CARTA DE INTENÇÕES NA EDUCAÇÃO INFANTIL

  CARTA DE INTENÇÕES PARA A  EDUCAÇÃO  INFANTIL



Na Educação Infantil a proposta de trabalho prioriza a observação, o olhar atento, aguçado, a escuta, a participação e à ludicidade da criança junto as especificidades para o  desenvolvimento dos saberes pela e para a  criança,  de forma ampla e subjetiva.






Na carta de intenções, agora inserida no Projeto Político e Pedagógico, estabelece e descreve a proposta de trabalho de cada professor para sua sala,  de acordo ao perfil de sua sala, seus alunos, seu espaço, suas especificidades.

Aliada ao Currículo Integrador da Infância Paulistana (SÃO PAULO, 2015) que apresenta a documentação pedagógica como a possibilidade de comunicar as vivências e aprendizagens na e para a infância, valorizando seu protagonismo, sua autoria e, também, o protagonismo docente. E, que se dá por meio da qualificação dos registros já realizados, de novas proposições acerca desses e da reflexão sobre as práticas, que se almeja no uso efetivo do conceito de documentação pedagógica na Educação Infantil da Rede Municipal de Ensino de São Paulo.

Esta carta precisa estar em consonância com o "Diário de Bordo" que por sua vez, substitui o semanário,   que tem sido compreendido como um caderno contendo o registro e planejamento diário, semanal, com a descrição das atividades trabalhadas e a serem trabalhadas e com a sinalização dos espaços, tempos e materiais que serão necessários para a realização das atividades. No que se refere ao semanário, geralmente, uma folha do caderno contém uma diagramação que a divide em cinco dias e cada dia é subdivido em horas para receber os registros das atividades planejadas. Esse instrumento de registro tem sido muito utilizado e, por isso, há necessidade de qualificá-lo e até mesmo , substituído, se oportuno, pelo "Diário de Bordo", que se diferencia pois não exclui o planejamento das aulas, porque ambos são de extrema importância para o trabalho pedagógico. Enquanto o planejamento é mais institucional e oficial, no diário, o professor tem mais liberdade de escrita, tem que se preocupar somente com aquilo que está sentido com relação à sua turma e às suas ações.

O ideal é que os registros sejam feitos todo dia, pois dessa forma terão maior fidedignidade e garantirão a riqueza e os detalhes do que está acontecendo na prática do professor ou com as crianças.

Porém, às vezes, em decorrência da falta de tempo, podem ser feitos semanalmente, mas o mais importante é que eles ocorram. 


Um poderoso instrumento de avaliação que acompanha a evolução do processo educativo da criança. Registrar significa expressar de forma documental um fato ou um acontecimento, ou seja, é uma maneira de marcar, mencionar, anotar esses acontecimentos e fatos. Dessa maneira, o que é dito, falado, passa, pois as palavras são passageiras, entretanto, o que é registrado permanece, comprova, documenta, cria memória e história.

Nesse contexto, o registro na educação infantil se torna um instrumento importantíssimo para criar e recriar a prática educativa a cada avanço no processo de construção do conhecimento e desenvolvimento de cada criança.

Ele permite a reflexão, objetiva e novos direcionamentos, redirecionamentos e realinhamentos do trabalho do professor. Além disso, o registro auxilia na conscientização quanto à função docente, pois à medida que escrevemos organizamos o pensamento, recuperamos detalhes, criamos uma lógica para os fatos, uma ordem de estrutura e de memória, o que propicia um processo reflexivo sobre o contexto e sobre a própria prática docente, que auxilia o processo de avaliação do desenvolvimento de cada criança de forma integral. 
  
O diário tem a função de garantir o diálogo intrapessoal. Nele são registrados fatos ocorridos e sentimentos inerentes a esses acontecimentos, como dificuldades, facilidades, dúvidas, surpresas, conquistas, entre outros.


Não existem regras para se escrever o diário. Ele tem uma característica muito pessoal de quem o escreve. Em determinado momento, a escrita pode ser sobre uma criança; em outro, sobre a atividade realizada, individualmente ou em grupo, sobre a organização do espaço e sobre os materiais em sala de aula. O professor ainda pode registrar no diário como se sente sobre o desenvolvimento e a reação da turma frente a uma atividade proposta, entre outras coisas que achar pertinente registrar.
  

A elaboração do planejamento em forma de semanário pode facilitar a visualização da organização dos tempos, espaços e materiais das atividades planejadas, da periodicidade de projetos, do encadeamento das atividades permanentes e da distribuição das atividades esporádicas.

