, efêmero, a era dos supérfluos na matéria.
Não ao sentimento profundo, ao vínculo.
O
líquido, diferentemente dos sólidos, não
mantém sua forma com facilidade. Os fluidos não
fixam espaço nem prendem o tempo, propensos a mutações, eles simplesmente : fluem, escorrem, esvaecem, respingam, transbordam, vazam, inundam,
pingam...E, quem quer uma sociedade
congelada, estagnada, resistente ao tempo?
Emancipação,
repúdio ao passado histórico, ao agrado, as tradições. Esmagamento da armadura
protetora forjada de crenças e lealdades que permitiam que os sólidos
resistissem a liquefação.
E
como aperfeiçoar esse sólido – moldar – tornar-se alterável?
Os
tempos modernos encontram os sólidos pré-modernos em estado avançado de
desintegração - E como administrar isso - Que tal começar eliminando as
obrigações “irrelevantes” que impede a via de cálculo racional dos efeitos - a
família - e da densa trama das
obrigações éticas. As responsabilidades mútuas, deixando toda a complexa rede
de relações sociais no ar, desprotegida, impotente.
Um
campo aberto para a dominação, invasão
frente a uma operação suave e contínua.
Esse
derretimento levou a uma progressiva libertação da economia de seus
tradicionais embaraços políticos, éticos e sociais.
Bauman nos afirma que ao
invés de uma sociedade dentro de um processo rígido, agora, ele é livre de escolhas e que por causa dessa liberação, dessa flexibilização, da fluidez crescente, do
descontrole dos mercados financeiros, imobiliários, familiares, trabalhistas, agora desengajados,
onde articulam-se entre si o desejo por mudanças. Virar a mesa, arriscar, soltar as
amarras.
Um novo sentido em redirecionamento.
Redistribuição
e relação de poderes em âmbito familiar, trabalhista e social.
Os
indivíduos foram libertados de sua velha gaiola para serem admoestados e
censurados, seguindo ideologias, grupos, regras e modos de conduta tidos como apropriados e
corretos.
Emancipação,
individualismo, organização tempo e espaço. Aspectos entrelaçados e
dificilmente distinguidos das experiências vivida pelos individuos.
Quando
a distância percorrida numa unidade de tempo passou a depender da tecnologia,
de meios artificiais de transporte, há de se considerar, refletir , reconhecer que todos os limites, a velocidade do movimento
sejam eles existentes ou herdados,
poderiam, em princípio, serem transgredidos.
A
velocidade do movimento e o acesso a meios rápidos de mobilidade e comunicação chegaram, nos
tempos modernos, sendo está a posição de principal ferramenta do poder e da
dominação.
O
poder se tornou verdadeiramente extraterritorial, não mais limitado nem
desacelerado pela resistência do espaço. No espaço, contudo, pode haver
controle absoluto.
O
mundo deve estar livre de cerca, barreiras, fronteiras fortificadas e qualquer
rede densa de laços sociais, e em particular que estejam territorialmente
enraizados, aparentemente intocáveis, estes serão obstáculos a serem eliminados.
"Fixar-se ao solo não é tão importante se o solo pode ser alcançado e
abandonado à vontade, imediatamente ou em pouquíssimo tempo. Por outo lado,
fixar-se muito fortemente, sobrecarregando os laços com compromissos mutuamente
vinculantes, pode ser positivamente prejudicial, dadas as novas oportunidades
que surgem em outros lugares."
Bauman afirma que a emancipação ao fim de três décadas gloriosas acontece.
De que devemos nos emancipar? Libertarmos dos grilhões da sociedade, do peso, do sólido.
De que devemos nos emancipar? Libertarmos dos grilhões da sociedade, do peso, do sólido.
Onde
haja a participação de todos. Onde todos acreditam estar de alguma forma participando, opinando, construindo. Sendo ouvido, sendo considerado.
Não
a meta mais sem a massa.
A
relutância do mundo, da sociedade em se submeter, em perceber o mundo “real”,
constrangedor, limitante e desobediente. Livre para agir conforme os desejos e
possibilidades, ampliando a capacidade de ação, onde as intenções passam a ser
experimentadas.