Nas primeiras semanas de aula do ano letivo já se tem a possibilidade de construir , mesmo que superficialmente, uma prévia de cada criança, de suas curiosidades, anseios, saberes e pré disposições, assim como de suas necessidades , desafios com os quais nos deparamos em meio aos diferentes campos de observação.  Até porque, já nas primeiras semanas faz-se um olhar  a fim de mensurar especificidades individuais e coletivas. Tais especificidades e ou conceitos advindos do que já esta proposto e estabelecido considerando as Diretrizes Curriculares Nacionais, sejam eles de ordem : ética, social e estética.

Éticos: da autonomia, da responsabilidade, da solidariedade e do respeito ao bem comum, ao meio e às diferentes culturas, identidades e singularidades.
Políticos: dos direitos de cidadania, do exercício da criticidade e do respeito à ordem democrática.
Estéticos: da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade e da liberdade de expressão nas diferentes manifestações artísticas e culturais. 

Baseando-se nesses preceitos o que se pretende é promover ações que garantam ao professor um trabalho pautado pelo planejamento frente a cada criança, suas  possibilidades de interações e situações de conhecimento de si e do mundo, e que a escola é uma parte de seu universo . Lugar de experimentar, aprender, apreender, promover trocas, na certeza de que enquanto se ensina, se aprende, absorve e repassa experiências. 


Às múltiplas linguagens , sejam elas  plástica, gestual, verbal, musical, dramática, lógica, experimental devem compor os desafios diários e, não desconsiderando a importância da linguagem escrita e oral, sem intencionalidade alfabetizadora, mas reconhecendo que os sujeitos nascem imersos em um universo letrado do qual fazem apropriações e oferecer diferentes suportes e materiais que possibilitem este tipo de interação é objetivo do trabalho na unidade de educação infantil.

Experiências dentro e fora do espaço escolar, através dos quais vivenciem diferentes propostas de atividades em meio as brincadeiras, ao Campo Dirigido, ao Faz-de-conta, das Leituras de história, do uso de Fantasias, do passeio a Sala de Leitura, enfim, de inúmeras possibilidades de exploração dos diferentes espaços, assim oferecidos, assim garantidos.
Processo este que se dá pela troca, pelo olhar atento, observador, contínuo, entrelaçando teoria e prática, atento aos  questionamentos , as indagações e do contexto em si. 

A transformação do meio a partir das ações e das diferentes possibilidades de registros para que se possa  construir conceitos próprios, significativos, elaborados, planejados. 
Desta forma, o ambiente precisa ser um facilitador e é por isto que nos propomos a criar situações nas quais as crianças possam buscar por si a superação de obstáculos encontrados, em meio aos inúmeros desafios lançados.

Dar voz e vez as falas infantis é permitir-se oferecer situações de construções e perceber-se parte deste universo.

E como o planejamento é estruturado, mas não estático, é possível brincar com elementos e curiosidades integrando-nos com as demais turmas. Ora acrescentando, ora repensando os objetivos e trazendo diferentes opções ao contexto, ao trabalho , a proposta, ao processo de ensino e aprendizagem. Práticas cotidianas que (re) direcionam o fazer pedagógico. 

Trabalho em pequenos grupos; Aprendizagem coletiva como essencial; Respeito a individualidade; a cultura;   Ação, reflexão, ação; Pesquisa; Interdisciplinaridade; Organização, planejamento; Registro; Propostas de intervenções; Escuta do adulto-criança e criança-criança, valorizando falas e pensamentos, sem Unilateralidade; Representatividade sem julgamentos ou tabulações classificatórias; Intencionalidade.

Atentando à importância da rotina para o desenvolvimento da criança, estruturamos nossos tempos da seguinte forma:
Entrada/Acolhimento: Momento no qual as crianças são recebidas, organizam seus pertences e escolhem o lugar no qual desejam trabalhar, assim como os colegas com os quais iniciará o dia.
Roda da Conversa: Destinada à troca de percepções, acontecimentos e partilha de vivências, leitura e músicas. Há abertura para que o grupo sugira atividades com as quais gostaria de trabalhar e a dinâmica da roda.

Indicação do ajudante, função de importância à criança dentro e fora d sal de aula , por gerar sensação de pertencimento e responsabilidade.

Chamada: Para além do potencial dos nomes próprios na alfabetização, usamos os crachás e às listas de chamada para trazer a percepção de identidade, singularidade e concepção do sujeito no grupo.

Cantinhos de Atividades Diversificadas: Além da organização da rotina, a função dos cantos ou ateliês é possibilitar ao aluno  interação, trocas de conhecimentos, capacidade de negociação e outras formas de incentivar à independência dela, em especial,  pelo fato das trocas serem baseadas na negociação entre os pares, com a construção de argumentos baseando-se nessas trocas. 

Parque é o espaço de brincadeiras e socialização sem muitas intervenções.

Campo Dirigido é o espaço que possibilita maior interação com a natureza e maior liberdade ao movimento, à necessária interação da criança com os elementos e total liberdade ao corpo, nisto incluímos: subir nas árvores, brincar com bola, subir e descer, escorregar com papelão, brincar com água, fogo, espaços para faz-de-conta, brincadeiras de roda, enfim, todas as possibilidades de liberar o corpo e seus movimentos.

Atividades Dirigidas para hipóteses de escrita, desenhos, jogos de lógica, recorte, modelagem, pintura,  colagem e demais atividades que estimulem a motricidade, a organização, o raciocínio lógico, articulação de ideias e atenção à produção individual são atividades permanentes, presentes no cotidiano escolar.

Tem-se também o empréstimo de livros: A proposta do empréstimo visa despertar e ou proporcionar à criança o prazer da leitura, a possibilidade de escolha e a partilha de um momento de leitura com a família.

Na alimentação diária , cada criança tem a oportunidade de se servir, tem a possibilidade de exercer escolhas. Selecionar o alimento a ser consumido, ter autonomia, a percepção de direito e a capacidade de eleger o que é necessário ou não.  Isto associado ao  estímulo à experimentação de alimentos não tão comuns em sua alimentação regular e a proposta da escola.

O momento do uso da TV pode ocorrer de diferentes formas: a pedido da criança, dentro do planejamento da semana, acolhendo filmes infantis trazidos pelo grupo e socializando em períodos curtos , em especial, no momento da saída.

Dia do Brinquedo: Pensado como um momento de socialização e interação com objetos que tenham significado para a criança. Orientamos aos pais que não enviem peças de estimação ou alto valor para evitar perdas eventuais.

À carta de intenções propõe um trabalho que considera os saberes da criança, sua ampliação e valorização de forma lúdica.

Daí a importância da Documentação Pedagógica .

 Carta de Intenção é um dos registros que faz parte da Documentação Pedagógica , que por sua vez, contém múltiplos registros, evidenciando o cotidiano, o embasamento teórico por meio da observação e das ações do professor e do aluno, uma ação conjunta, mediada por diferentes registros, alicerces, construções que norteiam o trabalho pedagógico. 
De acordo a Mônica Appezatto Pinaza e Sérgio Folk, um registro funcional, com intencionalidade e busca por resultados, com alto grau de observação. 

E temos como base, como referência para esse entendimento, Reggio Emíllio que está a frente no quesito Documentação Pedagógica, tanto no âmbito da pesquisa acadêmica, quanto das práticas educativas, garantindo a construção de uma memória educativa, evidenciando os modos como as crianças constroem essas memórias, sua identidade, suas práticas, alicerçando propostas curriculares para todos os níveis educacionais, apropriando-se de práticas para além da nossa realidade.
Reggio Emillio aponta que o relato do Diário de bordo precisa servir para algo, pró-reflexão, pró-aprendizagem, relação causa e efeito, ação-reflexão- ação e não um mero registro, aleatório, sem foco, sem fins .  Necessita de um olhar atento, capaz de orientar o planejamento, as ações e o monitoramento do processo educativo, funcional.