Liberdade
subjetiva e liberdade objetiva – até onde posso , até onde quero, até onde
consigo, até onde terei livre arbítrio. Até onde preciso ir a fim de alcançar
tais objetivos, até então limitados a determinados grupos, assumindo os
resultados sejam eles favoráveis ou não! Ou, aparentemente favoráveis...
Uma
mudança como que por encanto, de riscos e de coragem, de vontade. Uma liberdade
“conquistada”. A liberdade tem um preço
a se pagar, querendo ou não assumir os riscos que lhe cabem, assim como as
responsabilidades. Responsabilidades estas que numa sociedade livre não precisa ser muito considerada, não a curto prazo...
Nasce
dessa emancipação o individuo que agora tem , age, estabelece e aparece. Tem
autonomia e age sobre ela. Porém, abandonado aos seus próprios recursos, onde
se submete à sociedade, a determinados grupos, ideologias, como que fisgados. E essa submissão é a condição para sua libertação.
Há
de se considerar que a falta de limite torna a vida detestável,
brutal e curta.
A
coerção social é uma filosofia à força emancipadora.
Padrões e rotinas impostas por pressões sociais condensadas, despercebidamente traçadas, poupam essa agonia, graças a monotonia e a regularidade de modos de conduta. (levemente/discretamente/lentamente).
A rotina pode apequenar o individuo mas, também pode proteger.
Padrões e rotinas impostas por pressões sociais condensadas, despercebidamente traçadas, poupam essa agonia, graças a monotonia e a regularidade de modos de conduta. (levemente/discretamente/lentamente).
A rotina pode apequenar o individuo mas, também pode proteger.
Submeter-se
a sociedade e seguir suas normas e a ausência ou falta de clareza, de reflexões sobre o que está por detrás, o que virá adiante, os resultados dessas normas é e será a grande questão.
A
proposta é uma vida de impulsos e momentânea, de ações de curto prazo e
destituída de rotinas sustentáveis. Uma vida sem hábitos, destituídas de
passado e de futuro – uma modernidade fluida – uma existência desarraigada da
sociedade frente aqueles que até então determinavam seu comportamento e suas
ações.
As
instituições estão dispostas a deixar a iniciativa individual. O cuidado com as
definições e identidades e com princípios
universais com os quais convém rebelar- se, estão em falta, em curso, sem amarras
determinantes e definidoras de identidades. E, o que está disponíbilizado para
recomendações são: camas de motel (prostituição), divãs (psicólogos), sacos de
dormir (andarilhos),a disposição das efemeridades sociais, das escolhas , do futuro tido como incerto.
Uma
sociedade que se diz livre de questionamentos e de justificativas.
Uma
análise complexa frente aos resultados dessas ações tornou-se irrelevante,
obsoleta e desnecessária. Inóspita para a crítica, que não abre espaço à
critica – um lugar aberto a todos, livre de escolhas e atitudes.
Cada
indivíduo seguindo seu itinerário, sem atribuições, sem deveres, sem
questionamentos, sem satisfações, sem interferências. Sem espaço â
interferências.
Uma
profunda transformação do espaço público, agora dotado de leveza,
espontaneidade, fluido, permissivo.
A
sociedade pesada da era capitalista, de Henry Ford, Karl Max, Focault - sistemática, impregnada de teorias
totalitaristas , onipresente, ameaçadora – uma verdadeira "Guerra Santa" a todas
essas anormalidades, abrindo espaço a era moderna, incluindo toda
espontaneidade e iniciativa individual, dotada deutonomia e liberdade que só a burguesia tinha, só a
elite.
E há de se considerar que estás escolhas se tornam bem diferenciadas se comparada uma condição com a outra. Um indivíduo com condições financeiras desfavoráveis se diferencia e muito daquele que muito tem e que dê alguma forma consegue driblar resultados, resultantes de suas ações, ao contrário daqueles que uma vez na escolha, muitas das vezes não consegue retroceder, reverter e se restabelecer e ou se arrepender e querer ou poder voltar atrás.
O
panótipo, sobre a ótica de uma câmera as escondidas e o controle rigoroso,
atento a tudo e a todos .
Lugar onde os limites da maleabilidade humana são testados – a palavra de ordem era desarmar e neutralizar, controlar e direcionar. Então, surge uma teoria crítica, fluida, de auto firmação, do direito de ser, de ter, de aparecer.
Lugar onde os limites da maleabilidade humana são testados – a palavra de ordem era desarmar e neutralizar, controlar e direcionar. Então, surge uma teoria crítica, fluida, de auto firmação, do direito de ser, de ter, de aparecer.
A
modernidade sempre existiu, século após século, com os avanços. Porém a
modernidade fluida, compulsiva e obsessiva, inefreável e sempre incompleta é a
que estamos inseridos nos dias atuais.
A
busca constante e insaciável de uma criatividade destrutiva em nome de um novo e
aperfeiçoado projeto de desmantelar, defasar, reduzir o individuo.
O
que o homem faz o homem pode desfazer.
Estar
sempre à frente de si mesmo, ser incapaz de parar e ainda menos capaz de ficar
parado no tempo e no espaço.
Uma identidade que só pode existir como projeto de
não ficar, de não realizado, incompleto, com muito ainda por fazer.
É
complexo demais uma sociedade boa, sem conflitos, isso é passado ! Essa busca por equilíbrio agora é individual,
não mais social.
Astúcia,
vontade e poder são para as partes e não
para o todo. Para os fortes.
Se
espelhe em alguém , observe, seja criativo.
Lute pelos seus ideais.
Participe e faça suas próprias escolhas.
Lute pelos seus ideais.
Participe e faça suas próprias escolhas.
No
mundo dos indivíduos há apenas outros indivíduos e meros exemplos a serem
seguidos, ou não!
Assuma-se,
responsabilize-se, invista. (celebridades são os exemplos) .
"A apresentação dos membros como indivíduos é a
marca registrada da sociedade moderna. Essa apresentação, porém, não foi uma
peça de um ato: é uma atividade reencenada diariamente. A sociedade moderna
existe em sua atividade incessante de
“individualização”, assim como as atividades dos indivíduos consistem na
reformulação e negociação diárias da rede de entrelaçamentos chamada
“sociedade”.
A
sociedade dos indivíduos forma a individualidade de seus membros, e os
indivíduos formando a sociedade a partir de suas ações na vida, enquanto seguem
estratégias plausíveis, na rede socialmente tecidas de suas dependências.
A
apresentação dos membros como indivíduos é a marca registrada da sociedade
moderna, reencenada diariamente, incessantemente, reformulada e renegociada na
rede de entrelaçamento chamada “sociedade”. O indivíduo faz parte da sociedade,
portanto é preciso se inserir, tornar-se, fazer parte, agir compulsivamente.
Aderir, emancipar-se.
A
individualização já não é uma escolha, é uma fatalidade.
"Não se engane: agora, como antes – tanto no estágio leve e
fluido da modernidade quanto no sólido e pesado -, a individualização é uma
fatalidade, não uma escolha. Na terra da liberdade individual de escolher, a
opção de escapar a individualização está decididamente fora da jogada."
As
que ficam doentes foi por indecisão, por
falha.
Se
ficam de fora foi por escolha, incompetência, porque não se esforçaram o
suficiente. Colocando no indivíduo a responsabilidade, a culpa pelo fracasso.
Oportunidades,
a vida possibilita !
Basta querer !
Acredite!
Basta querer !
Acredite!
O
indivíduo é corresponsável por suas escolhas e consequentemente pelos
resultados, pelos riscos enfrentados solitariamente. E manuais de instruções é
o que não faltam. Dicas de sobrevivência são repassadas pela mídia, pelos meios
de comunicação quase que diariamente, todavia, a ferramenta é você. Agora, se
vai saber usá-la, só o tempo dirá.
Na
terra da liberdade individual de escolher a opção de escapar á individualização
e de se recusar a participar desse “jogo” está decididamente fora da
jogada.
Imposição, não! DIRECIONAMENTO.
Imposição, não! DIRECIONAMENTO.
Não
há espaço para uma sociedade pública, com espaços públicos, onde o coletivo
está em questão. Fragmentou-se, cada qual seguindo seu rumo.
As
únicas duas coisas úteis que se espera e se deseja do “poder público”, onde o
coletivo está em questão, são que eles observem os “direitos humanos”, isto é,
que permita que cada indivíduo siga seu próprio caminho, e que permita que todos os faça em “paz”, protegendo
a segurança de seus corpos e posses.
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