É preciso considerar que o registro diz muito de quem o escreve. Ele aponta o que se faz, o que se valoriza, como se faz, ou seja, sua proposta de trabalho e a busca por resultados, e os resultados alcançados. Esse registro, para tornar-se um documento, parte do princípio da reflexão.
Não pode haver limitada potência informativa. 
Nem todo registro gera documentação pedagógica, mas toda documentação pedagógica depende, precisa estar alicerçada em registros. Sistematicamente, e que norteia o trabalho que seja dotado de sentido.
Pontua-se avanços no processo de ensino e aprendizagem, na interação, na socialização, nos resultados, na busca , nas intervenções didáticas dotadas de intencionalidades, que por sua estão sendo pensadas e repensadas ao longo do processo, algo em movimento.
A intervenção não dá conta da aprendizagem, a mediação também não, mas os registros , as reflexões e análises faz com que se tenha um norte, diante daquele percurso traçado.
Em busca de informações, respeitando o tempo do aluno, o espaço de aprendizagem, o contato com a família, fazendo com se sintam parte deste processo, onde as informações,  as formações , os registros e os resultados, alicerçam as aprendizagens e apresentando resultados mediante o que foi oferecido e como foi oferecido. O que foi considerado e oportunizado.
É preciso envolvimento, e quando há reflexão sobre a ação, garante-se um caráter investigativo, construído em conjunto, pautado nos resultados dessas ações, alicerçado, onde os fins justificam os meios, onde a parte "ruim" não pode sobressair as evoluções, onde é preciso enxergar algum avanço, algo positivo.
A intencionalidade necessita estar evidente e a escrita do relatório evidencia todo esse  trabalho do professor, revelando o planejamento assim como os resultados, o percurso e as ações/intervenções, evidenciando as conquistas ou a busca por novas ações.

È preciso refletir e considerar sobre :
Quem vai ler este documento?
A quem ele será direcionado?
A quem o assunto interessa?  Família, responsável, escola, médico ...
O registro está respaldado para que em outros momentos, outros lugares, se tenha informação deste aluno, ou seja, há diferentes registros, diferentes contextos, comprovação?
Os argumentos estão pautados na realidade do aluno, da escola, do espaço, do momento em questão...

E diante de todo este aparato, a Carta de Intenção, limita-se ao professor e a sala.
Um documento abrangente, para além do plano de aula, complementar, oficial. 

E assim sendo, tanto o professor, quanto a coordenação, quanto a direção apresenta sua Carta de Intenção, para que quem esteja chegando à escola, entenda este processo que é parte do plano anual da escola, que consta no PPP. E a  data para entrega é junto ao PPP.




Sendo assim, o planejamento pedagógico busca abranger as necessidades e as curiosidades  do grupo e oferecer oportunidades de aprendizagem que viabilizem este processo. Ressaltando  que avaliar o trabalho efetivo e documentar pedagogicamente não se limita a selecionar.

Todas as interações são elementos observáveis e passíveis de avaliação deste fazer pedagógico. Objetivando encontrar questões pontuais nas falas das crianças, registrando-as em caderno específico os momentos que mais se firmaram, como , por exemplo, perguntas e sugestões das crianças. Isto acarretará em registros para os apontamentos acerca do desenvolvimento infantil .

Registros escritos e fotográficos comporão um portfólio do grupo que facilitará o acompanhamento de interessados em ter um panorama maior da implementação do semanário como prática e expansão do registro, documentando-o.  Mas o olhar atento precisa ser o parâmetro do educador e “aceitar” que a criança tenha seu espaço e que este precisa ser reconhecido, é primordial. E em se tratando de registros, além do Diário de classe, há também o caderno de anotações de situações pontuais para melhor perceber a criança em sua essência. 

Outro documento que viabiliza esse trabalho conforme mencionado consiste no Diário de Bordo, um recurso facilitador ,um instrumento de acompanhamento dessas ações por meio do qual a coordenação pedagógica compreende o que se passa com bebês, crianças e professoras(es) nos diferentes ambientes da UE, validando a qualidade das experiências vividas por eles.

E , com o tempo as diferentes linguagens, a escrita , as inúmeras possibilidades de aprendizagens cotidianas junto às reflexões substituem o planejamento clássico da semana e surgem outras estratégias de planejamento do dia, afinal as pistas sinalizadas nos registros docentes vão dando margem a novas propostas, ideias,  que se materializam por meio do trabalho com diferentes registros e ou por assim dizer, projetos.

Para além de tudo o que foi apresentado, o diário pode ser um bom apoio à memória, no qual a(o) professora(or) pode buscar formas de compreensão para as experiências vividas. 
O processo de agir, refletir sobre a ação e replanejar, re-significar, traçar novas estratégias,  à medida que se analisam os acontecimentos, e esse conhecimento é utilizado em outras situações vivenciadas.

O principal objetivo do diário de bordo é a explicitação do saber-fazer docente. 

Portanto, planejar é necessário e observar, registrar e avaliar o processo, torna-se  essencial.

Quanto ao Diário de Bordo, parte da leitura foi retirada do Blog - Tiamarcinhainfantilblogspot- e trouxe consigo, esclarecimentos quanto a esse importante suporte de registro, fator preponderante na projeção da  Carta de Intenção de acordo a Base Curricular alinhada ao Currículo da Cidade  e as Normativas para a Educação Infantil.